Capítulo 3

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Fiquei alguns minutos ali parada tentando entender o que acabara de acontecer. Minha respiração estava entrecortada e sentia um aperto forte e uma sensação de culpa dentro do meu peito. Dei um passo oscilante para trás e levei minha mão ao peito como se a qualquer momento aquele aperto fosse esmagar-me de forma monstruosa. Voltei ao meu quarto aos trôpegos e oriento-me de fechar a porta a chave para que eu não fosse mais interrompida durante o dia. Seria mais fácil se ao menos ele tivesse me matado e acabado com todo esse sofrimento.

Estar presa era como você estivesse em um caixote amordaçada e vedada. Havia uma mensagem velada e subentendida de que você poderia fazer o que quisesse, mas não escaparia, as amarras ficavam cada vez mais forte a cada movimento. Havia alguém lhe vigiando o tempo todo e seu esforço era apenas gasto de energia. Sentia-me sufocada por não fazer o que mais gostaria nesse momento, estar sentada em alguma cafeteria com uma boa xícara de café espresso enquanto eu estudava um caso delicado do hospital. Queria ter tido a chance de ter uma vida normal, no entanto estou aqui atirada aos lobos em um mundo sem cor e sem esboço de uma felicidade radiante.

Tempos depois a tempestade lá fora fizera jus ao seu nome, trovões e relâmpagos foram-se ouvidos e tudo que pude imaginar era como eles eram livres e felizes fazendo a natureza irradiar beleza natural e mais cor. Estava derrotada em quarto frio e apesar de bonito, tão escuro. Tinha que tentar fugir, era a única chance que eu tinha. Mas como? Apesar de não estarem visíveis ao olho nú, sabia que havia homens de prontidão esperando a maior chance de suas vidas: ismpedir-me de sair por aquele portão de ferro grosso e automático. Ouvi batidas suaves na porta e procurei ficar quieta, não queria mais ver Mathilde hoje ou seja lá quem fosse.

Funguei e escutava as batidas frenéticas na porta e a voz abafada de Mathilde. Havia pausas sincronizadas entre as batidas, mas não queria comer, eu não precisava. Tinha de acelerar o passo se quisesse morrer tranquilamente ou de fome. Abracei mais aquele travesseiro fofo e procurei me concentrar no som dos trovões e relâmpagos, ignorando tudo ao meu redor. Quando percebi havia pegado no sono.

Aquele cheiro, envolvia-me como uma manta acolhedora demonstrando mais uma vez o seu artifício de me aquecer. Mas não havia mais a mão daquele homem misterioso, o campo estava vazio, frio e solitário. Nem uma voz cálida guiando-me por dentro da escuridão. Dei um passo e mais outro, a procura daquele homem. O cheiro inebriante ia se disspando lentamente enquanto eu me aproximava.

— Você me abandonou, dondoca. — disse uma voz furiosa e dominadora ao fundo.

— Quem é você? Por que não me deixa vê-lo? — gritei, entrando em quase desespero por sentir aquele aroma de novo.

— Não brinque comigo! — advertiu aquela voz e então fui jogada em um abismo de espinhos.

Acordei sobressaltada aos berros durante um minuto inteiro até me dar conta onde eu realmente estava: em minha prisão deliberada. A chuva havia diminuído, mas ainda caía suavemente sobre o gramado, a porta francesa estava fechada mas a cortina entreaberta me dava uma clara visão do lado de fora. Relampejava, mas os trovões se aprisionaram de novo entre o céu. Pelo menos ele pode decidir quando cai e quando se aprisionar de novo, pensei.

Respirei profundamente e levei ao mão ao meu peito sentindo minha pulsação bater descompassada dentro peito. Por que esse mesmo sonho toda vez que fecho meus olhos? Tento me lembrar do pequeno diálogo antes de ser atirada para o abismo de espinhos, mas não adiantava. Fiquei sentada na cama por alguns minutos e decidi que essa era a hora de fugir. Levantei-me às pressas até o guarda-roupa exclusivo, e peguei algo parecido com moletom e usei dois casacos grossos e calcei tênis de academia, teria que ser suficiente. Respirei fundo, avaliando se tivera uma boa ideia, mas de alguma forma, tinha que tentar.

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⏰ Última atualização: Jun 22, 2023 ⏰

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