Prólogo

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  É uma verdade conhecida que a sabedoria absoluta do Sol pode ofuscar os olhos daqueles recolhidos sobre as sombras. O Sol, diante de todo seu esplendor, jamais jogaria tamanha sombra sob seus fiéis se não fosse pela escuridão que já se recobria sobre a terra. Máquinas andavam lado a lado a humanos munidos de lanças e arcos, onde no horizonte paira uma civilização esquecida com seus arranha-céus deteriorados e todas suas conquistas enterradas junto aos corpos daqueles que restaram.

  A civilização já não era mais a mesma. Todo o conhecimento acumulado pela humanidade havia se perdido. A humanidade agora se organizava de forma primitiva, em tribos, com suas crenças e jeitos próprios de explicar o "inexplicável". E uma dessas tribos mais importantes eram os Carja, cultuadores do deus Sol. Sua importância não se dá simplesmente por seus grandes feitos no passado, mas pelo que ainda está por vir.

  Havia ocorrido um fenômeno jamais visto. A luz ofuscante desceu do céu como um raio e então a montanha se partiu em meio a uma explosão. Cores invadiram o céu totalmente desgovernadas, inundando o céu de luz e deixando os estudiosos de Santa Meridiana totalmente confusos.

  Ghariv percorria o Palácio do Sol às pressas, rumo aos aposentos reais. Rei-Sol Jiran não era, absolutamente, um homem a se deixar esperando. Não havia um único feito realmente grandioso em seu reinado, mas os esforços em manter o legado de seu pai ativo o deixaram totalmente arrogante e presunçoso. O que para um homem de temperamento péssimo, como ele, era uma mistura mortal.

  O Palácio do Sol abençoado sobre o esplendor da mais alta divindade Carja, situa-se em Meridiana, uma obra-prima da arquitetura tribal, construída acima de uma passagem de canyons. Uma cidade onde se abriga a mais alta sociedade da tribo. Nobres, clérigos, estudiosos, burgueses e até a própria família real. Afinal, todos os caminhos levam até Meridiana.

  Sendo uma cidade de aristocratas, feita para agradar os mais refinados gostos. Meridiana irradia luz em toda sua intensidade, refletida por suas construções de metal e areia. Sua sociedade tão presunçosa quanto seu rei, tão absorta na própria importância da civilidade de seus modos, lentamente se afundando do mesmo modo que seus ancestrais. Esquecendo-se das coisas mais importantes que os diferem das máquinas, como o próprio sentimento de humanidade.

  O medo é uma espada bem mais afiada do que o respeito, como Jiran sabia bem. Seu servo, tremendo dos pés à cabeça, organizou suas vestes mais uma vez antes de entrar na Sala do Trono. Adornada por sedas e tecidos brilhantes, revestida a ouro e pedras preciosas, mobiliada com uma pequena mesa de centro e alguns bancos de chão, onde estavam sentados o Príncipe Real Kadaman e seu irmão mais novo, Príncipe Avad, ambos concentrados em seus estudos. Ghariv cumprimentou os príncipes com formalidade e se dirigiu ao trono.

  O décimo-terceiro rei-Sol, observava seus súditos sentado em seu esplendoroso trono do alto de seu palácio. Falquinos cortavam o céu acima deles, voando para perto do Ápice, o local mais sagrado para os Carja, que subia cortando um céu negro obscurecido pela explosão ocorrida há dias. O servo se aproximou cautelosamente, suas mãos suando.

  — E então? — rosnou o rei à seu criado, fazendo-o tremer.

  — Vossa Luminescência rei Jiran, venho lhe informar a conclusão dos estudos acerca da densa nuvem que obscurece nossas terras, outrora abençoadas pela grandeza da lu...

  — Não me faça perder tempo! O que os estudiosos têm a dizer sobre essa grande maldição?

  O criado limpou a garganta.

  — Nada de bom, senhor.

  Kadaman e Avad, ao escutarem a conversa, trocaram um olhar de preocupação. Não poderiam imaginar o tamanho do problema que estava se formando, mas sabiam que alguma coisa terrível estava por vir.

Crianças Rubras (Fanfic do Universo Horizon)Onde histórias criam vida. Descubra agora