Capítulo Único • (Português/Portuguese)

43 1 0
                                    

1983

Era mais um daqueles dias em que Roland não estava se sentindo bem. Ele se sentia triste, inútil e sem esperanças. Seus traumas de infância estavam martelando em sua cabeça novamente. Os problemas com seu pai, que o abandonou cedo, e todas as outras dificuldades como uma criança que cresceu em um lar perturbado. Basicamente, Roland estava quebrado por dentro. Estava cansado de sentir desse jeito, mas ele não podia resistir. Os sentimentos ruins eram muito fortes.

As únicas vezes em que Roland realmente se sentia bem, era quando ele estava com seu melhor amigo Curt, e sua namorada Amelia – mais conhecida como Amy. Ele e Curt tinham uma banda chamada Tears For Fears, e eles recentemente lançaram um álbum titulado "The Hurting". As canções que Roland compôs para o álbum eram diretamente refletidas nessa parte específica de sua infância, portanto, elas tinham um significado profundo.

Quanto à Amelia, ela era o principal ponto de paz de Roland. Se conheceram ainda crianças e se apaixonaram na adolescência. Amy sabia das questões que o garoto passava, e sempre fazia de tudo para ajudá-lo no que fosse preciso, o amparando e dizendo que tudo ia ficar bem. O apoio dela era essencial para Roland.

Naquele momento, ele estava deitado em sua cama, debaixo do cobertor e com o olhar fixo no teto do quarto. Várias memórias atingiam a mente de Roland como flashes de luz, que o cegavam e o consumiam por dentro. Ele fechou os olhos por um instante, e uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto. Seu peito doía em angústia ao lembrar de momentos específicos de sua infância. Brigas constantes, o abandono por parte de seu pai, e todas as consequências que isso acarretou em sua vida ao passar o tempo. Roland se sentia culpado de certa forma por não ter conseguido se recuperar.

O som de alguém batendo na porta do quarto despertou-o de seus pensamentos, e sem ânimo algum, ele perguntou:

— Quem é?

— Sou eu, amor. – a voz doce de Amelia soou como uma melodia aos ouvidos de Roland. Ele se sentou na cama, limpando as lágrimas com as mangas da blusa.

— Pode entrar. – ele disse, e viu a linda garota entrar no quarto, segurando uma cesta coberta por uma espécie de toalha de piquenique vermelha. Roland conseguiu sorrir, ainda que mínimo, pois só a presença de Amy já fazia toda a diferença.

— Fiz os cookies que você gosta. – Amy disse após dar um beijo nos lábios de Roland e sentar-se ao lado dele na cama, colocando a cesta ali perto.

Roland retirou o pano e imediatamente sentiu o aroma gostoso dos cookies quentinhos que a namorada fazia.

— Muito obrigado, amor. – agradeceu com um pequeno sorriso.

— De nada. – ela sorriu. — Experimenta pra ver se ficou bom.

— Ah, eu adoraria... Mas não estou com fome. – Roland negou com a cabeça.

Amelia percebeu pela expressão de Roland que ele estava em mais um dos seus dias difíceis. Sabia que ele não comia o dia todo quando ficava assim, e isso a preocupava.

— Está desde manhã sem comer, não é?

Roland não respondeu, abaixando a cabeça. Amy suspirou, entrando debaixo do cobertor com Roland e acariciando o rosto dele.

— Dói tanto te ver assim... – disse ela, encarando os olhos marejados de Roland.

— Eu queria não me sentir desse jeito, mas eu não consigo. Quando eu menos espero, as lembranças voltam à tona. Eu sou uma pessoa fraca, esse é o meu destino... Sofrer eternamente com isso.

— Não diga isso, Roland, você não é fraco.

— Claro que eu sou! Uma pessoa forte supera seus problemas, segue em frente, mas eu não. Eu continuo guardando essa mágoa dentro de mim.

NOT ALONE | Roland OrzabalWhere stories live. Discover now