CAPÍTULO VINTE E TRÊS

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"Sua chamada está sendo encaminhada para caixa postal..."

— Droga! — Resmungo, após encerar a chamada incompleta pela terceira vez. Onde será que Ricardo Fernandes enfiou o celular para não me atender o dia inteiro?

O dia já estava para escurecer e eu sem notícias do meu namorado desde que ele me deixou ontem aqui em casa.

Não, não acho que eu esteja exagerando no ciúme. A questão é que ele ficou muito estranho depois de atender aquela ligação misteriosa. Que problemas de família seriam tão sérios ao ponto de não poder me atender uma hora do dia?

Estou preocupada. Será que houve algo com Clarisse? Não, acho que se fosse com ela eu saberia. Deve ser algo grave.

Bebo mais um pouco do suco de graviola que havia sobrado do almoço. Eu estava sozinha em casa como de costume, papai voltou ao restaurante há mais ou menos trinta minutos. Ontem o restaurante recebeu convidados importantes que foram se reunir em busca de negócios. Então, o jantar que pensei em fazer para receber o meu namorado não iria dar certo de qualquer forma sem o meu pai aqui.

A campainha toca. Franzi o cenho. Quem será a essa hora? Não costumo receber visitas à noite. Caminhei até a porta principal da casa e olhei no olho mágico. Era o Miguel.

— Oi, Miguel. Entra. — Deixo espaço para ele passar para a sala e tranquei a porta.

— Desculpa vir sem te avisar, eu falei que te ligaria.

— Não tem problemas, sabe que eu prefiro conversar pessoalmente. — Sorri para ele.

— Então, está livre hoje? Na galeria você disse que ainda poderíamos sair.

Me recordo rapidamente daquela situação constrangedora no dia da exposição.

— Miguel, eu quero deixar claro que eu não gostei daquela situação. Você falou aquilo com a intenção de provocar o Ricardo, que é o meu namorado. Peço que não faça mais isso, tá bom? Quero manter minha amizade com você.

O homem em minha frente fica sério.

— Peço desculpas, Liv. Não foi certo mesmo o que fiz naquela noite. — Miguel assume em um tom entristecido. — Porém, eu também peço que me entenda, você sabe dos sentimentos que guardo e quando vi vocês dois finalmente juntos foi como se me esfaqueasse no peito.

Miguel diz, calmamente olhando nos meus olhos. Senti que falava a verdade. Meu Deus, será que eu mantenho a minha amizade com ele? Ricardo estava certo em duvidar das intenções de Miguel para comigo.

— Eu posso até entender, Miguel, tudo isso que você fala. Eu só preciso que aquilo não se repita mais. Então, se você preferir que me afaste eu entenderia.

— Não, não — Miguel responde rápido. — Quero te ter por perto, Olívia. Mesmo que sejamos apenas amigos.

Balanço a cabeça e logo soltei a respiração.

— Agora que conversamos, podemos dar uma volta. — Falei tentando amenizar o clima tenso que pairava entre nós. Tranquei a porta de casa e entro em seu carro.

— Está com fome? Podemos ir comer algo diferente. — Miguel pergunta assim que damos a volta na rua. Ele dirigia devagar.

— Não, comi ainda há pouco. — Lembrei do que estava a me preocupar desde ontem. — Miguel, você sabe se aconteceu algum problema grande na empresa que trabalha?

— Nada que não possa ser resolvido. Por que essa pergunta aleatória? _ Pergunta-me, parecia confuso.

— Não é nada demais. — Minto, pois pensei nisso o dia todo. — É que Ricardo disse que tinha um problema de família para resolver e até agora não tive notícias dele.

O renascer do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora