Não queria ir à escola. Estava frio e nevava, parecia que a neve iria engolir as casas. Não gostava do inverno, o frio me incomodava. Sempre lembrava dos dias sombrios de quando voltava para minha casa e ela estava vazia. Era só eu, a casa e o frio.
Ainda sonolento passei na cozinha, na esperança de ver minha mãe cozinhando ovos mexidos para mim, mas ela não estava lá, não mais. Faz três anos que ela se foi e ainda a espero toda manhã, ela mantinha essa casa viva e aquecida durante o tempo frio.
Tudo o que sobrou dela foram memórias e suas fotos espalhadas pela casa espaçosa.
O bilhete que meu pai deixou na mesa no dia anterior ainda estava ali, ''Viagem à negócios, tem comida na geladeira'', e sempre que abro a geladeira há marmitas iguais em todos os compartimentos.
Essa era minha rotina, a minha solidão virou minha companhia.
Peguei uma das marmitas e comi às pressas, o ônibus estava prestes a passar pela minha casa.
Assim que ouvi buzinas peguei minha mochila apressado e corri até o transporte. Essa era a pior parte do dia, aturar os garotos fazendo piadas sem graça por todo o trajeto. Caminhei tropeçando até o assento de sempre, evitando os alunos barulhentos.
Quando me sentei, um garoto sentou ao meu lado, ele me cumprimentou com a cabeça e fiz o mesmo, ele parecia nervoso. Tinha cabelo escuro e olhos claros, usava um casaco de um tecido que parecia barato, mas charmoso, e quando olhei para o que estava vestindo fiquei envergonhado, estava tão apressado que esqueci de vestir algo mais apresentável.
Ficamos em silêncio, até ele quebrá-lo.
- Qual o seu nome?
- Alenor - Respondi ainda processando se era comigo. - E o seu?
- Ethan.
- Nome legal.
***
- Ei! Solji!
Abri meus olhos, o meu empresário estava me chamando irritado.
- Você ouviu algo do que eu falei?
- Não... poderia repetir?
Eu não estou mais na Itália. Já não tenho 14 anos mais, e já não tenho notícias de Ethan à anos.
Faz exatamente dez anos desde que ele sumiu, mas ainda fecho os olhos e penso como seria se Ethan tivesse ficado, eu provavelmente não teria me sabotado tanto.
Estava em uma ligação de voz com meu empresário, mas acabei dormindo. Ainda sonolento, peguei a cartela de cigarros que estava sobre a mesa, mas estava vazia. Larguei ela e sentei no sofá.
- Eu estava falando que eu já te inscrevi na próxima competição.
- Certo.
- Leva mais a sério, ela vale muito dinheiro, você precisa dela.
Fiquei em silêncio.
- Você precisa praticar, já decidiu a música?
- Sei lá, Campanella?
- Faça o que quiser, mas pratique! Você só escolhe músicas difíceis
- Mas mesmo assim ganho uma grana, não?
- Tanto faz, vou precisar desligar.
Ele desligou, joguei o celular no sofá e pensei em ir praticar, mas estava faminto. Queria ir em um mercado, mas duvidaria algum estar aberto à meia noite.
Decidi ir até alguma loja de conveniência mais perto. Calcei umas sandálias e vesti um casaco, fui mesmo de pijama, afinal, as ruas deveriam estar vazias.
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10 Anos Depois do Inverno
RomanceUm reencontro de destinados que nunca deviam ter se separado. Um romance, difícil, reflexivo e frio, talvez o inverno seja mais quente com companhia.