As Cores da Timidez

I - 3 anos atrás

Aurora era uma adolescente de doze anos que recentemente havia se mudado para uma nova vizinhança com sua família. Ela era uma jovem cristã, curiosa e muito observadora, sempre ansiosa para explorar os arredores. No seu primeiro dia morando na casa nova, enquanto brincava no quintal, ela notou uma movimentação na casa ao lado.Curiosa, Aurora se aproximou da cerca que separava as duas propriedades e olhou atentamente. Foi a primeira vez que ela viu sua vizinha, uma mulher jovem e simpática chamada Clara, seu cabelo era castanho e bem curto, ao seu lado havia outra mulher que aparentava ser um pouco mais nova, chamada Sofia, com uma aparência angelical e os olhos da cor de café. Clara e Sofia conversavam animadamente enquanto riam.Aurora não fazia ideia de que vida elas levavam, estava encantada com a amizade delas e como pareciam se dar tão bem. Ela continuou observando, sem entender completamente o assunto e assumiu que bem poderia ser sobre garotos ou até mesmo sobre sua mudança. Então, ela tomou coragem e decidiu que chamaria atenção de ambas as garotas, ali mesmo da cerca, afinal, não havia nada melhor do que fazer amizades novas, já que ela havia acabado de se mudar e não conhecia ninguém. Foi então que algo inesperado aconteceu. Clara e Sofia se aproximaram uma da outra, e seus olhares se encontraram de uma maneira diferente. Elas se inclinaram e trocaram um beijo. Aurora engoliu em seco, espantada. Aquele não era como um beijo que ela via nos desenhos animados. Na verdade,  Aurora nunca tinha visto duas pessoas se beijarem daquela forma. Ela não entendia completamente o que estava acontecendo e mesmo sentindo que não deveria estar ali, a menina não conseguia parar de olhar, mesmo  sobrepondo as duas mãos em seu rosto, mantinha seu olhar nas duas mulheres entre os dedos. 

Aurora então se virou e lentamente entrou dentro de casa. Inocentemente, chamou por sua mãe, ansiosa para compartilhar sua mais nova descoberta. Sua mãe estava organizando algumas caixas e não estava prestando tanta atenção na euforia de Aurora até ela mencionar ''beijo'' e ''duas mulheres''. Naquele momento o rosto de sua mãe começou a ficar vermelho, uma expressão séria a fez cortar todo o falatório de Aurora. Sua mãe suspirou profundamente, buscando as palavras certas para explicar a reação dela. Ela então se ajoelhou ao lado de Aurora, segurando suas mãos."Querida, não é que eu esteja brava por você ter visto isso", começou sua mãe, "é só que algumas pessoas têm opiniões diferentes sobre isso, e nem todos entendem ou aceitam essas situações. O que você viu é algo...como posso dizer, indecente para sua idade, e mal visto aos olhos de Deus, você entende?''

 Aurora não a questionou  em nenhum momento, mas, seu coração continuava agitado. Após sua mãe pedir para que ela fosse para seu quarto e esperasse a hora do jantar, Aurora deu uma boa olhada na janela, e notou que lá de cima era impossível não ver o quintal de sua vizinha, em algum momento aquela cena poderia se repetir. Ela suspirou, fechou a cortina e deitou-se em sua cama, imaginando como seria a sensação de ser beijada, e o mais intrigante, por outra garota.