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— Você viu? - Disse ele do outro lado do telefone.

— Sim. - Respondi acompanhado de um suspiro longo, não soube diferenciar se era cansaço ou abstinência.

Silêncio. Silêncio que parecia muito ensurdecedor. Apenas podia se escutar o barulho que as gotas de chuva faziam ao se encontrar-se com o chão.

Pude ver Chantilly caminhando calmamente até minha frente e parando, me olhou como se me perguntasse o que diabos eu estava fazendo. Sinto como se meu gato tivesse mais controle da vida do que eu mesmo.

— Chantilly está com saudade...

Ele riu. Baixo, como se tivesse se afastado do telefone para me impedir de escutar, mas eu ouvi. Pude lhe imaginar desviando o olhar como sempre fazia quando ficava sem graça e colocando sua mão contra a boca com a desculpa de que seus dentes eram amarelos demais para serem visto. Mas era o sorriso mais lindo.

Chantilly deitou a cabeça e me olhou com tédio, eu sabia o que ele estava pensando "não minta como se ele não soubesse a verdade". Lhe dei a língua e olhei para fora.

— Também sinto falta dele, as marcas dos dentinhos dele ainda estão na minha mão.

— Ele te via como um brinquedo de morder, você sabe.

— Sim, eu não me importava muito.

Silêncio outra vez. Era como se tivéssemos desaprendido a falar, voltei a idade de uma criança a qual a única coisa que sabe falar é resmungar que já está na hora do leite.

— Eu...

— Você quer sair? - Ele foi rápido ao me cortar. olhei para Chantilly, que parecia saber o que foi dito do outro lado da linha e olhei novamente para o lado de fora da janela, o arco-íris brilhando no céu. Era como se ele dissesse "não se preocupe, a tempestade passou e vai ficar tudo bem" eu sabia que era algo idiota de se pensar, mas algo em mim decidiu acreditar, assim como decidiu aceitar aquele convite inesperado.

Sorri, enquanto sentia meu coração acelerar mais uma vez como em tantas outras e respondi: - Para ver o arco-íris?

— Sim, para ver o arco-íris.

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