It's That Freaking Dying Feeling

10 1 0
                                    

Eu nunca aceitei minha morte.

Ainda lembro a forma que minha mãe reagiu quando recebeu o diagnóstico. Ela perguntou ao médico se ele estava falando sério e o puxou pra fora do quarto. A assisti gesticular pesadamente e levantar os braços em protestos inúmeras vezes, mas o rosto do Dr. Collins era irredutível, era como se os olhos pesados suplicassem pra que ela aceitasse o fim.

Não lembro o que estava sentindo. Eu era muito nova, então não sabia que ia morrer mesmo. Me disseram que eu estava doente e ia ficar no hospital por um tempo, que teria que dar uma pausa nos estudos e é isso. Fiquei triste porque adorava brincar com a Joy nas pausas da escola.

Em algum momento a ficha caiu. E quando isso aconteceu, me tranquei no banheiro e chorei por uma noite inteira. Por que eu? O que eu fiz? Por que eu tinha que morrer tão cedo? Eu não ia passar dos 21 anos.

Não ia poder ter as experiências que a maioria das pessoas têm. Eu queria casar como nos filmes, queria ter filhos, eu queria ter uma carreira de sucesso e poder cuidar da minha mãe. Só queria poder reclamar de dor no joelho e passar por coisas triviais da vida. Quando vi que tudo isso ia ser tirado de mim, chorei desesperadamente.

Falar que as coisas vão melhorar é idiotice. Eu estou morrendo e nada vai mudar isso, a diferença é que ninguém sabe quando: às vezes fico pior, mas meu quadro nunca vai ter uma melhora fantástica, não há cura. Pelo meu bem estar, são poucas vezes que me deixo chorar e lamentar pelo destino miserável que me espera.

E é em momentos assim que choro. A lista foi feita justamente pra que eu não me deixasse esquecer que eu preciso viver, não importa o que aconteça.

Aos poucos minha mãe foi aceitando, as falas idiotas de que vou ficar bem, agora, eram escassas. Ela diz que me ama todos os dias e assamos biscoitos juntas aos domingos. Nós vivemos da forma que dá, como se a minha doença não fosse um mártir mas ainda presente.

É como se todas as vezes em que me sinto viva, a realidade me puxasse pro chão, como ontem: eu vomitei sangue no banheiro da minha primeira festa e meu namorado falso me trouxe pra casa. Lembro de ter adormecido no carro e, quando acordei, Harry estava me carregando pelas escadas de casa enquanto minha mãe surtava no fundo.

Quando Harry foi embora, tomei vários remédios e acordei depois das duas da tarde, meu celular tinha várias mensagens estranhas da Mackenzie — que foi a única que deu falta de mim — e Harry, perguntando se eu me sentia melhor.

Suas ações na noite anterior não podiam ser ignoradas e sou grata por isso.

Peço pra que ele venha até minha casa depois da escola e, quando a confirmação vem, me esforço pra esconder os remédios embaixo da cama e tomar banho, apago qualquer traço da noite anterior mas a sensação ruim não passa 100%. Coloco a peruca e dou dois tapas no rosto, acho que nada vai trazer vida ao meu rosto nessa altura do campeonato.

O carro de Harry é barulhento, mas dessa vez não me escoro na janela para o observar entrar, porque sei que ele vai passar a mão nos cachos e tirar os óculos escuros no batente da porta, onde minha mãe vai estar esperando com um sorriso e ter aquela conversinha de elevador.

Então seus músculos torneados vão se flexionar quando ele subir a escada rápido e minha imaginação se torna realidade quando escuto os passos grosseiros na escada. Antes que ele consiga abrir a porta, sou mais rápida e ele parece surpreso, mas um sorriso quase imperceptível estampa o rosto:

— Wow, você está acabada. — Tira a mochila dos ombros, dou espaço para ele entrar.

— Veio pra isso? — Fecho a porta, indo até minha cama. — Você poderia ter mandado uma mensagem.

— Bom, eu tenho uma novidade que você vai gostar, todo mundo sabe que você é minha "namorada". — Faz aspas no ar. — A escola está um caos.

Não sei reagir bem essa frase, então só faço uma careta contente.

— E como você está? Sua amiga veio falar comigo. — Coçou a cabeça. — Acho que o nome dela é Mackenzie, é a barulhenta.

— É a única amiga que eu tenho, e ela é barulhenta mesmo. O que ela disse?

— Perguntou onde você estava porque eu, como seu namorado, tinha que saber. E quis saber também minha altura. — Pega uma almofada e senta no chão como se fosse de casa. — Mas é isso, Verley, o plano deu certo.

— Agora vai ser mais fácil, só precisamos manter o bom trabalho. — Pisco. — Inclusive, tem mais quatro livros pra você estudar, as provas começam semana que vem.

— Já?! Que merda, tem jogo semana que vem!

— Você deveria saber e estudar pra isso, Styles, sua posição está em jogo. — Me aconchego na parede, fechando os olhos. É uma sensação de morte.

— E você, como está se sentindo?

— Melhor que ontem, com certeza. Acho que só preciso dormir mais e vou ficar bem. — Minto. — Obrigada pela preocupação.

— Você parece muito mal, mesmo, não é melhor ficar em casa amanhã?

— Temos prova semana que vem, não posso faltar.

— Amory, você é a melhor da escola. — Revira os olhos. — Se você faltar um mês inteiro ainda vai tirar 10.

— É verdade, mas não consigo. — Dou ombros. — Vou buscar alguns biscoitos, abra o livro azul na página 89. — Me arrasto pra fora da cama com dificuldade, ele levanta.

— Tem certeza? Você tá doente. — Pondera. — Podemos deixar pra amanhã.

— Vou pensar enquanto pego os biscoitos. — Sorrio sem graça.

A verdade é que acho que vou vomitar e não quero passar vergonha de novo. Deixo-o sozinho no meu quarto e paro na ponta da escada, assimilando o que ele acabara de dizer.

Meu plano estava cada vez mais perto.

Acho que não vou morrer sem ser lembrada.

My Stupid Bucket List [H.S] [PT/BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora