prólogo

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Millie Weston

Naquele dia ensolarado, o jardim do palácio estava inundado de cores vibrantes e aromas doces. Lembro-me de como as flores silvestres pareciam dançar ao vento, como se celebrassem uma alegria que eu ainda não compreendia totalmente.
Eu era parte da família Weston, tinha o coração leve, mas o peso das expectativas pairava sobre mim como uma sombra persistente.

Já meu noivo, Aaron Lacwey, era o príncipe herdeiro. Seus olhos estavam fixos em mim com um misto de adoração e conflito. Seu olhar intenso, quase predador, parecia queimar em minha pele, e, naquele instante, ele não era o futuro rei que todos esperavam, mas um jovem atormentado, um amigo que lutava contra um destino que o aprisionava em correntes invisíveis. Ele era como um pássaro em uma jaula dourada.

— Você fica linda assim... — murmurou ele, enquanto colocava uma rosa branca atrás da minha orelha. Sua voz, embora sincera, carregava uma tensão inquietante, como se cada palavra fosse uma faca afiada que cortava a linha tênue entre o desejo e o dever. Eu sabia que, por trás da sua sinceridade, havia um abismo de obrigações e responsabilidades que ele não poderia ignorar, uma prisão dourada que o consumia lentamente, como um veneno que se espalha pelo corpo. Naquela fração de segundo, minhas bochechas se tornaram vermelhas como tomate.

No fundo eu sabia que nossa inocência era uma miragem, uma ilusão que logo se desvaneceria. As palavras de nossos pais ecoavam em minha mente como um sino de alerta, reverberando em cada canto do meu ser:
— Um dia, vocês serão casados. É o que o reino espera.

E com esse pensamento, um novo peso se instalava em meu peito, uma ansiedade que não conseguia dissipar.
E, enquanto observava Aaron andar pelo jardim, sua risada ressoando como um eco distante, mesmo em meio a promessas e tradições, havia um fio de esperança que me permitia sonhar com um futuro onde o amor pudesse florescer junto ao dever.
Mas, como toda criança que um dia cresce, a realidade logo se impôs. As risadas do jardim foram substituídas pelas conversas sérias dos adultos, pelas discussões sobre alianças e políticas que eu mal conseguia compreender. O esplendor de nossos jogos foi ofuscado pelas expectativas que pesavam sobre nós.
Aaron aos poucos se transformava no príncipe que todos esperavam que ele fosse: forte, carismático, e rodeado de admiradores. E eu? Eu me tornei a noiva que deveria estar ao seu lado, mas, por dentro, lutava com a confusão de meus sentimentos.
O coração pulsava com todas as lembranças dos dias ensolarados, mas também carregava as incertezas do que o futuro nos reservava.

Lembro-me de uma conversa que tivemos na véspera de um baile, onde a pressão do nosso casamento arranjado estava mais evidente do que nunca.
Ele me olhou com aqueles olhos profundos, quase como se pudesse ver além da superfície. — Millie... —começou ele, hesitando — você já pensou no que realmente quer para o seu futuro?A pergunta pairou no ar, como um eco de dúvidas que eu tentava ignorar. E, naquele instante, percebi que, apesar de estarmos destinados a ficarmos juntos, havia um abismo entre nós, um espaço que me fazia sentir presa e ao mesmo tempo desejando voar livre.
Só quero que você seja feliz, Aaron — respondi, tentando esconder a tempestade que se formava dentro de mim. Ele sorriu, mas havia uma tristeza em seu olhar que nunca consegui entender completamente.
E se isso significar que devemos seguir caminhos diferentes? — A pergunta me atingiu como um golpe, e eu me vi paralisada. O que significava ser feliz quando tudo ao nosso redor estava decidido por outros?
Aquela conversa não foi fácil; as incertezas estavam crescendo como ervas daninhas em nossos corações, mas também plantamos as primeiras sementes de um entendimento profundo. Sabíamos que um dia teríamos que enfrentar a realidade de nosso compromisso, mas, por ora, éramos apenas dois jovens tentando encontrar seu lugar em um mundo que parecia decidido a nos privar.
E assim, enquanto as flores continuavam a florescer ao nosso redor, eu me lembrei de que, apesar de tudo, ainda havia tempo. Tempo para sonhar, tempo para explorar o que poderia ser, e talvez, só talvez, tempo para descobrir se o amor poderia realmente florescer em meio a todas as obrigações que nos aguardavam.


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