CAPÍTULO 15

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     Argon não precisou do cavalo para ir até onde queria, e enquanto caminhava, flashes do dia e da noite anterior assolavam a sua mente repetidas e repetidas vezes, fazendo-o se sentir como nunca antes. Seus dedos estavam trêmulos com o esforço para segurar aquela maldita espada durante horas e horas seguidas, matando, destroçando, se defendendo... O seu corpo inteiro estava protestando sem parar, mas ele sequer ligava para isso. Aquela não havia sido a batalha mais difícil que ele já havia lutado, mas foi a que o deixou mais revoltado.

     Lembranças do pandemônio que foi aquela maldita luta ficavam indo e voltando, fazendo-o cerrar os punhos enquanto caminhava entre as barracas. Arlant ganhou e fez com que os Arandônianos restantes fugissem como o bando de covardes que eram, como sempre acontecia. Os inimigos estavam maior número, mas os Arlantianos sempre foram superiores fisicamente e em treinamento de batalha, e mesmo que só tivessem metade do exército de Arandônia em quantidade, cada soldado valia por três daqueles malditos. A questão era que apenas poucos tinham armas e armaduras adequadas. Os arqueiros não tinham flechas suficientes; os soldados estavam não com armaduras boas o suficiente para impedir golpes (fora aqueles que sequer tinham uma armadura), além de que as espadas estavam desgastadas e eram facilmente quebradas.

     Argon viu metade dos seus homens ser dizimada em um piscar de olhos, sejam por flechas, lanças ou por covardes que lutavam em grupo contra um só homem. Os números não estavam à favor de Arlant, mas eles ganharam aquela maldita batalha com perseverança e ódio, fazendo cada um daqueles malditos de verde e dourado sofrer.

     A pior parte definitivamente foi ao amanhecer, quando a batalha havia acabado e eles precisavam ajudar os feridos e fazer piras para os mortos. Arandônia era tão covarde que ao fugir deixavam até os seus feridos para trás, e esses eram mortos sem piedade alguma. A cidade naquele momento não passava de um lugar fantasmagórico, onde as poucas pessoas que resolveram não fugir quando viram os exércitos inimigos foram mortas sem motivo algum. Argon ordenou que cada Arlantiano morto, seja do exército ou cidadão daquela cidade, fossem velados corretamente. Cada corpo iria ser queimado em uma pira individual, levasse o tempo que fosse para conseguir a lenha necessária. O general mandou tirarem os telhados de algumas casas destruídas para usar as vigas de madeira como lenha, além de as piras fossem feitas nas dunas, onde a areia quente iria acelerar a queima.

    Arandônianos foram queimados numa imensa fogueira. Eles não mereciam uma pira unitária, além de não terem qualquer tipo de ritual fúnebre. Só seriam queimados para não deixar mal cheiro ou ossos putrefatos espalhados pela cidade.

     Agenor e Kavinsk foram responsáveis por contar quantas baixas haviam no exército e nos civis da cidade, e o número era a coisa que mais tinha assustado Argon. Cerca de oitocentos soldados morreram (pouco menos da metade de todo o batalhão) e trezentos e cinquenta civis.

     Mais de mil mortes em poucas horas. A crueldade da verdade fazia a visão periférica de Argon embaçar de tanto ódio enquanto andava pelo acampamento, tendo total ciência de que estava sendo seguido por aquelas centenas de soldados. Ele estava se sentindo tão imundo quanto aparentava estar, com sangue seco dos inimigos, suor e sujeira espalhados por cada centímetro da sua pele exposta.
     
    Assim que chegou até a gigantesca tenda em que aquele maldito rei estava, o homem saiu de lá de dentro, como se pressentisse a chegada de Argon. Ele já não estava mais mancando, apesar de visivelmente estar sentindo dor onde Argon o havia socado.

     — Argon, você vai ser desligado do meu exército. Não será mais general, e deveria me agradecer por não mandar enforcar você por ter tocado em mim. — Disse Érato, dando um passo para a frente. Da tenda saíram cerca de vinte guardas com espadas desembanhadas  

GUERRA E DESEJO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora