Capítulo 14

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Os dias depois do Natal passaram alegremente. Miri passava o máximo de tempo que podia com a família, principalmente com a mãe. Chay e Macau eram como recém-casados, muitas vezes escapando e desaparecendo por horas a fio. Freqüentemente, eles voltavam para casa com algo para todos.

Isso deixou muito tempo sozinho para Kim e Big. Tempo que não exigia que falassem sobre seus deveres, sobre suas famílias ou sobre o perigo iminente. Muitas vezes as noites os encontravam sussurrando no escuro, sobre tudo o que queriam saber um do outro. E as manhãs seriam recebidas com eles acordando nos braços um do outro. Eles não questionaram, nem rejeitaram, encontrando conforto no abraço do outro.

Depois de sua caminhada na noite de Natal, eles se viram levando muitos outros pela vizinhança, as conversas fluindo. E mesmo que Kim odiasse o frio e o ar que os rodeava, ele fazia essas caminhadas com prazer para ter mais momentos com Big.

Miri observou da janela enquanto eles subiam a rua. Ambos encolhidos em seus casacos, o chapéu de Big cobrindo a cabeça de Kim, ambos com os narizes vermelhos. Seus rostos serenos, a boca de Kim movendo-se enquanto ele falava, Big observando-o enquanto ele ouvia atentamente.

"Eles ficam bem juntos", disse uma voz em seu ouvido. Miri sorriu com a observação da mãe. "Sim, eles fazem. Os dois ficam mais abertos quando têm um ao outro", respondeu Miri.

"Fico feliz que Big tenha trazido ele", comentou a mãe de Miri. "Ele é muito solene de longe. Ele precisa de alguém para quem dar aquele sorriso. Ela olhou para a filha, que parecia prestes a chorar. "Tem alguma coisa errada, mija?"

Miri respirou fundo. Ver Kim e Big caminhando pela passarela a lembrou por que eles estavam aqui, por que Kim havia chegado. Ela tentou adiar o máximo que pôde, aproveitando a presença da mãe, mas o tempo estava se esgotando. Seria o Ano Novo amanhã, e eles partiriam logo depois. Não havia mais tempo.

Lágrimas escorrendo pelo rosto, ela engasgou: "Mãe ... eu tenho algo que preciso te dizer."

Miri e sua mãe conversaram por horas, mas Big permaneceu fora daquela sala. Ele entrou em casa e encontrou Miri chorando, pedindo-lhe que ficasse enquanto ela falava com a mãe. Este era um grande pedido que ele estava fazendo a esta gentil mulher e exigia toda a atenção que merecia. Big estava tirando o filho de alguém deles, o mínimo que ele podia fazer era sentar em um silêncio desconfortável e esperar até que ele fosse chamado.

Quando Miri saiu, seus olhos estavam vermelhos, marcas de lágrimas cobrindo suas bochechas. Ela abriu os braços, pedindo silenciosamente um abraço, e Big deu a ela sem questionar. Ele a deixou soluçar em seu peito, antes que ela se acalmasse o suficiente e dissesse: "Ela quer falar com você também."

Big assentiu, deixando-a se controlar, antes de soltá-la. Ele bateu na porta, anunciando sua presença. "Entre", foi a resposta suave.

A mãe de Miri estava sentada na beira da cama, parecendo perturbada, o rosto coberto de lágrimas. Big sentiu um aperto no estômago. Esta senhora maravilhosa os acolheu em sua casa, abriu os braços e o coração para eles, e eles retribuíram a gentileza roubando seu ente querido.

A mãe de Miri olhou para Big e viu a culpa em seus olhos. Ela esperou até que ele se sentasse ao lado dela na cama, antes de estender a mão e acariciá-lo. "Esto no es por it, mijo", ela o consolou. (Isso não é por sua causa, meu filho). "Eu deveria estar com raiva, eu sei. Mas não estou. A vida tem um jeito engraçado de jogar coisas na gente, só nos resta dar o nosso melhor e continuar vivendo"

Big sabia que essa era a maneira dela de aliviar parte de sua culpa, mas o fazia se sentir pior. O pensamento de que ela estava sofrendo e ainda sentia a necessidade de estender a mão para ele com bondade fez seu peito inchar dolorosamente. Ele se sentiu dominado pelas emoções, pois a sala começou a ficar menor ao seu redor. Ele não tinha percebido que as lágrimas começaram a rolar silenciosamente por seu rosto.

De Frente para o Sol (BigKim/MacauChay)Onde histórias criam vida. Descubra agora