Los Angeles - 10:04 A.M
Aviso: Cena de automutilação .
— Bom dia, eu gostaria de um macchiato.
— Certo... espere só um segundo, por favor.
— ...Olha, desculpa pela pergunta, mas os grãos são 100% arábicos, né? Minha chefe consegue perceber a diferença, por algum motivo.
Protagonista: um elemento da história narrativa, a figura principal, que persegue os objetivos centrais do enredo de uma história.
— Não se preocupe. Posso te garantir que os grãos devem vir de algum lugar...do Oriente Médio. Você não levará bronca por causa disso, prometo.
— Graças a Deus...Outro dia, ela me fez trabalhar a madrugada toda porque tinha um pouco mais de creme no café do que ela acha "aceitável".
— Credo.
— Ah...só não desisto porque preciso do dinheiro. Preciso muito do dinheiro...
— Entendo...Aconteceu alguma coisa?
— Estou sendo despejada. Meu prédio será demolido e deram um mês pra eu me mudar, mas não tenho dinheiro o suficiente.
— Nossa...Você tem alguém com quem ficar até conseguir o dinheiro?
— Ainda não...mas um...conhecido meu me ofereceu o apartamento para ficar.
— Oh.
— Nunca imaginei que ele me ofereceria algo assim. Achei que ele não ia com a minha cara. Quer dizer, nosso santo não bate, sabe?
— Realmente, deve ser muito inesperado da parte dele.
— Pois é...mas enfim! Se estiver errada sobre os grãos eu vou te cobrar, hein?
Protagonistas tem atitude, proatividade, valores e o mais importante: paixão.
Um protagonista que carece de um desses aspectos é falho. As chances da narrativa se alastrar de forma preguiçosa e entediante são grandes. Os leitores precisam gostar do protagonista, ou pelo menos os aturar o suficiente para não desistir no meio da história.
— Vamos ver se lembrará de mim até lá.
Uma história foi feita pra ser lida. E se o protagonista pode de alguma forma atrapalhar ao ponto de poder fazer o leitor parar a leitura, isso mostra o quão importante é um protagonista bem feito.
Mas, caro leitor, há algo que eu preciso que você perceba: você é egoísta.
Você fica chateadinho quando sua série ganha mais uma temporada sem graça. Fica magoado quando um personagem que você adorava no início começa a ficar irritante. Odeia quando um casal que você acreditava não ter nada a ver começa a namorar. Odeia que o casal perfeito se separa.
Quando a narrativa não é tão viciante quanto você desejava, quando os diálogos não são tão divertidos de se ler quanto você queria, quando os personagens não são tão únicos e carismáticos como você esperava, você vê tudo isso como uma afronta. Você se cansa, desiste, para no meio, dá uma pausa.
Você se indigna com a história por ela não ser como você queria que ela fosse. Você fica indignado que as coisas não ocorrem como você julga melhor.
Mas eu venho falar a grave verdade, meu querido leitor. Tudo bem, você é egoísta. Já deve ter entendido isso. Se para alguns, isso significa que o maior erro do livro são os leitores, eu já compartilho uma opinião diferente.
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Liberdade por um dia
RomanceUma ex-figurante precisa aprender a lidar com as responsabilidades de uma vida de protagonismo. Anthony Kenneth Dener precisa lidar de que agora é um mero figurante. Um ?romance? improvável e nem um pouco certo para nenhum dos dois.