36,5º em Londres - Melting heart

54 3 7
                                    


Somos como amantes

Andando nessa rua luminosa

Somos como crianças

Quando estou falando e te olho

Às vezes o significado das palavras some

Garota, a única luz que eu preciso é

A da Lua crescente embaixo do seu nariz

Esse seu sorriso é perfeito

Até os céus sabem

(36,5º (Melting heart) – The Boyz)


O vento gelado e um pouco úmido de fins de março faz com que Darren se encolha no banco em frente à biblioteca. Ísis devia aparecer a qualquer momento, então ele esfrega uma mão na outra, tentando se aquecer enquanto a espera. Eles tinham combinado de se encontrarem na cafeteria de sempre, mas a biblioteca era caminho, de qualquer forma... Ao menos, seria essa a justificativa que ele daria se ela lhe perguntasse algo.

Porque a justificativa real – ele só podia prever de forma instintiva – era a forma como o semblante preocupado de Ísis deu lugar a uma expressão de surpresa, logo seguida de um sorriso, quando ela o viu enquanto descia as escadas. Ela caminha na direção dele com um sorriso que faz seu coração derreter como a neve sob o sol escaldante.

— Aconteceu alguma coisa? Não íamos nos encontrar na cafeteria? — Ísis pergunta enquanto se aproxima dele, que já tinha se levantado.

— Eu queria te ver logo — ele responde, dando de ombros, e ela ri e o abraça.

Não era nada de mais um abraço como aquele. Nada mesmo, depois de todo esse tempo juntos, e especialmente depois que toda aquela loucura teve fim... Ainda foi preciso esperar um pouco até se sentirem confiantes o suficiente para andarem juntos sem se preocuparem demais com a imagem de ninguém, mas as pessoas esquecem as coisas rápido. E agora ele podia ter certeza de que o que sentia quando ela fazia coisas assim não tinha mais nenhuma influência da adrenalina. Mas ele continuava sentindo seu coração acelerar toda vez.

— Certo, mas são só cinco minutos de caminhada daqui até cafeteria e eu pretendia fazer em três — Ísis diz num tom sério, já afastada dele, mas seus olhos sorriem. — Agora podemos fazer em o quê? Dez minutos? Quinze? Ah, mas você deve estar com frio — ela encosta o dorso da mão em seu rosto, para constatar o óbvio, e em seguida segura a mão dele. — Então vamos ser rápidos, podemos conversar no conforto da cafeteria.

Darren concorda com a cabeça e a acompanha. Seu rosto, ainda exposto ao vento, continua gelado, mas ele já não está mais com frio. Outra coisa que não era nada de mais, e mesmo assim significava tanto: caminhar de mãos dadas por um curto espaço entre uma rua e outra. Talvez Darren estivesse exagerando? Eles não ficaram tanto tempo longe dessa vez – apenas uma semana enquanto ele participava de dois eventos de moda em Milão – e, de qualquer forma, ele chegara no dia anterior, um domingo, o que lhes deu tempo suficiente para matar as saudades. Mas não era de saudade que se tratava.

A cafeteria está quase vazia a essa hora do dia e eles podem se acomodar no lugar de sua preferência, que tinha mudado duas vezes nos últimos meses, até chegar na aconchegante mesa com sofá próxima à janela. A mudança de temperatura é instantânea e eles deixam os casacos nas cadeiras à sua frente e se acomodam no sofá. A música ambiente instrumental soa um pouco mais alta sem ser abafada por conversas alheias, e isso cria uma atmosfera ainda mais convidativa. Não há necessidade de ver o cardápio e eles trocam alguns comentários sobre o clima com o garçom antes de fazerem seus pedidos.

36,5º em Londres - Melting heartOnde histórias criam vida. Descubra agora