Eu observava minha mãe. Para uma Cinco, ela até que estava bem robusta, o que era estranho. Não era uma glutona, mas também não havia fartura em casa. Talvez fosse assim que o corpo ficava depois de cinco filhos. Os cabelos dela eram castanhos, como os meus, mas cheios de fios brancos, que tinham aparecido de repente e aos montes uns dois anos antes. Umas ruguinhas sulcavam o canto dos olhos, embora ainda fosse bastante jovem, e eu podia reparar que ela circulava pela cozinha com as costas curvadas, como se carregasse um peso invisível nos ombros. Eu sabia que minha mãe sentia um grande peso nas costas. E sabia que foi por isso que ela passou a tentar me manipular sempre que podia. Já brigávamos bastante sem essa tensão extra, mas, à medida que o outono vazio se aproximava, ela ficava cada vez mais nervosa. E eu sabia que minha mãe me achava despeitada por não querer nem preencher um formulariozinho besta. Mas havia coisas — coisas importantes — que eu amava. E aquela folha de papel se erguia como um muro entre mim e o que eu queria. Talvez eu quisesse coisas idiotas. Ou que não conseguiria alcançar. Mesmo assim, eram coisas minhas. Não estava a fim de sacrificar meus sonhos, independentemente do quanto minha família fosse importante para mim. Além do mais, já tinha feito bastante por eles.
Eu era a filha mais velha em casa depois que rose se casou e eunwoo foi embora. Assumi o novo papel o mais rápido que pude. Dei o meu melhor para ajudar. Estudava em casa nos horários que arranjava entre os ensaios, que tomavam a maior parte do dia, já que eu tentava
dominar vários instrumentos musicais e aprender a cantar. Mas, com a chegada da carta, todos os meus esforços perderam o sentido. Na cabeça da
minha mãe, eu já era uma rainha.
Se fosse mais esperta, eu teria escondido aquele aviso antes que meu pai, Ning e gerad chegassem. Mas minha mãe já o tinha escondido na roupa, e o sacou no meio de uma refeição.
— “Para a casa da família Kim” — disse cantando. Tentei pegar o papel da mão dela, mas era rápida demais para mim. Mais cedo ou mais tarde, todos acabariam descobrindo mesmo. Só que, se minha mãe fizesse do jeito dela, todos
ficariam a seu lado.
— Mãe, não! — implorei.
— Eu quero ouvir! — gritou Ning, o que não me surpreendeu.
Minha irmã mais nova era idêntica a mim, só que três anos mais nova. Se nossa aparência era praticamente igual, nossa personalidade estava bem longe disso. Ao contrário de mim, ela
era extrovertida e otimista, e só conseguia pensar em meninos. Ning ia achar toda a história incrivelmente romântica. Senti minhas bochechas corarem de vergonha. Meu pai ouvia com atenção, enquanto Ning quase pulava de alegria. O fofo do Gerad continuava comendo. Minha mãe limpou a garganta e prosseguiu.
— “Confirmamos no último censo que uma mulher solteira entre dezesseis e vinte anos reside atualmente em sua casa. Gostaríamos de informá-los sobre uma oportunidade próxima
de honrar a grande nação de Illéa.”
Ning soltou outro grito e agarrou meu braço:
— É você!
— Eu sei, sua macaquinha. Solte senão você vai quebrar meu braço.
Mas ela apertou minha mão e deu mais uns pulinhos.
— “Nosso amado príncipe, Kim Taehyung” — continuou minha mãe — “atinge a maioridade este mês. Para adentrar esta nova fase de sua vida, ele deseja ter uma companheira a seu lado, uma verdadeira filha de Illéa. Se sua filha, irmã ou protegida elegível estiver interessada na possibilidade de tornar-se a noiva do príncipe Taehyung e a adorada princesa de Illéa, por favor, preencha o formulário anexo e entregue-o no Departamento de Serviços Provinciais da sua localidade. Uma jovem de cada província será escolhida aleatoriamente. para encontrar-se com o príncipe. As participantes serão hospedadas no agradável palácio de Illéa, em Angeles, enquanto durar sua estada. A família de cada participante será recompensada generosamente” — minha mãe alongava as palavras para criar um efeito dramático — “por seu serviço à família real.” Enquanto ela falava, eu olhava para o teto. Era isso que acontecia com os príncipes. Já as princesas eram negociadas em casamento a fim de fortalecer as recentes relações com outros países. Eu entendia por que era assim — precisávamos de aliados —, mas não aprovava. Nunca precisei ver uma coisa dessas e esperava não ver nunca. Havia três gerações que não nascia uma princesa na família real. Os príncipes, por sua vez, casavam-se com plebeias para elevar o moral da nação, normalmente instável. Acho que a Seleção servia para unir todos os illeanos e fazê-los recordar que o país nasceu praticamente do nada. Nenhuma das opções me parecia muito boa. E a ideia de entrar em um concurso que o país inteiro acompanharia só para ver um riquinho esnobe escolher a moça mais linda e sonsa do grupo para ser o rosto calado e bonito que apareceria ao lado dele na TV... era o bastante para
me fazer gritar. Haveria humilhação maior? Além disso, eu já tinha passado muito tempo em casas de pessoas da Dois e da Três para ter certeza de que não queria me envolver com eles. Muito menos com alguém da Um! Tirando
as épocas de escassez, estava feliz em ser uma Cinco. Minha mãe era a alpinista social, não eu.
— E é claro que ele adoraria Jennie! Ela é tão linda — derretia-se minha mãe.
— Mãe, por favor! eu fico na média.
— Não fica! — disse Ning. — Eu pareço com você, e sou linda!
Ela deu um sorriso tão largo que não pude deixar de rir. E o argumento era válido. Ning era mesmo linda.
Mas ela era mais que um rostinho bonito, tinha mais que um sorriso vencedor e olhos brilhantes. Ning irradiava uma energia, um entusiasmo que fazia você querer estar onde ela estivesse. Ning era magnética, e eu, sinceramente, não era.
— Gerad, o que você acha? Você me acha bonita? — perguntei. Todos os olhos caíram sobre o membro mais jovem da família.
- Não! As meninas são nojentas!
- Gerad, por favor - minha mãe soltou um suspiro irritado, mas não muito sincero. Era difícil perder a calma com ele. - Jennie, você sabe que é uma menina muito bonita.
- Se sou tão atraente, por que os meninos não me convidam para sair?
- Ah, eles vêm convidar, mas eu espanto todos. Minhas filhas são bonitas demais para se casar com alguém da Cinco. Rose conseguiu um Quatro, e tenho certeza de que você pode arranjar coisa melhor - ela disse antes de dar um gole no chá.
- O nome dele é Jungkook. Pare de chamar o marido de rosé pelo número. E desde quando garotos vêm aqui? - eu ouvia minha própria voz ficar cada vez mais aguda. Nunca tinha visto um rapaz chegar perto do portão de casa.
- Faz um tempo já - meu pai disse, em seu primeiro comentário desde que a história começara. Sua voz tinha uma nota de tristeza, e ele olhava firmemente para o copo. Eu estava tentando descobrir o que tanto o perturbava. Os meninos atrás de mim? Mamãe e eu discutindo outra vez? Minha recusa em participar do concurso? A distância a que eu ficaria se fosse sortuda?
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a seleção - taennie ver
Romancevárias garotas possuem um sonho em comum, se tornarem princesas, mas esse não é o caso de Jennie Kim. Por pressão de seus pais e para agradar sua mãe ela concorda em se inscrever na competição em que o príncipe escolherá sua futura esposa Autora: Ki...