O Amor vive com esperança

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Diário de Margarida Leblanc.

Julho de 1914.

Hoje meu amor foi convocado para lutar contra os boches, sabíamos que essa hora chegaria e a temíamos. Meus filhos são pequenos demais para entender o que está acontecendo e não tenho coragem de contar-lhes essa tão horrível novidade e destruir-lhes sua tão doce inocência. Ele partirá amanhã de manhã para se apresentar ao batalhão.

No dia seguinte.

Meu coração está tão apertado, minha alma apreensiva e minha mente turva. Meu Deus, está noite foi tão perfeita, melhor do que os primeiros anos de casamento, como se fosse o primeiro abraço, o primeiro beijo, a primeira vez que a ele me entreguei. Conversamos por toda noite, abraçados, lembrando de tudo que vivemos. Da primeira vez que nos vimos e falamos, céus, éramos adolescentes e meu pai demorou a confiar nele. Passamos por muitas coisas juntos, ele trabalhou muito por mim e por nossos filhos. Esteve ao meu lado quando estive enferma e quase morri. Compramos esta casa, construímos nossas vidas e em todo momento ele estava lá ao meu lado, nunca me senti só. Por mais de uma vez, ele provou que está comigo, que me ama, nunca me senti sozinha com ele ao meu lado.

Minhas lágrimas mancham a tinta de meu diário, esta é a primeira vez que me sinto tão só. E se essa maldita guerra o levar, como eu e as crianças iremos seguir ?

Mesmo aproveitando cada momento com ele, mesmo cada momento desta noite sendo único, minha mente torturava-se com a lembrança de sua partida.

Meu Deus, por que não me deu mais um, dois, três minutos a mais com ele ? Eu sei exatamente o porque está noite foi mais especial que a primeira, porque foi a última.

Alguns meses depois.

Durante esses três meses tive que aprender a ser forte por meus filhos, que todos os dias me perguntam com um sorriso triste quando será o retorno de seu amado pai. Meu coração não aguenta vê-los olhar para o portão da frente, esperando-o entrar, não aguento ouvir a oração dos pequeninos que ainda acham que seu papai foi visitar seus avós.

Tudo o que me mantinha forte era o fato de saber que meu amado estava ainda treinando para servir. Tinha esperanças de que a guerra acabaria em três meses, mas hoje recebi sua carta, queria não tê-la recebido, pois ao lê-la mal consegui manter-me de pé. Ele já está no front há três semanas.

Meses depois.

Ir a igreja e conversar com a irmã Lianna me trás conforto. Meu marido não envia uma carta há meses. Ficar sozinha me faz pensar, pensar me deixa assustada e em profunda tristeza. E se ele morreu ou foi capturado? E se estiverem o torturando agora? Tenho que conter as lágrimas na frente dos meus filhos, mas quase não consigo.

Minha mãe e meu pai passarão alguns dias aqui, isso me ajudará a ficar mais calma!

Inverno, Janeiro de 1915.

Os preços das coisas estão a cada dia mais caros, principalmente a carne. Faz muito tempo que esta guerra começou e é assustador ver o alto número de refugiados que estão morando em galpões e escolas. Há filas imensas de pessoas que buscam por um prato de sopa para manterem-se aquecidos e alimentados. A comida está em falta, o número de desvalidos aumenta e a cada dia, mais homens e rapazes são convocados para a guerra. Apesar do vazio torturante que meu amado deixou, percebo que ainda sou uma mulher de sorte por ter uma condição financeira razoável.

Dois meses depois.

Fecho os meus olhos para não ver as viúvas e mães do bairro, que choram em desespero ao receber as cartas que lhes dão a horrível notícia da morte de seus amados. Poucas tem a sorte de recebe-los novamente vivos, mesmo sem uma perna ou um braço, mas ainda estão vivos.

Guerra Infame - Livro CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora