Quando se conheceram no instituto de línguas de sua faculdade, Q!Roier nunca imaginou que se tornaria amigo do aluno bonito destaque do curso de engenharia de software, que auxiliava o professor de "português para estrangeiros" todas as tardes. Aula que por acaso, era obrigatória para o rapaz, já que havia se mudado recentemente do México para o Brasil em busca de realizar seu sonho de estudar design de jogos.
Mas imaginava muito menos, que se apaixonaria por ele.
Q!Roier sempre foi uma pessoa brincalhona, de riso fácil que amava flertar de forma cômica com seus amigos, sem segundas intenções verdadeiras. Mudar de cidade sempre é um grande passo, mas mudar de país com certeza era mil vezes mais assustador. Foram diversas noites sem dormir pela ansiedade e certo medo de não conseguir se adaptar, mas ele lembra como se tivesse acontecido horas atrás, do momento em que pisou no seu apartamento pela primeira vez, deixando as malas no chão antes de vislumbrar aquele espaço pequeno mas aconchegante, que era apenas seu. Apesar do Brasil não ser seu país de origem, em seu coração ele sentiu como se estivesse sendo acolhido por uma nova família gigantesca, diversa e amorosa.
O primeiro dia de aula também era fresco em sua memória. A forma como se atrasou pois colocou diversas vezes o modo soneca no despertador, se perdeu no metrô, vestiu a camisa ao contrário e não sabia qual era sua sala na faculdade – sabendo apenas dizer "olá, eu como maçã" em português – sempre estarão na parte de sua mente que o lembra de suas piores vergonhas. Absolutamente tudo estava dando errado, mas quando ele finalmente estava em frente a porta semi-aberta da sala de aula e deu de cara com um rapaz um pouco mais baixo que ele, de olhos castanhos escuros, vestindo roupas em tons terrosos e segurando uma prancheta, as coisas pareceram se acalmar por um instante.
Bizarro.
– Você tá atrasado – o rapaz disse, abrindo totalmente a porta, sem tirar os olhos do papel que lia – escolhe um lugar e senta, por favor.
Talvez por ansiedade, a boca do estômago do fã de Homem-Aranha fervilhou, mas se existe algo pelo qual Q!Roier é grato, com certeza são as raízes compartilhadas entre o português e o espanhol. Ele entende que é para se sentar e assim o faz, dirigindo-se para o fundo da sala enquanto era fitado por todos ali presentes, percebendo pela primeira vez naquele turbulento dia, que ele não fazia a mínima ideia de que aula seria aquela.
Q!Cellbit sempre foi uma pessoa reservada e introvertida, a menos que lhe dessem alguns códigos para decifrar, o deixassem falar sobre seus novos jogos favoritos ou dessem brecha para ele comentar como descobriu quem era o assassino antes do plot twist de algum livro. Porém, aquele não estava sendo um dia bom. Seu melhor amigo de infância havia se mudado para estudar em outra cidade e ele descobriu que teria que auxiliar o professor em uma aula fora da grade dele, por conta de um pequeno incidente – na verdade, um grande incidente flamejante – com um dos computadores da faculdade, como castigo. O nome da matéria era "português para estrangeiros" e ele teria que auxiliar a organização dos alunos e estar disponível sempre que o professor precisar, o que não era difícil, apenas... levemente entediante.
– Cellbit, tenho que ir mais cedo pois tenho uma reunião do conselho – o professor diz, arrumando suas coisas e entregando uma lista repleta de nomes para o rapaz – você poderia fazer a chamada para mim, por favor?
– Em que língua eu devo fazer isso? – Q!Cellbit indaga, pegando o papel e prendendo na prancheta.
– Essa sala em específico, é a de falantes de espanhol – o docente explica, colocando a mão direita sobre o ombro do aluno – você só vai precisar falar "llamaré sus nombres para ponerlos en la lista de asistencia" que significa "chamarei seus nomes para colocar na lista de presença" e começar a chamar nome por nome que está na lista, assinalando apenas quem estiver aqui.
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Confissões - Guapoduo
RomanceQ!Roier estava a beira de um colapso com seus sentimentos por Q!Cellbit criando um bolo na garganta durante aquela fatídica noite de filme, já comum entre os amigos. Talvez a solução seja um carregador mal conectado no notebook.