Prólogo

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Áurea, agosto de 1803

Os últimos trinta minutos me ensinaram uma lição valiosa: o tédio independe de quantas pessoas estão ao seu redor.

E eu deveria ter chegado a essa conclusão meses, senão anos, atrás.

Observei a sala em busca de algo que poderia ter se tornado mais interessante do que quando entrei, mas tudo continuava o mesmo. Os mesmos vasos de porcelana branca abrigando os mesmos buquês de rosas cor-de-rosa e brancas; os mesmos quadros retratando cenas bucólicas que tinham os mesmos balanços ou muros de pedra onde damas pálidas se sentavam, observadas por cavalheiros com rostos rechonchudos de querubins.

Tomei um gole de chá e me controlei para não fazer uma careta quando o líquido frio tocou minha língua. A linha entre deixar um encontro social cedo demais e em um horário aceito era tênue, alguns consideravam vinte minutos, outros trinta. A não ser que você fosse um homem cortejando uma mulher, nesse caso quinze era o suficiente para fazer a anfitriã lhe lançar mensagens silenciosas que diziam "saia logo, já ficou aqui o suficiente".

Não que eu soubesse por experiência própria. Primeiro, e mais óbvio, eu não era um homem. Segundo, e incompreensível para todos, eu tinha desencorajado todos os cinco cavalheiros que abordaram a ideia de me fazer uma visita. Não era minha culpa se cada um deles parecia dez vezes mais entediante do que reuniões como estas.

— Katrina, querida, você está quieta demais. Está tudo bem?

Repreendi-me em silêncio por não ter pegado um dos biscoitos da bandeja. Manter-se calada por estar mastigando era sinal de boa educação, mas sem nenhum motivo aparente era uma declaração de antipatia.

Ou de tédio.

O que era ainda mais ofensivo para uma anfitriã.

— Perdoe-me, milady, receio ter me distraído.

Lady Berilian abriu um sorriso comedido e assentiu, seus cachos loiros mal se moveram no processo. Elizabeth e Sophia viviam dizendo que eu tinha sorte por ter um cabelo ondulado que mantinha os cachos sem muito esforço, mas nenhuma das duas tinha o direito de reclamar quando havia mulheres como lady Berilian, obrigadas a passar sabe-se lá o que nos fios para mantê-los no formato que estava na moda.

E eu estava divagando de novo.

Maravilha.

— Sua irmã estava radiante semana passada — lady Berilian tomou um gole de chá, fazendo uma pausa antes de tocar a sineta ao seu lado.

— Ela foi a noiva mais bela da temporada — uma das senhoritas Newman ofereceu. — O vestido cor-de-rosa combinou com o cabelo preto dela e aposto que teria ficado ainda melhor na senhorita, por conta dos olhos azuis.

Ao seu lado, sua irmã assentiu com vigor, os olhos arregalados como se fosse perder algo importante se piscasse. Eu tinha desistido de diferenciá-las logo que cheguei, mesmo que não fossem gêmeas, elas eram idênticas, e a facilidade de confundir um "Marina" com "Mariana" tinha batido o martelo para a minha decisão.

— É muita gentileza sua dizer isso, senhorita Newman.

— Ora, quem sabe não veremos a senhorita Katrina em um vestido tão belo quanto o da senhorita Sophia ano que vem.

É claro que a declaração tinha que ter vindo de lady Cristallis. E é claro que ela foi feita em um daqueles momentos raros em que todas as conversas da sala pausaram.

— Não há motivo para ter pressa.

— Talvez não, mas é preciso ficar atenta, querida. — Lady Cristallis trocou um olhar com sua companheira de sofá. — Você sabe o que dizem sobre quem escolhe demais.

A Tentação de Lady KatrinaOnde histórias criam vida. Descubra agora