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O toque se intensifica, giro meu corpo e arregalo os olhos ao ver a criatura com um sorriso sinistro em minha direção. Quando digo sinistro, é algo como um buraco cheios de fiapos gosmentos e baba preta recheado de dentes lascados.

O pavor toma conta. Pego a arma com mais força, o bicho puxa meu tornozelo e eu acabo sendo arrastada para baixo. Um grunhido frustrado sai de mim ao mesmo tempo que giro e fico de costa sobre o chão sujo, a criatura grita raivosamente.

Miro em sua cabeça e atiro.

Em um baque surdo o corpo cai.

Sim, os filmes também acertaram, a cabeça é o local onde a morte é certa. Considerando que é uma droga acertar qualquer local e eles serem simplesmente atrasados, mas nunca mortos.

Solto um suspiro e deixo minha cabeça cair no chão sujo. Essa foi tão perto, por tão pouco.

Minha única salvação foi... essa... coisa querer brincar, ele poderia ter simplesmente agarrado meu pescoço e o quebrado, mas não, ele decidiu se divertir um pouco com a comida.

Isso seria cômico se não fosse trágico.

Eu estive tantas vezes perto da morte que se tornou algo normal e, até o momento, a única coisa que me manteve viva foi a sorte. Acredite, eu tinha uma puta sorte na mesma proporção que tinha azar.

Alguns minutos depois levanto, esperar meu coração normalizar era crucial depois dessas experiências, minha irmã reconheceria que algo errado aconteceu se eu aparecesse em frente a ela com essa cara de: "Poxa, eu quase morri ali, olha! Meu coração ainda tá acelerado aqui. Coloca o ouvido no meu peito e vamos escutar juntas essa batida de rock pesado!"

É, definitivamente não posso aparecer assim.

Vou diretamente para a prateleira que vi antes de quase ir tomar um vinho com o capiroto. Eu fiz merda o suficiente pra saber que o céu não era uma opção.

Como previ, enlatados!

Deixo um grande sorriso tomar minha face e começo a pegar tudo oque posso, por sorte uma cestinha está jogada não muito longe dali. Corro até lá e faço o serviço em poucos minutos.

Feijão, frutas, verduras, legumes tudo muito bem conservado. E olha que legal. Dessa vez não está vencido.

Dou mais algumas voltas no mercado e encontro água e mais suprimentos. Até mesmo alguns de higiene e primeiros socorros estão intactos.

Com uma cesta e uma sacola cheias vou até minha amada Van Gracinda.

Ando até a porta do motorista e assobio a horripilante canção do lobo do filme : "Gato de Botas 2". Há alguns anos atrás esse filme tinha sido uma febre e eu adotei o assobio como meu. Uma piada interna que eu e meus irmãos escolhemos para comunicação.

Um click e a porta se abre.

— Oh! Olha o tanto! Você mandou muito bem dessa vez Lanielda. — Reviro os olhos para minha irmã do meio, o curto cabelo ruivo e ondulado está solto ao redor do rosto quando ela pula para fora da Van, me ajudando com as sacolas e a cesta.

— Já disse para não me chamar assim. — Ralho ao lhe entregar a cesta.

Ela revira os olhos e se dirige para o fundo da Van preta.

— Até onde eu sei, é o seu nome. — Retruca divertida, ela da duas batidinhas nas portas traseiras de Gracinda.

Bufo.

— Não reclame quando eu te chamar de Corajhena também. — Devolvo erguendo uma sobrancelha para a careta que ela lança.

A porta de Grancinda se abre e meu outro irmão aparece, ele abre um sorriso enorme ao ver a comida e pula da Van para me ajudar.

Fatal SpreadOnde histórias criam vida. Descubra agora