prólogo

15 4 0
                                    


Era interessante tentar se perder por qualquer rua holandesa, acreditava Jamie.

Ali, ao lado de Winter, passavam na beirada do rio, iluminado graças às casas acesas. Ela gostava de fotografar por quase toda vez que decidiam passear, mas dizia que nunca conseguiria capturar a beleza do que enxergavam ao anoitecer daquela capital, de Amsterdã expandindo em sua melhor forma.

Era a terceira noite deles estando muito longe de casa. Ás vezes, ou sempre, o coração de Jamie palpitava por receio de que um dia Winter se cansaria de morar naquele apartamento apertado em Londres, Inglaterra; que cedo ou tarde admitiria o lugar em que gostaria de ficar por uma eternidade... Por aqueles últimos anos, estavam no centro da cidade inglesa para que Jamie pudesse tentar conquistar um lugar ao centro do palco. — com três meses de namoro, achou que teria que deixá-la para trás, na cidade em que cresceram, em Helmsley, mas ousou o bastante para convidar Winter para ir junto. Sabia de tudo que arriscara naquela tarde em que se encontraram na casa dele, uma distância patética porque eram vizinhos, e como o medo piscou nos olhos ao ter que contar para ela que fora aceito na Escola Artística e não poderia continuar a perder tempo, permitir que a família o puxasse para o que não queria.

Ela não tinha nada a perder, exceto ele. Jamie não gostava daquela verdade forte e dolorida. Depois de tudo, não tê-la consigo não era mais uma opção, uma possibilidade obscura.

Viviam bem no minúsculo apartamento em Londres. Nas primeiras semanas, dormiam com um colchão no chão e muita comida comprada nos mercados mais próximos e turísticos. Lutavam pela independência financeira, mas eram burros e muito jovens, vivendo numa bagunça com pouco dinheiro ou a falta dele. — ainda sim, permitiam-se poucos luxos, como por exemplo viagens de última hora para algum outro lugar da Europa. Mas aquela noite seria muito mais que mágica, muito mais que esperança ditas em conversas que ninguém mais conseguia entender vindo deles, porque Winter estava o ensinando irlandês.

O riso de Winter trouxe Jamie de volta à realidade.

Era tão bonita quanto o brilho das estrelas. Até mais. Gostava como os olhos verdes e escuros se dilatavam para ele, fazendo o saber que ele era a pessoa favorita dela no mundo. O cabelo, escuro como uma verdadeira Addams, com cachos e longo até a cintura. Como sempre, a vestimenta escura num look referente ao gótico, uma das primeiras coisas que lhe chamara a atenção nele... E então o coração, que embora escondido, sabia como acalentar mesmo depois de tantas cicatrizes; cicatrizes ganhas muito antes do tempo, envelhecendo-a em sentimentalidades e até esperança sobre a própria vida.

Jamie a puxou contra si. Agora estavam na esquina de um bistrô vazio ao lado de fora.

Ele pôs as mãos nas bochechas de Winter e aproximou os rostos, colando os lábios aos dela. Amava beijá-la, assim como amava muitas coisas nela, como sentir o perfume grudar na própria roupa como se ainda fossem adolescentes que acabaram de trocar um abraço mais apertado, mais íntimo pela primeira vez. Como esquecer aquela tarde...

Não havia ninguém como Winter Elise.

A tatuagem ardeu em algum lugar do corpo, o que pôde ser considerado normal vindo de uma marca recém-feita com muita adrenalina horas antes. Eles tinham economizado para, no final, uma conhecida realizando trabalho em estúdios ao centro se voluntariou para realizar a arte em conjunto, e então tudo terminou sendo de graça. Agora com euros guardados, poderiam adiantar o aluguel em Londres, comprar o cream cheese favorito, uma noite de filmes porque eram vidrados em cinema... Qualquer coisa, mas também não qualquer coisa.

— Quer se casar comigo?

Winter sorriu, e os olhos embaçaram por mais brilho do que vontade de chorar.

MORPHOnde histórias criam vida. Descubra agora