Ribeirão Preto era a penúltima parada da nossa turnê, mas a energia no palco naquela noite era digna de um grande final. Já tínhamos tocado a setlist quase completa, e agora Pedro cantava "Rezo" enquanto os fãs erguiam seus celulares numa onda luminosa que se espalhava por todo o centro de eventos do Shopping Ribeirão. Eu sempre me emocionava um pouco nessa parte dos shows, afinal era a música que havia me colocado no Big 3.
Cinco anos atrás, quando Pedro e Erick decidiram formar uma banda e abriram audições para baixistas, eu nem tocava baixo. Eu tocava guitarra. Mas quando aquele cara de olhos verde-água me entregou o folheto na saída do metrô Vila Mariana, eu fiquei determinado a dedicar cada gota de mim para impressioná-lo, e aprendi o máximo que era humanamente possível em uma semana. Ainda assim, definitivamente não era bom o suficiente, e com certeza não teria passado se não tivesse decidido deixar o baixo de lado para apresentar uma música que eu mesmo havia composto sobre minha depressão.
Por fim, eles decidiram que precisavam mais de um bom letrista do que de um bom baixista e acabaram me aceitando e me ensinando a tocar. E, com todo respeito, precisavam mesmo de um letrista. As músicas escritas por Pedro se resumiam a coisas como "Eu quero tomar na cabeça quando tô com você porque eu nunca vou te merecer" e "Seus lábios são tão, tão, tão perfeitos". Não eram exatamente o auge da criatividade e da composição.
Ele terminou a performance de "Rezo" com a frase final inacabada e permitiu que a plateia se exaltasse antes de avisar que eu assumiria o microfone para a próxima música.
Eu havia insistido em trazer um cover alternativo de "drivers license" da Olivia Rodrigo para essa turnê com o argumento de "Tá muito em alta e nossa versão vai ficar muito foda", mas a verdade é que eu me identificava demais com a letra e queria usar aquele momento para colocar meus sentimentos para fora. Além disso, o cover era a pausa perfeita para que Pedro descansasse a voz antes da música seguinte — uma apresentação acústica de "Rockstar", também escrita por mim — e me dava um descanso do baixo.
Eu me aproximei do microfone central e esperei que o ajustassem para minha altura vários centímetros menor que a de Pedro. Então ouvi os acordes iniciais da guitarra, seguidos pela bateria de Erick, e comecei a cantar enquanto as memórias invadiam minha mente.
É claro que Pedro nunca tinha feito nada como escrever uma música para mim dizendo que ficaríamos juntos para sempre, mas ele ficou realmente empolgado quando eu tirei minha carteira de motorista, e de fato havia uma garota loira que sempre me deixou inseguro. Ela e Pedro se conheciam desde o colégio, e era literalmente impossível competir. Mas eu havia me permitido sonhar por algum tempo até quebrar a cara quando eles começaram a namorar.
A música chegou à ponte e as luzes do auditório ficaram vermelhas para refletir a letra. Arranquei o microfone do pedestal para poder me mover mais livremente enquanto cantava. Eu amava essa parte. Podia gritar a plenos pulmões e expressar toda a minha frustração como se fossem apenas parte da performance. Ninguém parecia se importar com o fato de que eu sempre olhava para Pedro quando cantava o final da ponte.
Alguns fãs imaginavam, é claro. Havia centenas de fanfics na categoria "Pedruca" pela internet. Eu jamais havia me aventurado a ler alguma. Não sei se aguentaria. Mas os meninos de vez em quando narravam algumas das histórias mais bizarras que encontravam enquanto faziam jogos de bebidas, e preciso dizer... Tem muita coisa estranha por aí.
Coloquei o microfone de volta no pedestal para cantar o último verso, e encerramos com aquele conhecido Si Bemol Maior. O auditório foi à loucura mais uma vez, e eu até me permiti sorrir um pouco.
Pedro logo se aproximou, tirando a guitarra do ombro e a entregando para um contrarregra. Ele tirou o microfone do pedestal de forma despreocupada.
— Uma salva de palmas para Luca dos Anjos, pessoal!
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BIG 3
RomanceQuando a vida do baixista da maior banda pop-punk do Brasil e a de seu fã número um colidem, Luca se vê obrigado a tomar decisões que colocam em jogo sua carreira e suas amizades, e Hélio se arrepende de ter passado tanto tempo desejando viver uma f...