Prólogo

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Prólogo
26 anos atrás...




Eu odiava ele.

Eu não entendo a maneira que ele me trata assim, eu não tenho idéia e nem entendo o motivo por ele me odiar tanto.

Eu sou apenas uma criança. Por que meu pai não gostava de mim?

— Pra que um garoto de nove anos quer uma arma? — encaro o cara mais velho.

Engoli em seco sem abaixar a cabeça pra ele. Sabia que era o gerente daqui, mas não ia sair daqui sem essa arma.

— Eu quero matar meu pai.

Eu disse que ia matar ele e eu vou matar ele.

— Tu é aviãozinho daqui, chegou esses dias e já tá querendo portar uma arma moleque?

Ele tentava me intimidar, mas o ódio que eu sentia por aquele cara que se dizia meu pai, era maior.

— Eu vou matar ele e depois venho trazer sua arma.

Encaro minhas mãos que recentemente estavam com queimaduras que ele tinha feito. Meus braços marcados pela corda que ele me batia, sem contar na minha barriga onde uma vez ele tinha tentado me matar, mas não conseguiu, apenas deixou a marca da faca na minha barriga, uma cicatriz feia.

Nas costas eu tinha as marcas do cinto que ele me dava toda vez que eu voltava sem dinheiro para sustentar seus vícios.

Eram assim.

Todos os meus dias com ele, era assim.

E eu jurei que ia matar ele depois daquele dia.

— E tu quer ir até na favela rival e subir pra matar teu pai? — concordo.

Antes eu morava no Jacarezinho, depois do dia que ele acabou com a minha vida e me expulsou de casa como se eu fosse um nada. Eu iria até o jacarezinho e mataria ele.

Sim, eu mataria ele.

— Moleque, fica aqui no complexo mermo, fica aí no teu trabalho que tu não vai sair vivo de lá — outro diz enquanto tinha o baseado em mãos.

Não tinha usado aquilo ainda, muitos caras a minha volta usavam, ainda mais quando eu ia trabalhar de aviãozinho. Confesso que eu tenho a curiosidade de saber qual era o gosto e como era.

Já que pra eles usarem tanto, deve ser algo bom.

— Eu quero a arma pra matar ele.

Digo convicto, ninguém vai mudar meu pensamento.

— Caralho... Tu também hein, tem uma semana que chegou nessa porra e tá achando o quê? — ele pega na minha nuca pra machucar — Tu tá achando o que porra?!

Ele grita, sinto os respingos da sua baba na minha cara.

— Eu quero matar ele.

Falo olhando em seus olhos.

Por longos minutos ele apenas me encara, seu sorriso estende de lado e não sei do que estava rindo...

— Isso vai ser bom pra crescer no meio do tráfico — ele fala com o cara ao seu lado — Pode se dá muito bem — me olha com os olhos brilhando.

Os dois me encaravam rindo. Um cochicha no ouvido do outro e apenas concorda pegado a arma.

— Se liga garoto, qual teu nome?

— Marcelo.

Respondi ele.

— Marcelo, gostei, mas a partir de hoje tu não usa mais teu nome — apenas os dois sabiam o meu nome agora — Vou te dá essa arma aqui, sabe manusear?

Dois Lados (morro)Onde histórias criam vida. Descubra agora