- Mãe, a senhora já acabou? - Indaguei, olhando a mulher mais uma vez a frente daquela pia de louça, sempre lavando.
- Só mais um minuto, filho. - Era o que ela sempre repetia.
Só mais um minuto.
Só mais um minuto.
Eu ouvia a chuva cair, podia vê-la tocar o chão pelo vão na parede que chamava de janela, o céu nublado trazia a impressão de que a noite havia chegado mais cedo, para nós, a noite significava mais que a hora de dormir.Acordei. Desconfortável, e suando frio. Sempre estranhava esse sonho, por sempre acordar do mesmo jeito, suando frio. Ouvia a chuva cair e achava um tanto irônico, a tempos não sonhava com aquela cena, por mais que fosse um sonho recorrente, repetitivo e repetido. Um sonho que por anos ficará trancado e derrepente voltará a tona. De qualquer forma, evitaria pensar nisso, o estresse de dormir no frio e acordar suado já me era suficiente.
Peguei o telefone, como todo bom adolescente do século 21. Algumas poucas mensagens mas o diferencial era a hora "08:43" cedo demais para um sábado, mais cedo do que eu gostaria de acordar. Verifiquei as mensagens e respirei fundo, me levantei e me alonguei, como de costume, me preparando psicologicamente para responder aos depravados que eu chamo de amigos.Após todo o ritual de sempre, afinal um atleta não pode se manter inflexível, finalmente respondi meus amigos, ou melhor, o grupo. Apenas digitei "Bom dia rpzd" e segui minha vida. Ignorando o resto das mensagens, talvez um ato rude mas rotineiro. Sai do quarto e andei até a cozinha, a manhã era um dos poucos momentos em que minha casa era realmente silenciosa, mais especificamente aos sábados. E eu apreciava isso. Fui fazer meu café, por mais relaxado que estivesse não conseguia tirar da cabeça o fragmento de sonho que me seguia. Sempre achei curioso sonhos perpétuos, que eu sempre sonhava ou acompanhava, tinha certeza de que não era só comigo, mas tinha a crença de que não eram sonhos comuns. Por mais que minha curiosidade não fosse por si só o suficiente pra me fazer pesquisar mais sobre o assunto. Afinal, me orgulhava de ser um colecionador de interesses não aprofundados. O que também era uma mera desculpa para ser desinteressado a certos assuntos.
Perdido em meio a caóticos pensamentos, básicos de um drama romântico como esse, terminei meu café, o mesmo de sempre, segunda a segunda o mesmo, em relação a rotina matinal eu era irritavelmente metódico. Por mais que não percebesse, ou fingisse não perceber. Me sentei pra comer, em silêncio e em paz, passando no telefone alguns vídeos rápidos sobre coisas não tão aleatórias, já que a sua massiva maioria falava sobre basquete.
O tempo passou e o silêncio a qual tanto admirava se encerrou aos poucos, com o despertar da minha família. As horas correram, com certa velocidade, ou talvez lentidão, afinal, é relativo. Badults.
Independente da relatividade da velocidade temporal, e do quão formal pareço escrevendo esse dramático romance, ao decorrer do dia o sonho, o abençoado sonho não me saia da cabeça. Até porque, toda essa história gira em torno dele. E isso me perturbava, facilmente esqueço sonhos, é natural esquecê-los, mas, se algum me persegue em minha lembrança, com tanta riqueza em detalhes como estava, bastava a mim acreditar de que não era um simples sonho.- Eu hein, garoto?! - Exclamou minha mãe, percebendo minha simples expressão de existência para com o vácuo da sala. Sem olhar o celular, nem a TV, literalmente só existindo.
- Hum? O que foi? - Indaguei, despertando da minha sublime existência.
- Eu hein, tá parecendo maluco, olhando pro nada.É nítido a repetição do "Eu Hein" nas frases da minha mãe, e acredite, é realmente assim. Afinal, esse pequeno conto tem sim inpiração na realidade
Por mais que ela compreendesse a cena, não entendia a cena. Era capaz de apenas respeitar e não estranhar alguém apenas existindo? Ou quão filosófico é ver alguém existindo e compreender que está vivendo em pensamentos, cercado de memórias e reflexões, ou apenas do vazio. O eterno vazio de sua mente inapita, inóspita. Vou deixar essa reflexão filosófica pra outro capítulo, ou outra história. Está cedo demais para reflexões e críticas sociais nesta escrita.
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A História de um Sonho
RomanceUm romance, eu acho, misturado com um drama. É apenas uma história, minha história. Sobre um sonho, meu sonho. Com um significado, quer saber qual?