Capítulo 1: VILLACARNE

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O homem vive do carne do animal. O homem escraviza o animal e usa-o ao seu favor. O HOMEM DOMINA O ANIMAL.

Animais de estimação recebem carinho, comida e abrigo, tendo uma vida privilegiada. Mesmo assim, eles tem apenas uma liberdade limitada, obedecendo as regras impostas por seus "donos". Animais de fazenda recebem o mínimo de comida para permanecerem vivos e o mínimo de amor para ficarem felizes. Os animais são vistos como objetos. O cavalo só é um meio de locomoção. A vaca só é leite. O porco é adubo. A galinha é ovo. Enfim, a pior classe de animais: Os de abatedouro. São como campos de concentração, onde seu destino inevitável é a breve morte. Nascer sabendo que passará sua curta vida aprisionado e alimentados aos montes para crescerem mais rápido e gordos. Os animais são obrigados a crucificarem suas vidas para a alimentação dos humanos.

Diante da grande popularidade que a Villacarne ganhava nos últimos tempos, decidiram fazer um comercial de televisão, com o objetivo de aumentar ainda mais ela.

"Vilacarne é uma das mais famosas produtoras de carne do país. A empresa atua no mercado dos mais variados tipos de carne, mas sua predominança são os patos. As carnes de pato fornecidas pela Villacarne carregam uma qualidade tão grande que corromperam as pessoas que tinham "nojo" da carne do animal. Os bichos são saudáveis, e seus frutos são transportados da melhor maneira até sua casa! Vilacarne: Carnes da qualidade que o povo gosta!"

Mais uma vez, o forte calor atacava o norte do país, o que era normal, pois esta era uma área desértica e seca. Num lugar como esse havia uma granja de patos da Villacarne. Sim, no meio do deserto. Será que essa empresa era tão mal-administrada ao ponto de construir uma de suas instalações no nada. Este local não era recomendado para o criação de animais em massa, especialmente os tão frágeis como os patos. Os animais morriam de calor antes mesmo de serem transportados para um abatedouro, funcionários passavam mal frequentemente e ainda eram mal pagos, e a granja era imunda. No propagando do Villacarne dizia-se "os bichos são saudáveis", o que era uma mentira. Porém, não podia se condenar apenas a Villacarne, as outras empresas não eram muito diferentes disso.

Todos os caixotes de madeira com patos que seriam transportados já estavam separados no depósito. Uma carreta velho acabava de chegar de uma de suas viagens so abatedouro. A carreta estava tão acabada que parecia estar abandonada em um ferro-velha a muito tempo. Ela foi estacionada ao lado do depósito. Um homem barrigudo
e careca saiu do carreta e abriu a caçamba de madeira A madeira estava um pouco apodrecida, alguns socos fortes de uma pessoa já era o bastante para quebrar uma tábua dela. Junto da ajuda de um funcionário da granja, todos os caixotes de madeira foram colocados dentro da caçamba. Eles eram pequenos e apertados, e os patos mal conseguiam se mexer lá dentro, para o desespero dos coitados. Era normal que alguns dos bichos já chegassem no abatedouro mortos. Após completarem a tarefa, o homem barrigudo limpou seu rosto suado em sua blusa, e se despediu do funcionário, que fechava o portão do depósito.

O barrigudo entrou na carreta e procurou um conforto. Depois de alguns segundos já estava preparado para a "guerra" que era ligar a carreta. Normalmente, ela só ligava a partir da décima tentativa. Finalmente, depois de muito falhar, o barrigudo conseguiu fazer a lata-velha funcionar. Ele ainda estranhou que ela demorou muito mais tempo que o normal para ligar. O barulho que o motor fazia deveria ser mais alto que uma sirene, e o veículo se tremia como uma pessoa semi-nua no meio de uma nevasca. Se os caixotes na caçamba não estivessem tão apertados uns contra os outros, com certeza iriam ficar andando de um lado para o outro.

A carreta se locomovia lentamente pela estrada. Nesta região,o solo era composto por uma terra seca, na qual algumas plantas ainda conseguiam crescer. Porém, a cada metro que se passava, era possível sentir o ar ficando ainda mais seco, as plantas desaparecendo e a terra sendo cada vez mais substituída pela areia. Era o deserto Sicco que começava a aparecer aos poucos. A única coisa que era possível se ouvir nas redondezas era o barulho do motor. Naquele ponto da estrada, nem os cantos dos pássaros estavam mais presentes. Os patos continuam desesperados e aterrorizados pela claustofobia que sentiam dentro do caixote, e também pelo barulho do motor, que se parecia mais com um monstro berrando.

Enfim, a carreta passava pelo nada. A única coisa que se via por ali era a estrada, a veículo e a areia. O vento ia contra a lentidão da carreta, e pequenos redemoinhos se formavam de vez em quando ao redor da estrada. Até existiam algumas aldeias no deserto Sicco, mas o que predominava era aquilo mesmo, o nada.

A viagem, até então estava normal, como as outras que a carreteiro barrigudo já fez. Porém, algo incomum surgiu, a carreta começou o fazer uns estalos muito altos, mais altos até do que o barulho do motor. E não parou. A cada estalo o som era mais forte. O barrigudo ficou assustado, era comum que as vezes ela fizesse uns pequenos estalos, mas não tão altos e contínuos daquele jeito. O homem ficou com medo, começou a freiar a carreta, mas os freios não estavam respondendo, e os estalos estavam tão altos quanto o som de uma bomba explodindo. A direção também parou de funcionar, e a carreta começou a sair da estrada. O homem, em total desespero, por impulso, desligou a carreta , girando a chave que já estava no lugar. A carreta explodiu e capotou. O capô voou como se fosse um foguete. Ao colidir contra o chão, a frágil caçamba de madeira se estilhaçou toda, os caixotes voaram longe, muitos deles se quebraram. Quase todos os patos morreram. Toda a carreta pegou fogo, e por causa do calor, o fogo parecia até mais forte. O barrigudo morreu. Toda aquela destruição ainda permaneceria ali por um bom tempo; talvez até dias. Aquela estrada era quase deserta e mal se via alguém passando por ali. Talvez só encontrassem o acidente quando alguém da Villacarne percebesse que um lote de patos não havia chegado ao abatedouro, ou alguma pessoa ligada ao barrigudo comunicasse o seu desaparecimento. Até que isso acontecesse, aquela cena horrorosa do acidente permaneceria ali no nada, como se não fosse nada demais, como se ninguém se importasse.

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⏰ Última atualização: Jun 12, 2023 ⏰

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