Born to me, Pietro Checchi

01

1 de fevereiro de 1987

Nasce Harry Pietro Checchi

19 de janeiro de 1997

Nasce Mila Ferrari

22 de janeiro de 1997

Narrador

Naquele dia o sol raiava na cidade cinza chamada Londres. Pietro estava na sala jogando em seu Nintendo 64 azul, seus olhos de esmeralda encontravam-se grudados na tela da TV, 007 Contra Goldeneye era seu jogo preferido de todos os tempos. Pena que Laura só o deixava jogar por horas a fio nos fins de semana, ele não achava justo, porém, aproveitava cada segundo tentando desvendar os segredos na pele de James Bond, apurando sua sagacidade e acertando os caras maus com suas inúmeras opções de armas.

- Pietro querido. - Laura adentrou a sala, tapando a visão do garoto, que se esticava de todas as maneiras para enxergar a sua frente.

- Sai mãe, senão eu vou morrer. - Zangou-se ele.

- Ah, desculpe. - Ela deu uma risadinha e dois passos para a direita.

Pietro desfez sua carranca e voltou a atenção para o jogo.

- Quero que você venha comigo até a casa dos Ferrari . - Ela lhe pediu.

- O que eu vou fazer lá? - Perguntou-lhe sem tirar os olhos dos gráficos na tela.

- A Clara acabou de chegar da maternidade. Ela teve um bebê. Gostaria que você me acompanhasse querido.

- 'Tá bem. - Ele revirou os olhos e deu pause no jogo. - Mas não quero demorar, 'tô quase perto de descobrir como escanear o Zeigfried.

Laura riu do filho e de suas palavras ininteligíveis para ela, ela havia separado de seu pai a pouco mais de dois anos, Des sempre se encarregava dessa parte digamos, masculina. Pietro agora tinha dez anos, Laura voltou a trabalhar já que considerava sua idade razoável para ficar só em casa. Os Ferrari eram bons vizinhos, ficavam de olho na casa e em Pietro enquanto Laura batalhava sua vida.

Eles moravam em um residencial onde os quintais não eram separados por muros, isso contribuía para que a costumeira frieza dos ingleses fosse quebrada, isso não era uma regra, mas aconteceu entre os Ferrari e os
Checchi . As famílias eram amigas e compartilhavam alguns momentos entre si. Laura bateu na porta e uma senhora idosa a abriu, ela era mãe de Clara.

- Maria . -Laura abraçou a mulher de cabelos grisalhos.

- Laura querida. Esse é o Pietro? - Genevieve sorriu para o garoto que reparava na cara enrugada da mulher. - Está um rapazinho. E bonito.

Pietro se encolheu envergonhado, ficava pensando o porque das senhoras amigas de sua mãe lhe dizerem sempre o quanto ele estava crescido e bonito. Era constrangedor para ele.

- Entrem por favor. Vou levá-los até o quarto.

Pietro observou a casa, já estivera lá algumas vezes mas nunca havia reparado nos detalhes, uma escada em caracol se erguia a sua frente, ela lhe parecia imponente ou talvez ele que fosse pequeno demais, pensou. Ele teve vontade de subir aqueles degraus, mas infelizmente a senhora os guiou pelo corredor a frente, logo depois para um quarto a esquerda. Laura entrou primeiro seguida de Maria, Pietro se ateve a um quadro na parede, era uma pintura modernista de algumas crianças brincando de roda, Cândido Portinari era o dono da obra, ele não entendia muito de arte e achou estranho tudo ser tão quadrado, mas a cena era alegre, as cores vivas e de repente lhe deu uma vontade imensa de brincar na rua, coisa que não fazia há muito, muito tempo. Ele ouviu um choro baixinho, então lembrou do porque de estar ali.