"A doce e miserável vida passava diante de meus olhos. Vidrada naquilo que tanto me puxava para o doce dos mais terríveis pesadelos, vejo - me com medo diante aquela criatura horrenda, arrependendo - me de entrar naquela maldita sala dos mortos."
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Nunca fui normal durante minha vida, as pessoas me chamavam de monstro, ou falavam que eu era aquilo que iria os atormentar durante suas noites de sono. Meus pais se separam quando eu tinha 8 anos, por causa do meu dom de criar remédios para curar as piores doenças que assombravam a corroer as almas e os corpos daqueles que ousariam a respira - lá.
Quando se separaram, avistei me obrigada a procurar um lar que me aceitasse, porque os meus pais foram incapazes de me aceitar. Andando com os pés descalços na extensa rua de pedras pontiagudas, sentia gotas de água da chuva densa cair sobre minha face desnuda, minhas vestes rasgadas pelo longo caminho que passei a andar, sentia os mais sensíveis sons da noite atingirem- me como cascatas de uma cachoeira. Ao longe vislumbrei aquela imensa igreja feita do mais puro ouro maciço e uma grande cruz de pedra ao seu centro. Sentia minhas pequenas pernas cedendo antes mesmo de minha figura pequena chegar ao imenso portão petrificado da igreja, meu cérebro vagava durante diversos tipos de pensamentos que poderia me corroer a qualquer segundo que se passava.
Eles vão me aceitar? O que vai ocorrer se eles forem incapazes de aceitar como meus pais não aceitaram?
Arfando durante minha longa caminhada, sinto meus pequenos pulmões arderem necessitando do mais doce e puro ar. Minhas pequenas pernas haviam cedido metade do caminho até a imensa igreja a minha frente, meus olhos haviam se inchado pelas lágrimas que deixaram rastros nas minhas bochechas, antes da minha consciência me deixar, pude ouvir o farfalhar de chaves tentando abrir o imenso portão da igreja.
— Meu senhor, como a chuva está densa hoje— O que é isso? — Se eu tivesse aguentando mais um pouco, veria a senhora vestida de feira a minha frente com um molho de chaves em suas mãos enrugadas.
— Olhe isso padre Ernesto, veja como essa pequena criança está ferida. — A senhorinha com vestes da igreja diz enquanto segura meu pequeno queixo com seus dedos enrugados, direcionando suas palavras ao padre ao seu lado.
— Emília, não toque na criança, se não vai machucar ela ainda mais. — O mesmo diz calmo sobre o assunto que está tentando lidar ali, ouvindo isso, Emília afasta seus dedos de meu queixo e se afasta. — Pequena criança, poderia nos dizer qual é o seu nome. — Sinto o dos mais piores medos invadir - me como cobras vigiando sua pequena presa, sinto os olhares dos mesmos perfurarem cada pedaço de minha alma, ainda relutante, decido falar.
— Abigail. — Minha voz havia deixado minha garganta com um suspiro trêmulo no final, com medo do que iria acontecer se descobrissem quem eu sou. Desviando o olhar para outro lado da sala da igreja, vejo a senhora que estava ao lado do padre ficar pálida igual a um lençol.
— Abigail... Sinto que já ouvi esse nome em algum lugar. — De repente a senhorinha pega um crucifixo de sua bolsa e aponta o mesmo para mim murmurando palavras inaudíveis.
— Feira Emília, por favor abaixe esse crucifixo. — A voz do padre é calma, mas pude sentir a raiva escondida em seu olhar.
— Mas padre! Essa criança é amaldiçoada! — A mesma diz com medo em seus olhos enquanto murmura uma espécie de benção com pequeno crucifixo.
— Emília, Abigail não é amaldiçoada, tenho certeza que são só rumores. — Ernesto está me olhando a feira com ternura e gentileza em sua voz enquanto dirige a ela essas palavras. Fico encantada com a afirmação do padre sobre mim e sinto que posso confiar nele a quaisquer circunstâncias que podem ocorrer.
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𝑩𝒆𝒎 𝑽𝒊𝒏𝒅𝒐 𝑨𝒐 𝑷𝒖𝒓𝒈𝒂𝒕𝒐́𝒓𝒊𝒐
Paranormal" Se você tivesse duas escolhas. Qual você escolheria? Viver ao lado em um mundo quebrado pela ganância e luxúria, ou viver no purgatório e enfrentar seus demônios mais ocultos? "