Parte I

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O que acontecia no coração dos dois era algo incerto para se descrever com exatidão, mas o resto do mundo suspeitava de uma linha tênue entre a tristeza e a alegria, entre a nostalgia e a gratidão.

No campo do Parque dos Príncipes, acontecia uma celebração fervorosa, e eles participaram por um curto tempo, abraçaram e apoiaram seus colegas de time, participaram das fotos, dos vídeos, sorriram como se estivessem compartilhando daquela felicidade alheia, mas a verdade era outra, era mais como um sorriso de alívio, embora doesse no peito o encerramento daquele ciclo, ao qual ambos falharam em manter. Messi fez o que precisava fazer e então saiu, simplesmente deixando o resto da equipe em comemoração para trás, ele cumpriu um dever, mas dentro dele não havia aquele sentimento festivo, ele não queria passar por aquilo de novo, ele odiava despedidas, ele odiava tudo sobre isso.

E no meio da bagunça, Neymar acabou ficando para trás, rindo de alguma coisa que Ramos disse, mas estranhando não ouvir a risada do seu companheiro. Ele virou-se para trás, e seu sorriso morreu no mesmo instante, ele não encontrou Messi e rapidamente começou a procurá-lo entre os outros jogadores, girou o corpo em todas as direções, os olhos observando cada movimento, embora Messi fosse baixinho, seria um absurdo perdê-lo daquele jeito, a menos que ele tenha encolhido mais alguns centímetros, era impossível, por isso Neymar logo concluiu que ele foi embora de fininho, sem que ninguém percebesse.

Desviando-se dos seus colegas, Neymar passou um por um, quase correndo, um pouco apavorado, com medo de ter percebido sua ausência tarde demais. Ele sentiu um aperto no peito, claro que Messi fugiria, não gostava daquele tipo de bagunça, não apreciava aquele tanto de barulho, claro que seria tudo demais para ele, drenaria suas energias, mas Neymar distraiu-se totalmente e julgou-se duramente por isso. Que belo parceiro ele foi, devia ter prestado mais atenção nele, em seu semblante, em sua linguagem corporal, ele não estava nem um pouco confortável naquele meio, devia ter percebido mais cedo, devia tê-lo socorrido antes.

Quando conseguiu retornar para a entrada, seu tornozelo reclamava pela breve corrida, mas teria corrido muito mais se não fosse por aquela maldita cirurgia que precisou fazer por causa daquela maldita fratura. Ele disfarçou um pouco, acenou para alguns seguranças, sabia que estava sendo constantemente vigiado, sabia das câmeras, mas no fundo ele não dava a mínima, e continuou caminhando meio rápido e exasperado até o local desejado, onde tinha esperança de encontrá-lo.

— Leo? — Neymar chamou, invadindo o vestiário sem conseguir pensar direito no que diria se o encontrasse ali.

De fato, Messi ainda estava no vestiário, e seu corpo tremeu levemente ao ser chamado, ele sabia que tinha sido discreto ao sair, mas também estava ciente de que jamais poderia esconder-se de Neymar por tanto tempo. Fazia uns bons minutos que estava ali, mas até então tinha somente trocado a calça e o tênis, quando tirou a camisa do time, Messi permaneceu a segurando com força nas mãos, a encarando de maneira séria, analisando fixamente o número trinta e pensando em muitas coisas de uma vez. Sua cabeça doeu.

— Aqui. — Ele respondeu.

— Oi! Você tá aqui ainda, que bom. — Neymar disse, ofegante e nitidamente aliviado, seguindo o rumo daquela voz. — Desculpe por não ter acompanhado você.

Messi virou-se para ele, o encarando meio desconfiado, a camisa ainda presa em uma das mãos.

— Na verdade, eu fugi quieto, você estava se divertindo, não queria atrapalhar. — Um pouco preocupado, Messi rapidamente encarou o pé direito do brasileiro e pôde perceber que ele não estava o encostando completamente no chão. — Você correu até aqui?

— Eu corri. E você sabe que não atrapalha em nada, eu só tô aqui por causa de você. Se você não estivesse aqui, eu teria inventado qualquer desculpa pra não vir. — Neymar aproximou-se, meio manco, seu tornozelo estava realmente incomodando agora que seu sangue começava a esfriar, e por isso, Messi o encarou com certa desaprovação. — Eu tô bem. Isso não é nada.

Una vez más | NeyMessiOnde histórias criam vida. Descubra agora