Vem do caos

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Taehyung foi chamado para uma conversa com o senhor Park em seu escritório pela primeira vez depois de todos os anos em que sua mãe estava namorando com ele. Sempre viu Jimin ser convocado pelo pai pra conversas ali, uma vez que os dois não se relacionavam muito bem, mas de sua parte nunca antes tinha "levado bronca" do padrasto, por assim dizer.

— Eu não vou fazer muitas perguntas — E pelo que tudo indicava, sim, ia levar uma ensaboada por alguma coisa, mas estava tranquilo: o homem de cabelos grisalhos, sobrancelhas e lábios finos não o deixava nem um pouco intimidado — Só quero que você se explique sobre isso.

Ele jogou sobre a mesa um saco transparente com doze unidades de pequenos comprimidos de diferentes cores. Ecstasy. Apesar de ter ingressado na faculdade não fazia nem um mês, Taehyung já havia conseguido fechar uma compra das drogas pra um veterano que ia dar uma festa no final de semana trollando os calouros do curso de música clássica: o rapaz lhe prometera uma gorjeta a mais por fora, além do privilégio de não ser trollado junto com os outros calouros, então achou um bom negócio.

— Bem que eu tava procurando onde tinha colocado — Foi o que disse, pegando o pacote com os comprimidos de volta pra si, na maior tranquilidade — Obrigado, senhor Park, eu ia me dar bem mal se perdesse isso.

— Ah... — O senhor Park suspirou, passando os dedos pelos cabelos da testa, como que pra se acalmar — Desde quando você está envolvido com esse tipo de coisa?

— Eu acho que você não vai querer saber.

— Taehyung — Ele elevou o volume da voz — Escute... — Mas logo voltou a baixar — Você sempre foi um bom garoto, e está se tornando um homem do qual eu me orgulho muito: sabe que eu te considero como meu próprio filho, não sabe?

— Eu entendo — Disse, com a mesma calma constante — Te agradeço por tudo que fez por mim e pela minha mãe, senhor Park.

— Pois então por que você está envolvido com esse tipo de coisa? — Deu ênfase nas últimas palavras — Você não precisa disso! Sabe o quão sua mãe vai ficar decepcionada se souber disso??

Ficou em silêncio, ao que o homem à sua frente, do outro lado daquela larga mesa de escritório, negou tristemente com a cabeça.

— Eu gosto muito de você, Taehyung, por isso não vou dizer nada a ninguém sobre isso — Prometeu — Mas quero que você corte todo e qualquer contato com drogas, estamos entendidos?

— Não — Disse, e guardou o pacote de comprimidos que até então estava segurando numa das mãos dentro do bolso interno do casaco — Eu preciso de dinheiro, senhor Park, e eu não sou rico que nem você.

— Dinheiro? — O homem franziu o cenho — Pra quê você precisa de dinheiro?

Não disse absolutamente nada, novamente. O senhor Park apertou os dedos contra as palmas das mãos.

— Se você não me prometer que vai parar com isso... — Voltou então a falar — ...não vou ter outra opção a não ser passar o caso pra sua mãe.

— Mesmo? — Cruzou os dedos das mãos sobre o colo, tranquilo — E se eu disser pra minha mãe sobre você também?

Foi a vez do senhor Park responder com um completo silêncio. Sorriu, e talvez tivesse algo de assustador no seu esticar de lábios, uma vez que o mais velho recuou na própria cadeira, apesar de estarem separados por uma enorme bancada de mármore branco.

— Sim, eu sei sobre as corridas, e eu sei que tipo de grana tá circulando nas apostas por lá. Você acha o quê? Que minha mãe tolera tudo que vem de você só porque ela te acha bonitinho? Pensa um pouco... — Pediu, e com muita seriedade — Vocês voltaram muito recentemente, estão recolhendo e colando os cacos de uma relação rompida muito devagarinho, e é assim que tem que ser, então vai com calma. Você diz que me considera um filho, e não me leve a mal, eu acho isso legal, mas, com todo respeito, você já tem um filho — Disse, e as últimas palavras com muita cautela e destaque — E você trata ele de um jeito que eu não gosto nem um pouco, mesmo assim eu nunca disse nada, porque eu sei o meu lugar e que cada um tem sua vida. Entende? Eu tenho a minha vida, e não preciso que você cuide dela por mim.

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