And he cried over nothing

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Eram duas crianças estúpidas e inconsequentes. Isso era suposto ser típico naquela idade, afinal, tinham doze anos de vida e mal tinham ciência do quanto seus atos podiam impactar alguém.

Kaveh e Alhaitham eram dois alunos exemplares, certa parte dos professores achavam estes dois prodígios; o loiro era mais apto em lógica e exatas, enquanto o outro garoto se dedicava as escritas e estudos mais subjetivos. Tinham objetivos diferentes, mas ambos compartilhavam outras várias coisas. Apesar de competirem por tudo, eram bons amigos. Nunca passaram de apertos de mãos, já que achavam estranho abraços e coisas do tipo. "Isso não é coisa de criança, Haitham!", Kaveh sempre dizia, por mais que um abraço não fosse nada demais. Talvez ele fosse um pouco egoísta demais para não ter que admitir que gostava disso e sempre quis receber um abraço do melhor amigo, mas não o fazia por vergonha.

Naquele dia em específico, os dois assistiam a aula juntos e fariam uma prova logo após a revisão do conteúdo. Como as mesas eram próprias para dois alunos, era de se esperar que fizessem as atividades em duplas, e não seria diferente naquela vez. Apesar de terem ideia do que cairia na avaliação, Kaveh estava com um certo medo, visto que acabou por não estudar. Não foi porque ele não queria, mas porque sua mãe havia ficado extremamente doente e ele era a única pessoa com quem ela poderia contar. Infelizmente, o pai do loiro havia falecido anos atrás, deixando os dois com uma boa renda e um bom imóvel, mas aquilo não cobria a falta que ele fazia na vida da família. Assim, Kaveh ficou por aprender a cozinhar coisa ou outra e ajudar na limpeza da casa para não sobrecarregar sua mãe. Alhaitham não sabia do ocorrido, então, ao fazer a prova, estressou-se completamente por ver o loiro tão desnorteado e não ajudando em nada. Por mais que Kaveh tivesse pedido, o garoto acabou por alertar a professora o "descaso" do amigo, que teria de esperar a recuperação para poder ganhar o restante da nota.

O sinal tocou e todos saíram apressados das salas, querendo o mais rápido ir para casa. No entanto, Kaveh puxou o braço do amigo, que ainda era um pouco menor que ele, e perguntou o motivo daquilo tudo.

— Por que você fez isso? A gente é amigo, Haitham! — O maior falou indignado.

— Você sempre fica se aproveitando de mim pra fazer as coisas. — Alhaitham falou sem ligar muito. — Você me deixou fazendo sozinho a prova! Você deveria ter estudado também. A culpa é sua por não ter feito isso.

Por mais que aquilo fosse verdade, os olhos do maior se encheram de lágrimas. Alhaitham nunca havia dito algo assim e aquelas palavras doeram em seu peito.

— Mas, Haitham, eu posso explicar! — Tentou engolir o choro e continuar a conversar normalmente.

— Não quero falar agora, eu quero ir pra casa. — Seco, respondeu.

— Eu te pago um sorvete se você me deixar falar!

— Kaveh, eu não quero. — Virou-se para sair, mas o maior segurou mais uma vez seu braço. Ele soltou com força. — Você sempre vai ser um loirinho burro.

Em sua cabeça, aquilo não era nada demais, afinal, eram só... palavras. No entanto, não parecia mais ser isso.

Kaveh olhou com os olhos mais marejados que antes e algumas lágrimas saíram de seus olhos, o que deixou Alhaitham confuso e chocado. Ele tentou fazer o mesmo ao puxar o amigo, mas o maior foi mais rápido e saiu andando apressado. Não tinha muito o que fazer; ele já estava longe.

O acinzentado, sentindo-se culpado, tentou ir na casa do loiro, já que viviam perto um do outro e não seria uma grande viagem, mas não obteve respostas. Simplesmente ninguém o atendeu, até mesmo no telefone da casa. Dando aquilo como encerrado, o garoto apenas voltou para sua casa.

No outro dia, estava se sentindo mais confiante para fazer as pazes com o amigo. Havia comprado um laço vermelho e uma boina verde antes de ir para a escola, pois queria mostrar que Kaveh era importante e que não era um loiro burro como havia dito. Sabia que ele gostava muito de seu cabelo longo, Alhaitham gostava também, porque era incrivelmente sedoso e brilhoso, além de ser ótimo para testar qualquer tipo de penteado. Estava ansioso para vê-lo e entregar os presentes.

Mas, o destino, às vezes, é travesso e Alhaitham pôde entender isso ao ver o garoto chegando no pátio. Estava mais cabisbaixo que o normal, andando em direção ao corredor, mas aquilo não fora o que chocou o acinzentado. Ele, então, correu até Kaveh, chamando-o e virando-o para si. Ambos se encararam por alguns segundos; Kaveh havia cortado seu lindo cabelo loiro fora. O cabelo que antes chegava até os ombros, agora estava, no máximo, próximo as suas orelhas. Alhaitham se deu conta que talvez palavras pudessem machucar. O maior apenas ignorou e foi ao encontro de Tighnari, um de seus amigos, para estudarem juntos. Alhaitham se sentiu deslocado. Ele sentiria falta, por mais que aquilo não fosse nada demais, as coisas simplesmente ficaram diferentes depois de Kaveh cortar seu longo cabelo. Talvez ele fosse o burro e nada podia ser feito.

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⏰ Última atualização: Oct 10, 2023 ⏰

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