TRÊS

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Meu pai é o Deus dos Esnobes e das Selfies.

ALGUM TEMPO APÓS JÁ ter me estabelecido no meu novo quarto, uma carta aparece debaixo da porta. Curioso, me direcionei até a entrada do meu quarto, peguei a carta e desdobrei. Em uma caligrafia elegante, o conteúdo da carta era:

Olá novo vizinho, sou Logan, moro aqui do outro lado, eu e os outros moradores do andar vinte e um iremos fazer um lanche da tarde, gostaria de saber se gostaria de se juntar a nós.

Como eu não tinha o que fazer a não ser observar o teto, decidi tomar uma ducha, vestir roupas limpas e de minha preferência (Um macacão jeans, camiseta verde do Hotel Valhala, All Star bege e bottons com as minhas bandeiras: gênero fluido e transgênero.) Assim, preparado para tal confraternização, arrumei os cabelos e me encarei no espelho.
Nossa, quem é esse cara lindo no espelho? Ah sim, sou eu.
Modéstia parte, sou alguém mediano no quesito beleza. Tenho cabelos ondulados galegos, olhos azuis e sardas no rosto, características estas, que herdei do lado materno da minha família. Uma boa genética, diga-se de passagem.
Chega de falar de mim, retornando para a história...
Utilizei da runa-chave para abrir a porta, sem demora me retirando do local qual antes marcara presença. Andando pelo corredor, pude notar que agora todas as portas estavam em silêncio, por conta de seus habitantes já não estarem mais lá no momento.

...

Ao chegar no local para refeições do andar vinte e um, me dei de cara com três pessoas. Adolescentes, assim como eu, cada um com sua particularidade.

— Ali está ele. — O garoto se levantou e pegou minha mão. — Sente-se conosco. Me chamo Logan Hope, filho de Frigga.
Ele estava vestindo roupas que pareciam ter sido tiradas da década de oitenta, uma camisa de flanela junto da camisa verde do hotel, calça jeans e sapatos. Esse tipo de vestuário o faria ser chamado de velho por algum adolescente, mas o faria ter muito sucesso com os adultos e a terceira idade.
Com ele estavam o moreno Nicolas Bergström e um cara que imaginei ser Domenico Williamsburg, que parecia um Pedro Pevensie estiloso. Sua escolha de roupa foi um tanto interessante: jaqueta jeans, casaco cinza por baixo, calça jeans escura e botas, uma combinação que, só aqueles que entendem de peças de roupa podem fazer parecer boa de utilizar.
Meus três colegas de corredor abriram espaço para mim na mesa, o que foi muito legal.
Em comparação ao Salão dos Mortos, o salão vinte e um era um ambiente íntimo. Havia umas seis mesas espalhadas pela sala, a maioria desocupadas. Em um canto, as chamas de um lareira estalavam em frente a um sofá surrado. Ao longo da parede, uma mesa de bufê exibia todo tipo de comida de lanche da tarde imaginável (e alguns tipos que eu nunca tinha imaginado).
Logan e companhia tinham se posicionado em frente a um janelão virado para um amplo campo coberto de luz do sol. Não havia muito sentido nisso, levando em consideração que não era tão brilhante no meu átrio no mesmo corredor, mas já estava me acostumando sobre a geografia que envolvia o hotel ser bisonha.
— Ali é Álfaheim — explicou Logan. —, o reino dos elfos. A vista muda diariamente, fica variando entre os nove mundos.
— Os nove mundos... — Encarei meu sanduíche de manteiga de amendoim e geleia de frutas vermelhas, me perguntando de que galáxia eles vieram. — Ouvi a maioria mencionar os nove mundos. Mas ainda é difícil acreditar.
Donenico Williamsburg cortou um pedaço da pizza de peperoni.
— Acredite, novato. Já visitei seis deles até o momento.
— E eu, cinco. — Nicolas sorriu, mostrando para mim quão manchada a torta de framboesa deixou seus dentes. - Claro que Midgard não conta. É o mundo humano. Já estive em Niflheim, Vanaheim, Jötunheim...
— Legal pessoal, mas deixem o Charlie respirar, isso tudo ainda é novo para ele. Sei que está sendo difícil para se adaptar com o fato de ser meio que um morto-vivo.
— É... o sr. máquina de tricô tem razão, pode se acalmar, novato. — Disse Nicolas, me olhando por alguns minutos.
— O que eu já falei sobre esse apelido, Nicolas?
— Hum... agradeço a vocês, por terem me incluído como parte do grupo.
— Que isso cara, colegas de corredor são para esse tipo de coisa! — Domenico sorriu, dando um tapinha nas minhas costas, o que causou um pouco de dor. Poxa, como um cara desses tem uma força sobrenatural?
Suspirei, ficamos conversando e falando mais sobre nossas vidas anteriores à Valhala, comemos bastante e por fim, retornamos para nossos quartos.
Novamente em minha habitação, permaneci quieto desenhando, por longos minutos, sem perturbação alguma, até o momento que bateram na porta. Sem demoras a porta foi aberta e uma garota entrou... a mesma que vi brevemente me levar para um vazio de tonalidade cinza.
Ela não estava utilizando o elmo, a cota de malha e o machado brilhante. O cabelo castanho comprido caía livremente pelos ombros.
O vestido branco tinha runas vikings bordadas ao redor de golas dos punhos. Pendurados no cinto dourado havia um molho de chaves machado de lamina única. Parecia a dama de honra de um casamento do Sreet Fighter. Ela olhou para minha pessoa.
— Você é real — observei.
Ela bateu nos próprios braços.
— É, aparentemente.
— Você sabe me dizer como posso voltar para casa? Eu não sou um herói, só, um adolescente que vive com os avós.
—  Veja Charlie, eu escolhi você por um motivo, você foi um herói salvando aquelas pessoas e enfrentar o gigante de gelo.
— Não! Eu não sou herói coisa nenhuma!
A garota correu na minha direção e me empurrou contra a parede e pressionou o antebraço no meu pescoço.
— Não fale isso — sibilou. — NÃO FALE ISSO! Principalmente não neste dia, hoje à noite, no jantar.
O hálito dela tinha cheiro de menta. Os olhos eram ao mesmo tempo escuros e cintilantes. Lembravam um diamante que minha mãe, a concha de um animal maritimo semelhante ao náutilo chamado amonite. Parecia ter um brilho interno, como se tivesse absorvido milhões de anos de lembranças enquanto ficou enterrado. Os olhos da garota tinham o mesmo tipo de brilho.
— Você não entende — gemi — Eu tenho que...
Ela apertou meu pescoço com mais força.
— O que você acha que não entendo? A dor pela perda de sua mãe? A injustiça? Estar em um lugar onde você não quer estar, sendo obrigado a lidar com gente que você preferia não ver?
Eu não sabia como responder, principalmente porque não conseguia respirar naquele momento.
Ela deu alguns passos para trás, se afastando. Enquanto sofria de tosse e engasgamento, ela caminhou pelo saguão, olhando de cara feia para nada em particular. O machado e as chaves balançavam no cinto.
Massageei meu pescoço dolorido.
Que idiotice, Charlie, falei para mim mesmo. Nova localidade, aprenda as regras.
Eu não podia começar a choramingar e fazer exigências. Tinha que deixar a questão da minha família de lado. Se eles estivessem em segurança, eu descobriria depois. No momento, aquele hotel não era diferente de um abrigo para jovens, acampamentos ou refeitório comunitário de igreja. Cada local tinha suas regras. Eu tinha de compreender a estrutura de poder, a ordem hierárquica, as proibições que viriam fazer eu ser perfurado ou atacado. Eu tinha que sobreviver... por mais que já estivesse morto.

Me desculpe. — falei. Me senti como se houvesse engolido um roedor vivo cheio de garras. - Mas que importância tem para você se sou um herói ou não?
Ela bateu na testa.
— Uau, tudo bem. Talvez porque eu quem trouxe você para cá? Talvez porque minha carreira esteja em perigo? Mais um escorregão e... — Ela se controlou. — Não importa. Quando você for apresentado, siga o que eu disser. Fique de boca fechada, concorde e tente parecer corajoso. Não faça com que eu me arrependa de ter trazido você.
— Tudo bem. Porém, apenas para recordar, eu não solicitei nada.
— Pelo Olho do Pai de Todos! Você estava morrendo! Suas outras outras opções eram Helheim ou Ginnungagap ou... — Ela estremeceu. — Só digo que existem locais piores do que Valhala. Eu vi o que você fez na ponte. Por mais que não admita, você foi corajoso. Você se sacrificou para salvar diversas pessoas.
As palavras ditas por ela soavam como um elogio. O tom como se ela estivesse me chamando de idiota.
A garota veio em direção a minha pessoa e me cutucou no peito.
— Você tem potencial, Charlie Vincent. Não prove que estou errada, senão...
Uma corneta soou tão alto nos alto-falantes que sacudiu o caderno na mesa.
— O que se trata? Ataque aéreo?
— Jantar. — A garota se aprumou. Respirou fundo e estendeu a mão. — Vamos começar de novo. Oi, sou Abigail Sullivan.
Eu pisquei.
— Não me leve a mal, mas esse nome não me parece muito viking.
Ela deu um sorriso tenso.
— Pode me chamar de Abby. Todo mundo me chama assim. Serei sua valquíria esta noite. É um prazer conhecer você propriamente.
Ela apertou minha mão com tanta força que meus dedos estalaram.
— Agora, vou acompanhá-lo ao jantar. — Deu um sorriso forçado. — Se me fizer passar vergonha, vou ser a primeira a matar você.
Vou privar vocês de umas meia hora falando sobre o nome do jantar e uns mil e pouco Erick que existem no Hotel Valhala, iremos pular para a parte interessante.
Bem, após a humilhante apresentação em Full HD do momento em que morri, aconteceu o seguinte:
As Nornas apareceram e agora vocês verão o que aconteceu com a chegada delas, manda a braba escritora!

. . .

E, de um momento para outro, névoa se acumulou nas mãos na Norna do meio, solidificando-se em seis runas. Ela as lançou no alto; as runas flutuaram, cada uma se expandindo em um símbolo branco luminoso do tamanho de um pôster.
Não sabia ler runas, mas reconheci a do meio. Era o mesmo símbolo que havia no colar de madeira de minha falecida mãe.

Algiz, anunciou a voz fria. A runa de Heimdall.
Milhares de guerreiros se remexeram em seus lugares, as armaduras tinindo.
Heimdall... Quem era Heimdall? De repente, a informação fugiu a mente, me deixando encucado.
As Nornas falaram ao mesmo tempo, três vozes fantasmagóricas em uníssono, balançando as folhas da árvore gigantesca.

Não era seu momento,
Um herói que, em Valhala, não pode mais ficar.
Será guiado através do Pensamento,
Até a terra da desgraça enfim cruzar.
Na penumbra, o mal reside
E com suas duas faces, lhe atacará.
E a legião do amargor, se manterá firme
Até que o herói, seu último suspiro dará.


As runas brilhantes se dissolveram. As três Nornas realizaram um movimento de referência direcionado a mim. Elas se misturaram à névoa e desapareceram.
Olhei para Abby.
— Com que frequência isso ocorre?
Ela aparentava ter levado um golpe entre uns olhos com o Mjölnir de Thor.
— Não. Escolher você não foi um erro, afinal. Pelo menos, é o que aparenta.
Bem, a partir daí rolou só ladainha, o gerente bravo com a Abby e depois que eu não permaneceria por muito tempo, por fim, Helgi disse:
— Assim, nosso banquete se encerra. Verei vocês amanhã no campo de batalha! Durmam bem e sonhem com mortes gloriosas!

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⏰ Última atualização: Sep 02, 2023 ⏰

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As Aventuras de um Einherji - A Magnus Chase FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora