Collor, o humano

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4 de Dezembro de 1963


"O clima estava tenso durante aquela tarde, todos os servidores públicos ali sentados naquelas cadeiras estavam nervosos, como cidadãos de uma cidade do velho-oeste prestes a ver o confronto entre dois pistoleiros.

A metáfora não era tão diferente assim da realidade, já que as duas figuras mais importantes lá dentro, naquele momento, estavam armadas. Sentado, de braços cruzados, com suas sombrancelhas de vassoura e com um olhar tão penetrante quanto uma peixeira, estava o até então Senador Silvestre Péricles de Góes Monteiro. Alagoano, velho, respeitado e destemido, mas também muito rancoroso.

Do outro lado da sala, outro homem caminhava até a frente da Assembleia para discursar, o jornalista, intelectual, empresário, ex-governador e senador eleito em assenção: Arnon de Mello, meu... Pai. Apesar de ser menos ameaçador que o Péricles, também era de uma família poderosa na política do estado e amado por muitos habitantes lá, uma coisa que incomodou e muito o antecessor que pretendia colocar um poste para o suceder, mas que foi derrotado. O velho alguns dias antes havia feito um pronunciamento odioso, insultando meu pai de diversas formas possíveis, o desafiando á vir ao Congresso e dizendo, de palavra por palavra, que "Ele vai estar morto antes de chegar na cadeira do Senado".

Não duvide desse homem, ele era uma fera, literal filho do Ministro da Guerra de Getúlio Vargas, ex-militar e não tão diferente de qualquer mafioso que você vê em algum filme do Martin Scorsese. Se exibia como alguém rápido no gatilho, não tinha medo de seus inimigos e nem usava capangas para fazer o trabalho sujo, dizia num jornal que ele mesmo ceifava seus adversários. Mesmo com todo esse histórico ameaçador daquele senhor, Arnon de Mello não se dava por intimidado, aceitava o desafio de ir a Assembleia mesmo com o natural medo da morte... E com um revólver em sua cintura, é claro.

Papai finalmente chegou em sua cadeira, se sentando com uma satisfação grande e ignorando os seus colegas de Alagoas ali, olhando diretamente para seu único e maior inimigo, esse que ajeitou sua postura na cadeira e lambeu os lábios superiores, uma pequena demonstração de que também estava impaciente e ansioso. O senador eleito segurou seu microfone, limpando a garganta antes de discursar ali.

— Boa tarde, senhores senadores. Estar aqui não estava nos meus planos durante este dia, mas após receber os desafios e ameaças de Silvestre Péricles...

— Não ameacei ninguém. — O sobrancelha de vassoura interrompeu, fazendo o que um bom político sabe fazer de melhor: mentir. Meu pai, que recebeu educação da mãe, propriamente pediu silêncio.

— Ah cala a boca, filha da puta. — Retrucou calmamente, deixando seu inimigo furioso como um touro. Silvestre se levantou de sua cadeira na intenda raiva dele, apertando seus punhos enquanto tentava se aproximar de meu pai, dando a volta por àquelas mesas retangulares. — Filha da puta é você, crápula! Vou arrancar essa sua língua suja antes de você sair dessa sala!

— Vem arrancar agora se você é homem, porra! Vem, seu imundo! — Desafiou o mais velho e também se levantou, apontando seu dedo indicador contra o mesmo. Com a sua "síndrome de cowboy" atacando, Péricles começou a fuxicar o seu terno, aproximando sua mão para agarrar um objeto, uma arma de fogo... Iria pôr mais um para sua enorme lista de caixões a pagar. Meu pai? Meu pai foi mais rápido; Ao ver o que o velho estava tentando causar, então rapidamente pegou seu revólver dentro da calça, apontou para Silvestre e:

BANG!

BANG!

— DESGRAÇADO!

BANG!

Três tiros, sendo que antes do último, Arnon fez questão de insultar o seu rival uma última vez. Atirou para matar, e conseguiu... Só não foi bem como ele esperava.

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⏰ Última atualização: Jun 08, 2023 ⏰

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Psicocracia - Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora