Capítulo 1

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Áurea, julho de 1804

Katrina

Sonho.

Cinco letras que continham um mundo inteiro. A esperança de uma vida toda. Talvez por isso a palavra fosse tão pequena, não sova imponente, tampouco segura de si, mas simples, frágil; como se seu significado pudesse sair pelos cantos a qualquer momento, deixando apenas um fio de memória para trás.

Verdade fosse dita, nunca tive um grande sonho que me mantivesse acordada à noite ou fantasiando durante o dia como Sophia, eu já perdera a conta de quantas vezes encontrara minha irmã mais nova suspirando com o olhar perdido no jardim do castelo, ansiando pelo dia que viveria uma história de amor digna das páginas e palcos. O mais surpreendente é que ela conseguiu, a versão mais realista, claro, mas uma prova incontestável de que nem mesmo o destino tinha coragem de negar os desejos dela. Seu casamento com Harry ainda era comentado pelos salões como o maior exemplo de amor juvenil dos últimos tempos.

Porém, essa era Sophia, eram os sonhos dela.

O meu era muito mais jovem. Tinha onze meses, para falar a verdade, nascido logo depois da minha conversa com Lily, em agosto passado. Mas nem por isso era fraco, ele fazia meu coração acelerar e me deu um objetivo.

Um propósito.

Algo que nenhum cavalheiro da nobreza iria querer para sua esposa.

Encarei o prédio elegante do outro lado da rua, a fachada antiga era mantida impecável pelo que, sem dúvidas, era uma mistura de muito dinheiro, horas de trabalho e um toque de mágica. Não havia sinal de limo nos tijolos claros e eu seria capaz de apostar que não encontraria uma única mancha nos vidros das janelas amplas. Até mesmo o porteiro em seu uniforme escuro parecia ter sido posicionado com precisão milimétrica.

Uma carruagem passou pela rua, obstruindo a visão do hotel apenas por tempo suficiente para que meus olhos buscassem o letreiro elegante.

Pérola.

O primeiro grande hotel da capital, tão icônico quanto o homem que o gerenciava. O homem que, lancei uma olhadela para o relógio de bolso que meu irmão tinha me emprestado, eu teria que encontrar em sete minutos.

Respirando fundo e soltando o ar devagar, atravessei a rua. Não havia motivo para estar tão nervosa, ainda assim meus dedos agarraram a pasta de couro como se minha vida dependesse disso. O que não era um exagero muito grande.

Se o porteiro notou algo estranho em meu rosto, não deixou transparecer, abrindo a porta para que eu entrasse.

No segundo seguinte, eu estava lutando contra o impulso de levar a mão ao rosto para ter certeza de que meu queixo não tinha caído.

O saguão à minha frente podia muito bem ter sido tirado do palácio real, com todos os detalhes dourados, o teto abobadado e o piso de mármore. Apenas isso seria motivo suficiente para deixar qualquer um atordoado, mas havia a pintura que ocupava toda a parede oposta. Os penhascos brancos que deixaram a província de Akitnos tão famosa contrastavam com um mar impossivelmente azul e um céu alguns tons mais claros. A vastidão da paisagem escapava da moldura e preenchia o ambiente de tal forma que eu quase podia ouvir as ondas quebrando na praia e os gritos das gaivotas.

A Tentação de Lady KatrinaOnde histórias criam vida. Descubra agora