Capítulo 4

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Chego em casa só viva. Torno a trancar a porta depois de entrar e não me impressiono quando Dragoa vem se enrolar em minhas pernas miando.

— Oi, minha tintesa — a cumprimento. Gosto de chamá-la assim porque ela parece mesmo uma princesa. — Cheguei sim — a induzo nos carinhos de boas vindas. — Cheguei só nos últimos minutos de bateria, mas cheguei.

Tenho vontade de sorrir, mas escolho só me inclinar um pouco para a minha mão alcançar a cabeça da Dragoa e eu conseguir dar um carinho a ela.

— Esther — a voz do meu pai chega na cozinha, onde fica também a porta de entrada da casa. É a única. — Chegou mais cedo?

Eu me endireito para olhá-lo, e isso requer um pouco mais de tempo. Tanto por eu estar com as costas maltratadas do dia de trabalho, quanto por causa da situação atual da minha saúde.

Olho em sua direção e espero minha vista focá-lo, Dragoa ainda se jogando em minhas pernas pedindo mais atenção.

— O senhor estava esperando que eu chegasse mais tarde? — rebato, os olhos estreitos. É uma pergunta capciosa sim, porque assim posso ver alguma pista do que ele fez.

— Geralmente você chega mais tarde — ele aponta em minha direção. — Já dei comida para a Dragoa. Vou dormir. Boa noite.

Amoleço os ombros, em desânimo.

— Tudo bem, obrigada. Boa noite, pai.

Ele sai e me viro na direção dos armários da cozinha, pensando no que vou fazer para jantar. Eu preciso jantar. Mas minha vontade de fazer alguma coisa está nos ares e minha empolgação para comer também.

Solto um suspiro desgostoso. Que droga.

Dragoa mia, pedindo minha atenção. E estou prestes a me abaixar e fazer sua vontade quando ouvimos a batida na porta. Uma, duas, três.

— Esther? — me chamam e mais uma batida soa. — É o Douglas.

Meus olhos se arregalam e me levanto imediatamente.

Não posso ter ouvido certo.

Dragoa vai para perto da porta e se senta, olhando para cima, de onde veio a voz e o som das batidas.

Batem de novo e me percebo paralisada.

— Esther, oi, sou eu — Douglas insiste. — Seu chefe me deu seu endereço porque... — ele hesita, então dá um riso curto. — Bem, porque eu pedi. Mas só porque pensa que somos amigos e eu ameacei a lanchonete dele. Nada pessoal.

Ouço o barulho do chuveiro do corredor sendo ligado, sinal de que meu pai foi para o banho, então não penso muito. Na verdade, acho que estou há um bom tempo sem pensar direito.

Caminho depressa até a porta, interrompendo a próxima batida e virando a maçaneta, abrindo a porta de uma só vez para me deparar com Douglas Houston.

Na minha porta.

Eu o encaro. Ele me encara.

Meus olhos estão mais abertos que o normal, mas os dele não.

— Oi — ele sorri facilmente, levantando uma mão para um aceno rápido. Sou, no mesmo instante, capturada pelo seu charme e sua altura. Ele é bem mais alto visto assim, sem pessoas ao seu redor. — Achei que ia me deixar ir embora.

Algo em mim esquenta. Por dentro. Não sei se é por conta da anemia ou do que está acontecendo.

Afinal, o que está acontecendo?

— Você fala? — Douglas questiona quando persisto a olhá-lo.

— O que está fazendo aqui? — devolvo e informo: — Eu não quero participar de nenhum programa de TV.

Ele ri de novo, terminando a ação com um sorriso de canto.

— A respeito disso, aliás, dessa sua resposta pra mim, não sei o que dizer — sua sobrancelha direita se ergue um pouco. — Você ainda assiste programas de TV?

— Meu pai assiste — desvio o olhar para baixo quando Dragoa se enrolando nas pernas de Douglas me chama a atenção. E isso sim é surpreendente. — Ela costuma ficar com medo de todo mundo que vem aqui em casa.

— Ah, você tem um bichano — ele elegantemente se abaixa, erguendo a mão que reluz o relógio prateado em seu pulso e acariciando a cabeça e as costas da Dragoa.

Eu suspiro, encantada pela cena. Não faz sentido, mas ainda assim é encantador.

Porque em que mundo um homem como Douglas Houston, lindo, maravilhoso, alto, charmoso, apetitoso aos olhos, instigante ao corpo, estaria em minha porta à noite me chamando pelo nome e acariciando a minha gata?

Pois é, em nenhum.

— Como ela se chama? — Douglas pergunta, erguendo o olhar para mim.

Eu engulo em seco, dispersando os pensamentos.

— Dragoa. Por que você está aqui?

— Dragoa — ele ri, fazendo mais uma carícia nela antes de se levantar. — Nome interessante. Vou querer saber a origem, mas, respondendo sua pergunta, eu vim porque quero saber como você está.

— Por quê? — É só o que me resta perguntar. Eu repito, não faz sentido. Por que esse estranho quer saber como estou? Ele veio à minha casa!

— Porquês nem sempre explicam alguma coisa — ele dá de ombros. — Fiquei com a cena de você se jogando em mim passando pela mente. Achei que devia saber se você está melhor.

Balanço a cabeça, abrindo mais a porta para me apoiar no batente. Pode parecer que estou querendo chegar mais perto dele, mas só quero arrumar um apoio por causa da fraqueza nas pernas.

— Não entendi, mas estou melhor. — É uma péssima mentira. Não estou melhor nem um por cento. — E por que você ameaçou a lanchonete do meu chefe? Eu trabalho lá.

— Foi mal — ele se desculpa, dando uma penteada nos cabelos com os próprios dedos. É uma ação que o deixa bonito de forma perturbadora. E ainda não posso acreditar que esse homem está na minha porta. — Isso de ameaçar a lanchonete foi só tática. Às vezes é preciso mentir pra ter o que quer.

— Eu não acho que mentir seja uma boa opção, mas ter me contado o seu pensamento diz bastante a seu respeito — admito. — Você é médico?

Douglas ri e nega com um menear de cabeça.

— Não, sou aprendiz de quem tem muita grana — ele pisca para mim, o que imediatamente me tira um sorriso envergonhado. — Trabalho para o meu pai. Ele mexe com dinheiro e é palestrante também, então precisa de um substituto preparado para dar conta das empresas enquanto ele estiver palestrando mundo afora. Estou tentando chegar lá, no nível mais profissional.

Isso não explica muita coisa. Não explica nada, na verdade. Por que o filho de um homem que mexe com dinheiro e palestra pelo mundo inteiro estaria atrás de mim? Assim como falei para o Marcus, eu nem sou rica.

E nem chamativa. Se eu fosse linda top model, ainda teria algum sentido. Mas estou anêmica e amarela, quase trocando as pernas, então não estou achando explicação nenhuma. E nenhuma explicação seria coerente.

— Isso só deixa maior a incógnita de por que você estar atrás de mim — murmuro.

— Não estou atrás de você — ele ri como se eu tivesse dito a coisa mais engraçada. — Eu não ando atrás de mulher. Não preciso disso.

Estreito os olhos.

— Estou confusa. O que você está fazendo então?

— Com quem está falando, Esther?

A voz do meu pai atrás de mim me faz gelar a espinha e me virar de uma vez, não só preocupada como também sem uma boa resposta.


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Quem me dera um Douglas na minha porta

Ia dar muito certo 😏

Boa noite, meus amores! 🧡

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