𝑺𝑼𝑹𝑽𝑰𝑽𝑶𝑹𝑺 ʲᵒʰⁿ ʷᶦᶜᵏ (𝖾𝗆 𝖻𝗋𝖾𝗏𝖾)

꒰ 𝟢𝟢𝟣 ꒱ 𝖢𝖺𝗉𝗂́𝗍𝗎𝗅𝗈 ┆ 𝖢𝖺𝗆𝗂𝗇𝗁𝗈𝗌 𝖢𝗋𝗎𝗓𝖺𝖽𝗈𝗌 ☙

SEUS OLHOS VAGARAM presos através da janela do carro. Ela estava absorta em seus próprios pensamentos sobre fazer ou não fazer. Uma decisão difícil de tomar. Trair a alta-cupula ou obedecer todas as ordens que sua família lhe entregou e ceder ao fato de que deveria não contar para ele que a verdadeira causa da morte rápida e trágica de sua mulher foi culpa de Santino?

Ela estava preocupada com sua vida. Se decidisse seguir o seu lado justo e o seu senso de vingança e dor, ela estaria dando as costas a tudo o que realmente deveria lhe importar. Aquilo valia à pena? Ela deveria fazê-lo? Tinha de estar ali? Logo ali? Na frente da casa de John Wick tentando entender o que ela deveria fazer e o que importava mais...

Podia ter tomado aquela decisão difícil antes de sair de sua mansão, pegar o seu carro e dirigir até o bairro silencioso, mas por ser ansiosa demais ela fez a escolha cedo demais e agora estava naquele canto. Parada, olhos serrados, vestido solto e estampado de flores, pois Bellatrixie estava em seu estado mais calmo de paz. Ela necessitava estar. Iria ficar cara a cara com ele.

Seria terrível contar ela mesma, sendo a prima mais distante que Santino têm. Mais, ela tinha de ao menos tentar abrir mão de tudo o que conquistou durante muitos anos para ajudar alguém que precisava da verdade para deixar de se sentir culpado.

Todas as visitas do homem que lhe forneceu uma promisória dizendo ele que oferecia boa sorte, entregando nas mãos da esposa de Wick diversas flores e remédios que, nas palavras dele, poderiam ajuda-la a melhorar um pouco.

Tudo fazia parte de um plano nefasto onde ele achava que, se matasse e torna-se o processo do tumor mais rápido, John voltaria a trabalhar o mais cedo antes. Só que esse plano foi por água a baixo assim que ele começou a tirar folga e isso durou anos. Passando a cuidar de sua esposa com mais determinação, ele estava entregue aos cuidados que precisava ter. Sabendo que alguma hora à perderia.

O motivo de Wick acordar todo dia com um sorriso feliz em seu rosto se foi. A única coisa que sobrou foi dor, e a última coisa que ela lhe deixou de bom, depois da solidão e vazio, foram as memórias de muitos dias perfeitos que passaram lado a lado. Ele sentia muita saudade da presença dela, mas sentia muito mais falta dela mesma do que de senti-la por perto. Quando ele dava as costas ela estava lá, sempre para ouvi-lo sobre os seus problemas. Mais do que disposta a dar a ele conforto e amor.

O sentimento mais puro que poderia existir... Morreu, junto com o seu coração, que agora batia fraco e devagar. Abertamente afoito sobre as circunstâncias em que se encontrava. Ele olhava para a sua promisória e lembrava que dever obediência e comprometimento com a Máfia Russa.

Era saber e entender acima de tudo que o preço de viver era o mesmo que o da felicidade, e que Wick tinha que cumprir com suas obrigações, ainda que depois da perda da morte de Cintia. Poucos tinham e sabiam o que eram, outros aproveitavam-na desde cedo, pois são apenas os mais sortudos que não dão valor a vida do mesma maneira que ele.

Bellatrixie do lado de fora, com o carro plantado na vizinhança, olhava o quintal verde tentando focar em um ponto qualquer para se acalmar. Tomou um pouco da coragem que ainda lhe restava no peito e desceu do veículo depois de estacionar o Chevrolet preto de quatro portas deixando-o a beira do ar livro.

Com o seu pitbull e o pastor alemão dentro. Trixie era tudo, menos uma mulher desprotegida. Garantia a própria segurança do modo como lhe agradava. Era o único jeito de ter certeza que ficaria viva, treinou seus cães de guerra para todos os momentos mais inimagináveis possíveis.

Respirou fundo, sentindo o seu órgão cardiovascular arder de dentro pra fora. Seu sangue fervia de nervosismo. Se ela fosse obviamente mais forte daria para ver suas veias doloridas a mostra para todos os olhos alheios. Soltou o ar em uma bufada pelas narinas, alastrando as orbes verdes âmbar através da pequena estrada fina de cimento sobreposto no gramado vivo. Ela caminhou até chegar na porta deslizante de vidro e apertou a caminha, ainda que pudesse sentir todos os músculos do seu corpo se contrairem contra a pele alva.

Ele se aproximava cautelosamente sobre a porta. Em passadas devagares e firmes sobre o chão de mármore. O castanho escuro de seus olhos transpassaram por aquele vidro queimando a camada da bochecha de Bella, que corou abreviadamente com o encaramento do homem a sua frente. As roupas eram as mesmas que qualquer um que estivesse preso a uma rotina atipica, chata e costumeira usaria. Ele se compadeceu facilmente com a perda, tendo certeza de que Cintia estava em um lugar melhor.

Calça moletom cinza, camisa regata branca, cabelos somente pouco bagunçados, ainda que com os fios remexidos. Assim que ele deslizou a vidraça transparente para o lado, eles se olharam intensamente, como se tentassem desvendar os segredos mais obscuros um do outro a cada minuto que passavam curiosos sobre o outro. Em um simples choro retarguido do cachorro minúsculo de cor branca e manchinhas castanha clara, acordaram ambos com as púpilas dilatas.

── Em que posso ajudá-la? ── questionou.

E naquele fragmento de segundo, ela não pode mais fugir de sua obrigação, pois sabia que tinha um dever e compromisso a cumprir com a verdade e a honra, ainda mesmo assim, isso fosse letal para a sua vida. Já era tarde demais para andar para trás, e ela não tinha mais o direito de fugir e ficar calada.

Seu destino e toda a rota de seus caminhos, agora, estavam traçados com a de Johnatan Wick. Não havia uma escapatória, somente uma chance, e a única saída que ela poderia usar tinha sido fechada por ela mesma no primeiro minuto em que Bella pisou seus pés no território daquele homem.

── Sr. Wick, existe algo que preciso lhe contar, e isso pode ser perigoso para nós dois. ── com um levantar de sombrancelhas e curiosidade aguçada, ele abriu espaço em sua casa e a deixou entrar de vez.