1.

156 20 2
                                        

PEDRO.

a mãe de rodrigo se debruçou sobre o corpo do menino na maca dos bombeiros. as imagens na televisão apresentavam imagens de um grupo muito grande de pessoas decididas a acabarem com as corridas de rua na cidade. nunca um acidente havia despertado tamanha revolta pública quanto o ocorrido de Rodrigo.

talvez fosse porque o desgraçado é filho do governador.

"é" porque ele está vivo. Rodrigo sobreviveu. Apesar das três costelas quebradas e do pulmão perfurado. porém, as imagens da cena de um dos meninos mais ricos da cidade sendo tirado do quilômetros 250 estavam estampadas por toda a cidade, acompanhadas pelo clamor público para o fim das corridas de rua na cidade.

pessoas morriam o tempo inteiro em acidentes, nada nunca foi feito. mas dessa vez, todo mundo parecia irritado. a semana posterior ao acidente de rodrigo foi uma dor cabeça do caralho para os maiores frequentadores do clube: eu incluso. queriam achar um responsável. mas nunca pensaram que o único culpado poderia ser a porra do governador deixar a merda de um carro de luxo na mão do seu filho de 17 anos.

no final da contas, Rodrigo vai passar por infinitas sessões de fisioterapia, mas vai ficar bem.

diferentemente de mim, que possivelmente serei processado.

— que merda — minha cabeça parecia não querer se sustentar em cima do meu corpo a uns dias. desde o acidente, uma porrada de jornalistas não saem de trás de mim: os pais de Rodrigo decidiram que me acusariam de aliciamento de menores de idade ao crime. o que é irônico, já que eu era a única pessoa que se recusa a correr contra Rodrigo na maioria das vezes. não porque ele era menor de idade, mas porque ele era péssimo.

mas de qualquer forma, eu dúvido que ele pare de correr. ele vai se recuparar, sair da fisioterapia, e voltar a correr.

eu fiz o mesmo na idade dele.

— lucas tá te ligando — doa grita, escorado no sofá enquanto jogava algo na sala — já é a quinta vez.

— porra — suspirei — ele vai me matar

— eu disse para ele que você alucinou antes da corrida.

sai da cozinha, encarando o Carlos no sofá da sala completamente incrédulo com o que tinha ouvido. eu não tava maluco. tinha alguém em frente ao meu carro naquele noite. eu falei com ela e ela respondeu. essa é a verdade.

— Pedro, tá tudo bem, você travou pela primeira vez — Carlos levantou, desligando a televisão — você alucinou porque ficou com medo—

— eu não fiquei com medo— interrompi, entredentes — alguém falou comigo naquela noite, você só não viu ela.

— sim — ele revirou os olhos — nem eu e nem as outras mil pessoas que também estavam lá. você precisa descansar, pedro. essa é a realidade. você tá finalmente pirando depois de passar quatro anos seguidos quase morrendo praticamente todos os dias.

talvez Doa realmente estivesse certo e eu só precisasse descansar. tudo que eu tenho na minha cabeça são flashs do que poderia ter acontecido ou não naquela noite.

— tô començando a ficar o que os caras chamam de cabuloso — digo, rindo. carlos não pareceu achar graça, e esticou o celular para mim, me obrigando a atender a chamada de lucas. suspirei fundo já esperando o que viria do outro lado da linha do celular.

lucas era quase meu irmão mais velho — era o que eu podia considerar como um. eu não sabia quem eram meus pais, então conheci Lucas no clube quando tinha uns 11 anos, e ele fez o trabalho de cuidar de mim desde então.

speed - [♡]; orochinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora