Então nossas mãos se encostariam, pouco á pouco, um mindinho segurando outro mindinho, enquanto a energia e o calafrio iria de um corpo para o outro, enquanto o mundo gira ao nosso redor, enquanto os carros e pessoas ainda seguem suas vidas, a minha e a dele estaria resumida á aquele momento, este é o sentimento que teria entre eu e alguém que realmente eu queira em uma aventura, ao meu lado, sei lá, alguém que inexplicavelmente crie comigo essa sensação.
Mas estou aqui sentada nesse café esperando que este cara do serviço termine de me contar o porque os filmes novos de super heróis são superestimados. Tipo assim, entendo o ponto de vista dele, de fato não o ouvi muito desde que vi uma borboleta voando na rua minha atenção foi com Deus, mas o que me desanima é que por mais que eu esteja aqui, não sinto que seja certo, nem pra mim e muito menos para o Jack que esta aqui falando sem parar.
- Desculpe Jack mas tenho que ir, tenho um compromisso agora, tenho que fazer algo pra minha mãe e tinha me esquecido, vejo você amanhã no trabalho.
- Mas Vi, ah tudo bem, até então - sinto a confusão em sua voz.
Saio desnorteada pela vergonha, pela compulsão de sempre ter que dar uma desculpa para as pessoas ao invés de apenas dizer "ah valeu mas não quero", sabe?
Então sai e fui pra livraria cultura, aqui da Paulista mesmo, e me encaminho para a sessão de HQ's, por incrível que pareça, essa sessão normalmente é bem vazia, o que pra mim é satisfação.
Enquanto vou andando de prateleira á prateleira procurando por novidades, esbarro em um cara.
Alto, cabelo médio ondulado, com uma camiseta bem marcante de Star Wars, assumo que ele tem um bom gosto apesar da opinião pública.
Mas meu pânico é que ninguém disse nada até agora.
Então por impulso mais uma vez, digo:
- Desculpa, não te vi, sou míope mas ainda não fiz meus óculos, são muitas opções no mundo - pausa pra respirar - gostei da camiseta.
Ele apenas sorri, que bobo.
- obrigada - a voz dele sai muito baixa, e ele começa a rir - desculpa na verdade.
Eu rio.
Ele ri.
Nada mais me passa pela cabeça. Até eu me arriscar, pois apesar de tudo eu provavelmente não vou mais ver esse estranho na minha vida.
- Não sei se já sabe, mas tem um mirante do sesc aqui perto, tinha receio de ir sozinha, mas você parece uma pessoa legal, que ir comigo? - diz que não pra eu ir embora logo e ter uma história pra contar cara.
- Ah, pode ser.
É, é assim que se vive ou um filme da netflix ou um caso do Cidade Alerta.
Caminhamos pela avenida enquanto o clima esfriava no entardecer.
Ao chegar no prédio e subir no elevador com outras 5 pessoas, percebi que ele tremia um pouco, e sorria frequentemente com vergonha. Coitados de nós não sabendo o estamos fazendo mas mesmo assim indo. Acho isso é a vida, não é?
E quando chegamos naquele mirante envidraçado, ele abriu o mais genuíno sorriso, e eu também, porque ver a luz dos prédios e da avenida, a cidade toda viva, e o sol se pondo no mesclar de roxo e o azul noturno, aquele tempo que precisávamos da rotina.
- Aqui é lindo - ele diz de repente
- É sim - sorrio - vinha aqui com a minha mãe - olho pra ele então - agora vim com você - suspiro - eu acho que estava buscando uma forma de vir aqui sem se sentir só pra este lugar não deixar de ser especial, agora eu tenho uma história que vim aqui com um cara que usa blusas de star wars, que conheci na livraria e se chama... - esqueci o nome dele ou nem perguntei?
- Ah, Blu, me chamo Blu, que nem o do filme da ararinha azul mesmo - ele dá um sorriso amigável - e o seu?
- Violet, meus pais gostavam de lilás e inventaram de por o nome em mim - sorrio
- Gostei do seu nome, me lembra leveza - ele encara a rua e suas luzes - fazia um tempo que eu não tinha ela, a leveza, o tempo.
- E o seu me lembra, tranquilidade, Blu - sorrio sem jeito mas toda feliz, que papinho mais brega.
Apesar de toda essa confusão, a timidez, os sorrisos envergonhados, e as conversas sem jeito, era isso que eu estava procurando talvez, algo novo, a parte da minha vida do trabalho de estagiaria, da faculdade, de casa.
Porque aqui, quando estou aqui com o Blu, debruçada no corrimão do parapeito, com nossos braços se encostando pela proximidade, a energia nova entre ele e eu passando, enquanto ele me dá um de seus fones para ouvir SZA, se entreolhando por meio dos sorrisos de canto sem jeito, é aqui, que eu sinto que vivo, independente de um romance, uma aventura, um rolê, é a conexão com alguém, com a vida.
Depois disso eu e Blu marcamos de sair pra um cinema com nossos amigos.
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Contos que fazem iludir
Short StoryCada capitulo possui um conto que te faz aumentar as expectativas amorosas ou sair da realidade. Você lerá para sair de sua vida e viver a fantasia que te faz sentir emoções, usar a imaginação, tentar entender a reflexão.