01. Kreutzer

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Não queria ir à escola. Estava frio e nevava, parecia que a neve iria engolir as casas. Não gostava do inverno, o frio me incomodava. Sempre lembrava dos dias sombrios de quando voltava para minha casa e ela estava vazia. Era só eu, a casa e o frio.

Ainda sonolento passei na cozinha, na esperança de ver minha mãe cozinhando ovos mexidos para mim, mas ela não estava lá, não mais. Faz três anos que ela se foi e ainda a espero toda manhã, ela mantinha essa casa viva e aquecida durante o tempo frio.

Tudo o que sobrou dela foram memórias e suas fotos espalhadas pela casa espaçosa.

O bilhete que meu pai deixou na mesa no dia anterior ainda estava ali, ''Viagem à negócios, tem comida na geladeira'', e sempre que abro a geladeira há marmitas iguais em todos os compartimentos.

Essa era minha rotina, a minha solidão virou minha companhia.

Peguei uma das marmitas e comi às pressas, o ônibus estava prestes a passar pela minha casa.

Assim que ouvi buzinas peguei minha mochila apressado e corri até o transporte. Essa era a pior parte do dia, aturar os garotos fazendo piadas sem graça por todo o trajeto. Caminhei tropeçando até o assento de sempre, evitando os alunos barulhentos.

Quando me sentei, um garoto sentou ao meu lado, ele me cumprimentou com a cabeça e fiz o mesmo, ele parecia nervoso. Tinha cabelo escuro e olhos claros, usava um casaco de um tecido que parecia barato, mas charmoso, e quando olhei para o que estava vestindo fiquei envergonhado, estava tão apressado que esqueci de vestir algo mais apresentável.

Ficamos em silêncio, até ele quebrá-lo.

- Qual o seu nome?

 - Alenor - Respondi ainda processando se era comigo. - E o seu?

 - Ethan.

 - Nome legal.

***

- Ei! Solji!

Abri meus olhos, o meu empresário estava me chamando irritado.

- Você ouviu algo do que eu falei?

- Não... poderia repetir?

Eu não estou mais na Itália. Já não tenho 14 anos mais, e já não tenho notícias de Ethan à anos.

Faz exatamente dez anos desde que ele sumiu, mas ainda fecho os olhos e penso como seria se Ethan tivesse ficado, eu provavelmente não teria me sabotado tanto.

Estava em uma ligação de voz com meu empresário, mas acabei dormindo. Ainda sonolento, peguei a cartela de cigarros que estava sobre a mesa, mas estava vazia. Larguei ela e sentei no sofá.

- Eu estava falando que eu já te inscrevi na próxima competição.

- Certo.

- Leva mais a sério, ela vale muito dinheiro, você precisa dela.

Fiquei em silêncio.

- Você precisa praticar, já decidiu a música?

- Sei lá, Campanella?

- Faça o que quiser, mas pratique! Você só escolhe músicas difíceis

- Mas mesmo assim ganho uma grana, não?

- Tanto faz, vou precisar desligar.

Ele desligou, joguei o celular no sofá e pensei em ir praticar, mas estava faminto. Queria ir em um mercado, mas duvidaria algum estar aberto à meia noite.

Decidi ir até alguma loja de conveniência mais perto. Calcei umas sandálias e vesti um casaco, fui mesmo de pijama, afinal, as ruas deveriam estar vazias.

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⏰ Last updated: May 20, 2023 ⏰

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10 Anos Depois do InvernoWhere stories live. Discover now