Piwkenyeyu

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Verão


Será que eu te amo?

Eu não sei se te amo.

— GIMS, Est-ce que tu m'maimes?


Não foi fácil, digo, não foi fácil me permitir desfrutar disso com você.

Éramos, a princípio, dois pólos opostos, cada qual em sua própria realidade e não estávamos dispostas a pensar na percepção do próximo. Era o atrito, a faísca e as avalanches que nos mantinham atraídas uma à outra.

Sou cética quanto ao amor à primeira vista e acredito fielmente que o nosso veio a florescer com o tempo, assim como o desejo floresceu pelos meus poros naquela noite de janeiro; você, linda em seu próprio jeito, e a música a circulando como uma nova barreira, chamando-me, convidando-me a ir ao seu mundo particular. As luzes coloridas dançavam por sua pele, mas a dourada é a que mais lhe cai melhor, porque, afinal, era você.

Isso mesmo, para mim, você é dourada, como o sol.

Provei dos teus lábios naquela noite e me viciei na maciez, na textura e em você toda. Nunca era o bastante. Mas, sabes que sou orgulhosa, certo? Pois tratei de engolir todo o sentimento a qual pouco me preocupava em denominar e procurei outros gostos para esquecer do teu.

Creio que já nos conhecíamos desde o verão passado, naquela época, vale ressaltar.

Era apenas eu piscar os olhos e lá estava batendo na porta da sua casa com uma nova desculpa ou nem isso. Estar ali, no limiar da sua porta, era estar na fronteira entre um país e outro.

Eu estava sempre a visitar um país clandestino. É, você estava na minha vida de forma clandestina.

Cada célula do meu corpo estava contaminada com o vírus que era você; cada dose de veneno ingerida, uma para envenenar, outra para curar.

Lembro-me quando estava para sair naquele mesmo verão da sua casa após saciar o desejo momentâneo de tê-la em meus braços mais uma vez e repetir, novamente, que era a última vez, e você me segurou pelo pulso.

Fica — disse, ajeitando uma mecha ruiva atrás da orelha.

E eu fiquei, cedi, despenquei naquela noite em que dormi abraçada a ti, com o cheiro de baunilha vindo dos teus cabelos preencher meus pulmões.

Eu era a definição da música do Jão (pois é, menti quando disse que não ouvia as músicas dele), você me fez usar "Não te amo" como um talismã, apenas para me manter com os pés fincados no chão, sabendo que eu já estava flutuando há tempos.

Poderia ser facilmente confundida com os anéis de poeira de Saturno e eu não teria ficado menos feliz.

Não, é claro que eu não te amo

Mas tentar te esquecer já é lembrar de nós ¹

Outono


É sempre a pessoa certa

Da maneira errada

Genevieve Stokes, Hábitos.

O tempo foi passando e a realidade foi chegando; meu coração não acelerava, na verdade, depende, mas eu posso afirmar que ele se aquecia com sua presença.

Por você - sáfico (one-shot)Onde histórias criam vida. Descubra agora