Entre Lobos

Capítulo 20

"Lembranças agridoces
Isso é tudo que estou levando comigo
Então adeus, por favor, não chore

E eu sempre vou te amar
Eu sempre vou te amar..."

I will Always Love You - Whitney Houston

Ainda não tinha tido coragem de abrir a carta e nem o calor que percebi ter um fecho. Escutava com atenção tudo que Kyle me dizia. Eu realmente estava em choque, e sinceramente não sei se quero descobrir mais. Eu gostava da vida que tinha, não queria descobrir um passado desastroso. Não quero saber que perdi minha mãe por uma questão boba. Não queria detalhes de como um rei vampiro tinha achado sua outra metade e, que ela era minha mãe. Que eu era filha de um rei vampiro. Também não queria saber com detalhes o preço que ela pegou por esse "amor proibido".

Mas como nem tudo na vida é fácil, nem tudo é somente branco ou somente preto. Sempre tem um meio termo. Sempre tem um porém. Sempre tem mais. Eu precisava abrir e descobrir com todos as letras o perigo que eu tanto corria. Precisava entender onde eu me encaixa naquela história. Precisava entender porquê só agora todas essas coisas vierem à tona. E, entender quem eu realmente sou. Quem a Clover realmente é. Passei dezesseis anos da minha vida achando que era só um acaso ou uma feliz obra do destino eu ter vindo parar entre tantos lobos. Pensando ser uma humana talvez com sorte por conhecer um outro mundo que alguns humanos sequer fazem ideia que exista. Mas agora vejo que tudo teve um começo, teve uma história, teve um sacrifício para me manter viva e bem. De uma forma ou de outra, era meu destino estar aqui.

Então é por tudo isso que irei ler a carta e irei descobrir o que esse colar escondia de todos, mas não de mim. Um colar que foi deixado por minha mãe biológica, a mãe que me deixou aqui na esperança de me salvar.

— Você pode abrir em casa. — Kyle diz cauteloso. Talvez percebendo a batalha interna que estava sendo travada.

— Não. — digo decidida. Suspiro fundo abrindo primeiro a carta.

Queridos, lupinos!

Deixo com vocês meu bem mais preciso. Peço que cuidem da minha menina por mim. Conheço as lendas e sei que são verdadeiras. Vocês não me conhecem e eu muito menos vocês. Mas sei que são pessoas boas. Me envolvi com os frios e estou prestes à partir dessa vida. E eu não tenho mais ninguém. Me disseram que com vocês ela ficaria segura. Não deixem os frios saberem da sua existência. Por favor, cuidem dela. Deem amor e carinho.
Deixo esse colar para que futuramente ela possa achar seu caminho e conhecer sua verdadeira história.
Me perdoe, minha amada filha. Queria ter te visto crescer, visto se tornar a bela mulher que vai ser. Desculpe não está presente, mas sempre estarei olhando por você.

Com amor,
Helena.

Helena era seu nome. Um belo nome. A carta não tinha nada de muito diferente do que Kyle já havia me dito. Uma humana que tinha se envolvido com um vampiro. Mas a carta não tinha muitas informações me explicando como tudo isso aconteceu, ou o real motivo da sua morte. Era uma carta vaga.

Meu coração aperta quando percebo que poderíamos ter tido uma vida juntas se as circunstâncias fossem normais. Mas penso em Elsie, minha mãe. Que fazia muito bem seu papel de mãe. Minha melhor amiga. Uma mulher carinhosa e bondosa. Sinto que não suportaria se fosse diferente, talvez por não ter conhecido Helena. Mesmo assim, era doloroso saber que minha mãe me amava, mas foi tirada de mim.

— Você está bem, Flor? — Kyle se aproxima de mim ainda sentado na toalha.

— Estou. — tento lhe dar um sorriso indicando que sou forte. Que aguentaria saber os detalhes.