capítulo i

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Quando Barty conhece Evan, a diferença de altura entre eles é um pouco menos de dois palmos. Mas é o suficiente, claro, para que Barty tenha de olhar para baixo se quiser olhar para Evan. Então ele faz isso com mais frequência do que deveria, mesmo que o pai brigue com ele em casa por sua postura desleixada, mesmo que o cinto de couro estale em suas costas algumas vezes como consequência disso.

Barty não conta disso para Evan. Não conta sobre nada disso até o quarto ano, quando eles estão indo para um mergulho e, por um momento, os dedos macios de Evan pousam em suas costas marcadas, fazendo com que o garoto estremeça sobre o toque delicado embora o calor daquele verão particular passe dos quarenta graus. No momento que Evan o toca, Barty tem certeza que podia estar debaixo das cobertas de tanto frio que nasce daquele toque.

Mas, quando se conhecem, quando Evan ainda não sabe, o sorriso de Barty está sempre ali, para o garoto. Ele e Regulus, embora Regulus seja o menor dos três, adotaram Evan como o caçula do trio. Aquele que, se um dia fosse preciso, protegeriam como sua própria vida.

Barty viu Evan pela primeira vez no segundo ano. Já sabia quem ele era, é claro, a fama dos Rosier o precedia tanto quanto a dos Black com Regulus. Mas talvez com Evan fosse pior, vindo de um dos sagrados vinte e oito e arrasado depois de Grindelwald, razão de escárnio e sussurros horrendos, sangue puro e ainda sim, Deus, as expectativas que pousavam sobre os ombros do jovem – seria o próximo chefe da família, aquele a reerguer o sobrenome dos Rosier entre os sangue puro, o próximo do começo de uma era de grandeza e prestígio. Os erros de seus familiares, apagados; o nome que herdara dos pais, finalmente reestabelecido.

Mas naquele momento, era apenas Evan, pequeno demais para sua idade, com olhos frios encarando os dele, um machucado proeminente em sua bochecha. Barty percebeu ali mesmo que Evan nunca tinha trocado um soco na vida. Viria a se lembrar disso alguns anos depois, quando seus dedos traçariam as juntas pálidas do garoto.

— Está tudo bem? - Barty perguntou para o garoto encolhido no chão, cujo nome sibilava em seus pensamentos. Evan Rosier. Achou que ele fosse mais alto.

Evan assentiu para ele.

— Sabe, existem lugares mais quentes para ficar no inverno do que, bem, as masmorras. - ele continuou, tomando, apesar dos próprios protestos, um lugar ao lado de Rosier no chão gelado de pedra. - Ouvi dizer que a comunal da Sonserina é bem quente.

Evan deixou entrever um riso fraco, os ossos da bochecha proeminente marcando seu sorriso com uma covinha que Barty não consegue evitar de descrever como simplesmente adorável.

Se Barty acreditasse em amor a primeira vista, acreditaria também que havia sido ali. Bem ali, naquela masmorra gélida com seus ombros a quase um palmo de distância, que ele havia deixado Evan Rosier roubar seu coração.

Talvez fosse mais fácil, ter um momento para se lembrar ao invés de vários, esparsos pela sua memória. Evan rindo na aula de poções. Evan se aquecendo no mesmo sofá que ele na comunal, as mãos enroladas em volta de um copo escaldante de chá. Evan brincando com o gato de Pandora. Evan, Evan, Evan.

Barty podia muito bem odiar o loiro de tanto que o amava.

— Acho que é sim. - Evan respondeu baixo. Barty o daria coragem alguns anos depois, mas por agora, Evan falaria sempre em sussurros cúmplices com ele, até mesmo quando estava zangado.

Às vezes, Barty desejava que ele gritasse. Achava que poderia lidar melhor com os gritos do que com um sussuros raivosos do loiro. Ao menos, com os gritos ele já estaria acostumado.

— Meu nome é Barty. O seu é Evan, né? - o garoto assentiu para ele de novo. - Não quer ir até lá?

Evan negou com a cabeça veementemente. Parecia menor ainda.

— Você é amigo do Regulus, não é? Aposto que ele deve estar lá, Black não tiraria os olhos dos livros se pudesse. É para isso que eu sirvo. - o moreno abriu um sorriso radiante. - Para lembrá-lo que falta de sol o deixa depressivo. Mas acho que não teremos que nos preocupar muito nisso. Vamos lá, preciso apresentar a ele nosso novo sol.

Quando Barty o puxa de pé, em direção à comunal com passos confiantes sem que ele nem sequer olhe para trás, Evan agradece a ele mentalmente.

Barty podia não ser da Grifinória, mas tinha tanta coragem quanto um leão.

A porta da comunal se abrindo para eles foi um calor bem vindo para os ossos trêmulos de Evan. Até a voz de Mulciber se fazer ouvir bem alta, fazendo com que o loiro se encolhesse no próprio assento.

— Rosier! Saia da frente, Crouch, meu negócio não é com você. O pequeno Evan aqui tem que entender uma coisinha ou duas sobre o que significa estar na Sonserina. - o garoto estralou as juntas dos dedos, e puxou Evan pela gola de sua camisa, arrebentando um dos botões. Mesmo estando apenas um ano acima deles, Mulciber tinha o dobro do tamanho dos dois. - Você é uma vergonha pra sua família, sabia, Rosier? E vamos ter certeza que você saiba disso pelo resto da vida.

Evan sentiu algo quente e pegajoso lhe atingir o rosto. Cuspe. Porque Mulciber era o tipo de pessoa que cuspia.

— Ei, Mulcy. - A voz de Barty era carregada de arrogância, seus dedos tocando levemente o ombro do garoto com um sorriso de escárnio.

Então acontece. O punho cerrado de Barty atinge com força o maxilar de Mulciber, o suficiente para que o choque do golpe o faça soltar Evan. Barty rapidamente coloca o garoto atrás de si, os olhos focados no oponente que cambaleia um pouco. Barty sabe que não tem chance de ganhar essa briga. Mas ele não se mexe.

— Vamos, vem. - Barty provocou. - Ou será que está com medo?

As palavras parecem ser a bandeira vermelha que finalmente fazem com que Mulciber se mexa. Seus olhos faíscam, a respiração horrenda e pesada enquanto ele dá passos largos em direção a Barty, os punhos fechados.

— Escolheu o lado errado, Crouch. - ele arquejou. - Se sair agora, vamos aliviar a barra pra você.

Barty sorri de lado, o olhar se cruzando, apenas por um breve momento, com o de Evan.

— Sem chance.

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