Carta Selada

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São três da manhã, um homem de 54 anos, atende ao telefone que tocava na mesa de cabeceira. Ele diz "alô" e uma voz robótica cita palavras aleatórias e logo passa a dar orientações. O homem careca e branco parece entrar em transe e ainda de pijamas se senta na cama, deixando o celular na mesa ao lado da cama, se levanta e lentamente se dirige até a varanda de seu luxuoso apartamento no 12° andar. Ele abre a janela, passa uma perna pelo parapeito e se joga sem qualquer hesitação.

Pedro acorda por volta das 08 na manhã, se espreguiçando, prepara um café ainda bocejando, enquanto ouve na rádio a notícia da morte daquele homem que se jogou de seu apartamento. Ele era um ministro do superior tribunal federal daquele país. Já era o segundo ministro da mesma corte que cometia suicídio. As duas mortes demonstraram o mesmo padrão e da mesma forma não tiveram motivo aparente. Foi relatado por uma testemunha que o primeiro ministro morto tinha o olhar perdido, como se ele estivesse em algum tipo de transe. Os dois ministros estavam envolvidos em decisões que desagradaram a opinião pública e se demonstraram arrogantes e inabaláveis ao serem questionados acerca de suas decisões.

Pedro sai de casa a caminho da casa de sua namorada, Joana. Os dois estavam procurando uma casa para alugar. Eles viram uma toda em madeira com a base de pedra. A casa era linda por fora. Com as chaves em mãos, os dois entraram para ver o interior da casa. Haviam 2 paredes de vidro inteiras, o que favorecia a iluminação do ambiente. Pedro já queria morar naquela casa, só estava preocupado com o valor.

Em dado momento, enquanto Pedro olhava os quartos da casa, Joana achou uma cadeira e se sentou. Ela recebeu uma ligação, enquanto Pedro prestava atenção nas bancadas de mármore da sala. De repente, o olhar dela ficou perdido e ela não respondia mais quando Pedro a chamava.

Pedro se assustou ao ver a namorada cataléptica e pegou o telefone da mão dela. Imediatamente levou o telefone ao ouvido e percebeu uma voz robótica dando orientações para que Joana enviasse algum tipo de arquivo que ela tinha acesso no trabalho ao Ministério Público em uma denúncia anônima. Ao final da mensagem a voz disse a frase:" carta selada."

Pedro não entendeu toda a mensagem, mas ao ouvir ele sentiu um arrepio na espinha. Era muito estranho. Nunca tinha visto nada parecido com aquilo.

Pedro passou uns 20 minutos tentando fazer Joana acordar daquele transe e, mas outros 30 tentando falar com ela sobre o que tinha acontecido. Ela simplesmente não lembrava de nada. Até o semblante dela mudou depois, como se nunca tivesse estado em um transe. Parece que nada tinha acontecido. Pedro já se questionava se estava ficando louco ou se aquilo realmente tinha acontecido.

Ele pediu para que ela olhasse no celular dela o registro da última ligação para ver o número que foi ligado, mas não havia registro. A última pessoa que tinha ligado para ela foi ele ao sair de casa para buscá-la.

Pedro passou o dia inteiro pensando naquilo e não dormiu à noite. Ele passou o dia pesquisando na internet sobre aquilo, mas só via pessoas falando sobre teorias da conspiração ou magia negra, mas eram coisas tão absurdas que ele não conseguia levar a sério. Ao pesquisar sobre hipnose, ele lembrou do caso dos ministros suicidas. Nesse momento, ele achou algumas pessoas em redes sociais falando que os juízes teriam sido hipnotizados por telefone por seus opositores políticos, induzindo-os à morte.

Mas se isso era verdade, porquê Joana?! Joana não era ninguém importante, ela não era ninguém poderosa. "Mas ela trabalha pra alguém poderoso", pensou. Pedro lembrou que Joana tinha acabado de conseguir um emprego no gabinete de um senador e a mensagem mencionava alguma coisa sobre o trabalho dela. O tal senador era um corrupto de esquerda, já tinha sido preso com dinheiro em um aeroporto escondido na roupa e era um autocrata. Pedro não gostava muito daquele emprego, mas eles precisavam do dinheiro, inclusive para alugar uma casa nova. Era um cargo comissionado. O pai de Joana tinha conseguido para ela.

Pedro conversou com Joana sobre a mensagem e a namorada ainda que incrédula acerca de toda aquela história por não se lembrar de nada, redobrou sua atenção ao trabalho.

Pedro pediu para a namorada mudar o número de telefone e Joana comprou um novo chip.

Por semanas, nada aconteceu e parecia que tudo não tinha passado de um mal entendido.

Em um dia normal de trabalho, Joana recebeu uma ligação no meio do expediente. Era a mesma voz robótica. A voz pedia que Joana passasse a ligação para o Senador. Joana se levantou lentamente da antessala do gabinete, adentrou a sala do Senador, se dirigiu a ele e apenas passou o celular ao parlamentar. O mesmo sequer olhou para Joana, sem notar sua feição atônita e sem expressão. "Alô", disse o parlamentar. Desse momento em diante, o senador entrou em transe e passou a executar ações meticulosas e precisas. Ele saiu do gabinete e depois do congresso. Se dirigiu a um carro estacionado fora do prédio. Com passos firmes, como se soubesse aonde estava indo, abriu a porta do carro que estava destrancada e pegou um cilindro que estava embaixo do banco do passageiro. Colocou o objeto no bolso e se dirigiu ao tribunal superior, onde estavam os ministros do judiciário. Por ser parlamentar, ele não sofreu revista pessoal e se dirigiu à uma sessão de um julgamento que estava acontecendo naquele momento. Ao entrar na sala, se aproximou da mesa dos ministros que estavam presidindo a sessão, retirou o cilindro do bolso, o quebrou ao meio acionando um artefato explosivo. Logo após isso, o senador gritou: "Eu sou o karma."

Uma grande explosão matou todos os ministros instantaneamente, ferindo alguns assessores que estavam ali.

A mídia transmitiu tudo ao vivo, como sempre faziam pelo canal oficial do judiciário.

Alguns veículos de comunicação receberam um comunicado de um hacker que assumiu o ataque. O hacker se auto intitulava "karma" e dizia que perseguiria e mataria todos os corruptos, um a um e que aquilo era apenas o começo.

Vários parlamentares renunciaram ainda no mesmo dia do atentado após a divulgação da nota do hacker.

A polícia não tinha qualquer pista sobre o hacker auto intitulado "Karma" e assim, os casos de corrupção no governo caíram drasticamente. Os parlamentares que restaram eram praticamente todos conservadores.

Os tribunais superiores não conseguiam empossar novos ministros, porque todos recusavam os cargos por medo de terem o mesmo fim dos ministros anteriores. Isso gerou uma economia de bilhões no primeiro ano após o atentado. As decisões judiciais sempre paravam na segunda instância sem direito à recurso. Isso tornou os processos mais céleres, o que agradou a opinião pública.

Karma se tornou um anti herói, pois era um criminoso para o estado, mas um herói para uma grande parcela da população que tinha ojeriza de líderes autocratas e arrogantes.

Pedro alugou a casa com Joana. Atualmente, eles pensam em ter 2 filhos e um pug.

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⏰ Última atualização: Jun 14, 2023 ⏰

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