Malibu

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Tudo começou por causa de um corpo quase sem vida na areia do meu quintal. Ok, não era bem meu quintal, era a areia branca e convidativa da praia de Malibu, cuja minha casa dava de fundos pra ela.

Era um típico primeiro dia de verão, o sol brilhava em vida, o mar estava agitado, a areia ainda estava limpa, já que os turistas ainda estavam chegando na cidade, era a calmaria antes da tempestade, meu dia favorito do ano. Eu tinha o costume de tomar o café da manhã na minha varanda, possuía uma bela vista da praia, adorava escutar o som do mar enquanto lia algo pra começar bem o dia, com uma boa xícara de café em mãos, era um tipo de evento diário, uma rotina que eu adorava, e era sempre da mesma forma, exceto naquele dia.

Minha casa era a última da praia, um pouco mais afastada das outras, eu tinha apenas vinte e sete anos, mas minha alma já possuía noventa. Eu adorava o silêncio, a calmaria, e quando meu primeiro livro deu certo, me rendendo um bom lucro, a primeira coisa que eu fiz foi comprar essa casa. Estava morando ali um pouco mais de um ano, e era absolutamente maravilhoso, todos os dias eram iguais, nada acontecia sem ser altamente planejado antes. Mas urubus não era algo que eu estava acostumada a ver por ali com frequência, ou mesmo com um planejamento sólido em antecedência.

O primeiro dia de verão sempre era o mais bonito, só perdia pro último. Era o início da correria pra viver cada segundo das férias, dos amores de verão, o sol sempre brilhava mais forte, como se quisesse chamar atenção, o vento era sempre ameno, e o mar roubava toda atenção; era romântico, agitado, mas ainda era calmo, no entanto, urubus não estavam nesse roteiro, nunca estiveram. Enquanto eu tentava ler um livro, que não me recordo qual era, ouvi o que parecia ser um bufar esganiçado e ao mesmo tempo rouco, e por mais que estivesse a uma certa distância, quando se tem vários fazendo o mesmo som, isso toma sua atenção. Quando olhei em direção a praia, vi um pequeno grupo de urubus rodeando algo, mas não dei muita atenção, talvez fosse algum animal morto, pensei não ser importante, apenas o ciclo sem fim da vida, a cadeia alimentar sendo a coisa mais natural. Contudo, o som não parava, minha leitura foi interrompida, e minha curiosidade ativada.

Quando me levantei da minha confortável cadeira, dessas que balançam e em toda casa de vó tem - o que? Eu disse que tinha uma alma idosa -, eu pude ver melhor o que havia entre os urubus, e me choquei, era um corpo. De longe não se dava pra ver direito se era jovem ou não, mas era certo de que era masculino. Pronto, foi o suficiente para que meu lado investigativo, um agente do CSI entrasse em ação e fosse em direção ao corpo. Eu estava um pouco insegura, se aquele corpo estivesse sem vida, não sei como lidaria com a situação, eu nunca havia visto uma pessoa morta em toda minha vida. Convenhamos, eu tenho uma vida monótona, nunca acontece nada de emocionante, principalmente achar um corpo possivelmente assassinado e desovado no quintal da minha casa.

Meus passos eram pesados, minhas pernas pareciam ter toneladas, minha respiração entrecortada em ansiedade, meu coração sairia correndo do meu peito a qualquer momento me abandonando ao acaso, a praia estava mais vazia do que o normal, nem sequer os surfistas estavam por ali, o que fez minha pele se arrepiar ainda mais. Os urubus pareciam não querer ceder, e quanto mais perto eu chegava, mais em alerta eles ficavam. Não estavam comendo o corpo, bicando, seja lá o que eles fazem, estavam apenas ali, rondando, aguardando o momento certo para tomarem o café da manhã. À uma distância segura, tentei observar bem entre a nuvem preta a sua volta, o corpo estirado na areia, e pelos deuses, era um homem, provavelmente com a minha idade, todo ensanguentado, marcas de hematomas por todo o rosto, principalmente o lado direito. Com certeza ele havia levado uma surra e tanto, o que será que ele havia feito pra merecer aquilo?

Eu estava parada a uma certa distância do corpo, tentando pensar no que poderia fazer naquele momento. Eu deveria ligar pra polícia, deixar eles lidarem com isso, eu era apenas uma escritora, o que eu iria fazer com um copo? E foi quando eu ouvi. Foi um gemido sôfrego, fraco, quase inaudível, mas o suficiente para que eu, automaticamente, fosse correndo ao seu encontro, afugentando os urubus, me ajoelhando ao seu lado, e verificando, da minha maneira sem experiência alguma, se aquele homem estava bem.

- Céus, você esta vivo !! - Expressei meu choque, me perguntando como aquilo era possível com tantas marcas em seu rosto, um belo rostp diga-se de passagem. - E-Eu vou ligar pra uma ambulância, pra polícia...

- Nada... Nada de polícia...

A voz rouca me interrompeu e logo desmaiou novamente. Como assim nada de polícia? Eu estava apavorada, como ele ainda estava vivo? Quem era aquele homem, porque ele estava daquele jeito, mas o mais importante, o que eu faria?

Minha mente estava um turbilhão, eu precisava tirar ele dali, logo a praia começaria a encher, as pessoas se assustariam, crianças se traumatizariam, eu estava assustada, e não poderia chamar a polícia. Pensa, pensa, pensa. Eu vou levar ele pra casa. Eu sei, uma ideia louca, louca, louquinha, eu não fazia ideia de quem era aquela pessoa, mas eu não poderia o deixar ali, eu não dormiria em paz se o deixasse ali. Com as bochechas queimando em vergonha, apalpei seu corpo à procura de uma carteira, um cartão, ou qualquer coisa que me desse pelo menos seu nome, procuraria no Google sobre ele, mas não achei nada, a única coisa que sabia era que ele tinha dinheiro, do tipo muito rico mesmo, estava usando um terno Ralph Lauren, pude ver na etiqueta do bolso interior do paletó, sapatos que pareciam caros também, e ele era tão bonito.

Eu não conseguiria levar ele até lá em cima sozinha, subir as escada com ele seria impossível, eu não era o exemplo de boa saúde, odiava academia, e fumava mais do que o normal, então fui correndo de volta pra minha casa, peguei uma prancha antiga, algumas cordas, e voltei até ele. Colocar ele em cima da minha prancha amarrado foi a parte fácil, agora subir com ele os degraus da escada de madeira praia a cima, até a minha casa, bom, eu consegui, mas não foi nada fácil. Eu estava estirada no chão ao lado dele na minha varanda, minha respiração falhou algumas, muitas, vezes, meu peito doía, e prometi pra mim mesma que se eu saísse viva daquela, com toda certeza cuidaria melhor da minha saúde.

Ele tossiu, o que eu agradeci, ele ainda estava vivo, e foi quando começou a dizer coisas sem sentido. "Ele não pode saber", "isso não vai ficar assim", "que merda você fez". Quem fez o quê? Ele quem? Do que ele falava? Eu não estava entendendo nada. Enquanto eu tentava pensar no que fazer, ele desmaiou e acordou assustado inúmeras vezes, nunca abria os olhos, era como se estivesse entrando e saindo de um pesadelo sem fim. Eu tentei acordá-lo algumas vezes, mas ele pareceu achar que eu era outra pessoa, dizendo sempre algo desconexo, e então desmaiando novamente. Com muito esforço consegui colocá-lo no sofá, tirei o paletó e a camisa, e se eu achei que o corpo de alguém espancado em filmes era horrível, eu não tinha palavras pra descrever o desse homem.

- Meu deus, o que fizeram com você!?

Eu estava em choque, a região das costelas, dos dois lados, era um grande borrão roxo, na altura do estômago dava pra se ver muito nítido o que parecia ser marcas de anéis, alguém com certeza o socou várias vezes ali com os metais nos dedos; seu pescoço também tinha marcas, o lado direito de seu rosto quase deformado, mas ele ainda era bonito. Eu devia estar ficando louca, trazer um desconhecido, completamente desacordado e espancado, pra dentro da minha casa e ainda o achar lindo, o que havia de errado comigo? Talvez eu estivesse achando que estava dentro de algum livro, vivendo uma fantasia, e aquilo não era real, ele não era real.

Eu não tinha noção nenhuma de como cuidar dele, e cheguei a ligar pra polícia, na verdade eu disquei o número no meu celular, mas quando ia dar início a ligação, a voz dele me veio a mente e eu travei. Porque não a polícia? Esse cara com toda certeza escondia algo muito grande, provavelmente eu estava dando abrigo a um criminoso, ou um cara sem sorte que reagiu a um assalto e apanhou até ficar desacordado, isso, achei melhor pensar que havia sido isso.

Horas se passaram e eu fiquei observando aquele corpo estirado no meu sofá, então fiz o que qualquer pessoa normal faria, limpei seus ferimentos. Ok, talvez isso não fosse tão normal assim, e a maioria das pessoas definitivamente não fariam isso, mas eu achei que seria o certo, o pobre do homem, independente de seus atos passados, era praticamente um moribundo ali, qualquer alma boa que se preze iria ajudar e foi isso que eu fiz. Comecei pelo rosto, cuidadosamente, ele sequer se mexeu quando passei o antisséptico. Senti a dor por ele, pois enquanto eu limpava, parecia que doía em mim. Fui tirando a areia de seus cabelos, basicamente dando, o que uma vez ouvi uma enfermeira dizer ser, um "banho no leito". Não me atrevi a tirar sua calça, senti vergonha só em imaginar fazendo isso, e acho que ele não iria entender se acordasse e se visse com uma calça diferente a que estava usando da última vez que esteve são. Eu, pelo menos, não gostaria.

Tentei acordá-lo inúmeras vezes durante aquele dia, estava preocupada demais. Eram quase onze da noite quando finalmente ele abriu os olhos. Que olhos. Eram de um castanho esverdeado, com um pouco de vermelho, do sangue acumulado ali pelos socos, imaginei. Pareciam confusos, assustados, ele tentou se levantar, segurei em seus ombros para que não o fizesse, ouvi ele resmungar, mas sua dor era tanta que ele não teve forças pra lutar contra mim.

- Hey, não se levante, você esta muito machucado!! - Avisei com a voz calma, tentando não o assustar mais ainda. - Eu o encontrei na praia, achei que estivesse morto!!

- O-Onde estou !? - Sua voz rouca me causou um arrepio, pelo amor, foco.

- Na minha casa, meu nome é Ayla Azad...

Ele olhava pro teto, tentando assimilar tudo o que estava acontecendo, parecia tentar encontrar em sua mente bagunçada meu nome, mas não encontrava, obviamente, não nos conhecíamos. Levou algum tempo até a confusão em seu olhar se tornar outra coisa, um misto de raiva e angústia, me fazendo querer perguntar o que havia acontecido com ele, mas julguei ser indelicado da minha parte fazer naquele momento.

- Eu sugiro que vá a um hospital, suas costelas podem estar quebradas, é um ris....

- Não. - A palavra foi proferia rudemente, me cortando, me arrepiando a nuca, e dessa vez não foi de um jeito bom, sua voz carregava algo que eu não queria saber, era carregada de uma dor e de uma raiva, que eu com certeza não queria saber os motivos. - Nada de hospital... Nada de polícia...

- Você precisa de ajuda, e eu não sei como ajudar... - Fui sincera, aquilo era demais pra mim.

- Apenas me empreste um celular.

O homem definitivamente era bonito, mas havia uma escuridão ao redor dele que me deixava completamente angustiada, era como se os urubus ainda estivesse ao redor dele, esperando. Peguei meu celular no bolso de trás do meu jeans e o entreguei, assisti ele discar alguns números e então esperar com o aparelho grudado em seu ouvido esquerdo. Quando atenderam, uma língua estranha pra mim foi proferida de seus lábios inchados, acho que era espanhol, era sexy. Por Deus, porque eu to pensando nisso? Ele é um estranho, esta todo fodido, deitado no meu sofá, o que havia de errado comigo? Algo naquele cara me despertava, não sei dizer o que exatamente, talvez fosse o fato dele ter esse ar misterioso, não fazia ideia. Minutos foram necessários daquela conversa em outra língua, me senti excluída, eu tinha o salvado dos urubus, o mínimo era me colocar no meio daquela conversa também, me deixando saber o que havia acontecido, me agradecendo. Injusto, ou só estavam evitando que eu fosse testemunha de algo muito ilegal.

- Aqui, obrigado. - Ele me agradeceu me devolvendo o celular, e então se levantou, com muita dificuldade, e dessa vez não se deu por vencido quando disse que era melhor ele se manter deitado. - Muito obrigado por sua hospitalidade, mas eu tenho que ir...

- Ir !? Como você vai à algum lugar desse jeito!? - Tentei argumentar, ele realmente não tinha condições nenhuma de ir a lugar nenhum, e no fundo eu também não queria que ele fosse. Loucura, eu sei.

- Não é seguro pra você se eu continuar aqui...

E foi nessa hora que meu chão se abriu e eu fui puxada pra dentro dele. Aquela era a confirmação que eu precisava, mas ao tê-la, fez eu querer não a ter. Ele estava metido com coisa errada afinal, se não, minha segurança não estaria em perigo, mas com o que exatamente? Minha curiosidade ainda me meteria em mal lençóis, bom, acho que já estava.

Ele se levantou do sofá, mas não conseguiu dar dois passos sequer antes que desmaiasse novamente e eu o segurasse antes que viesse ao chão. Na verdade nós dois viemos ao chão, eu não aguentei com o peso do corpo relaxado dele. Pra voltar com ele para o sofá novamente foi uma luta, eu estava cansada do dia todo velando ele, cuidando dele, tensa e com medo dele morrer a cada suspiro profundo que ele dava. Foi um inferno de dia, e agora lá estava ele, apagado novamente. Decidindo que eu precisava dormir um pouco também, joguei uma manta por cima dele, e fui pro meu quarto tomar um banho. Já era quase três da manhã, eu estava pegando no sono quando ouvi um grito, me levantei correndo, meu coração acelerado, minhas pernas sem saber muito sua funcionalidade; desci as escadas correndo, quase caí algumas vezes até chegar a minha sala. Chegando no cômodo pude ver o estranho, estava sentado no sofá, claramente ainda dormindo, gritando com meu gato, mas acho que ele não sabia que era um gato.

- Eu nunca vou dizer !! - Ele gritou mais uma vez, meu gato, Sr. Pillow, o encarava como se achasse tudo entediante. Me aproximei com cautela, ele estava sonâmbulo, não queria o assustar. - Vai se foder você e sua família de merda !!

- Hey... - Tentei com a voz trêmula chamar sua atenção, ele mantinha os olhos fechados, mas a raiva, o ódio, transpirava por cada poro de seu corpo fragilizado. - Você precisa acordar... Está seguro agora, acorde !!

Eu quis o abraçar, era claro sua dor, mas não pude. Tentei mais algumas frases, ele gritou mais algumas outras, até que finalmente abriu os olhos. Ah aqueles olhos. Eram como o mar de Malibu, extremamente lindo, e revoltado. Quando percebeu onde estava, suas bochechas rosaram levemente, não entendi bem o porque, e então ele desviou o olhar do meu, e eu senti falta. O quão estranho era eu sentir tesäo por aquele desconhecido, todo machucado e com sérios problemas? Louca. O adjetivo da palavra me caía bem, pois eu havia perdido a razão, a sanidade, e tudo por causa daquele desconhecido.

- Qual seu nome !? - Indaguei insegura, e esperei uma resposta ansiosamente.

- Não posso dizer... Não estaria segura se eu dissesse !! - Ele parecia preocupado de verdade, como se realmente fosse acontecer algo de muito ruim comigo.

- Eu te salvei dos urubus, te trouxe lá de baixo da praia até aqui, te deixei em segurança na minha casa, eu tenho o direito de saber seu nome !! - Me impor era novidade pra mim, mas até que fui bem, ou não, já que ele deixou escapar uma risadinha, seria deboche?

- Pode me chamar de Dom.

Progresso. Ele é um cara misterioso, já saquei, não vai ser fácil arrancar qualquer informação dele, e muito provável também que tenha me dado um nome falso, mas eu poderia trabalhar com aquilo. Eu estendi minha mão, um aperto formal, ele retribuiu. Seus olhos me percorreram, e um pequeno sorriso malicioso se formou no canto de seus lábios, eu provavelmente estava vendo coisas, certo?

- Você está com fome !? - Perguntei depois de alguns segundos de silêncio, ele assentiu. - Ok, que tal você tomar um banho enquanto preparo algo !?

Ele assentiu mais uma vez, então eu fui até meu quarto, peguei uma muda de roupa pra ele, voltei, o ajudei a chegar no banheiro de visitas, e o deixei lá. Enquanto preparava um lanche simples pro desconhecido, minha mente voltou naquele sorriso quase imperceptível que ele deu ao me olhar, eu me senti nua, fervendo e sem ar. Eu tinha que me controlar, eu mal sabia o nome daquele cara, e estava parecendo uma adolescente com os hormônios a flor da pele pelo rebelde da turma, que só usa preto, fuma escondido e picha a lata de lixo da escola como se fosse a coisa mais perigosa do mundo. Eu não tinha dezesseis anos, e aquele homem definitivamente não apenas fumava escondido.

Quando ele saiu do banho, foi como se outra pessoa estivesse ali. Apesar dos hematomas, seu cabelo agora estava penteado pra trás, sua pele parecia mais viva, o cheiro era bem mais agradável, e a calça de moletom com pequenas cabeças da barbie, com a camisa dos ursinhos carinhosos lhe caía perfeitamente bem.

-Obrigado por isso. - Ele agradeceu depois de dar a primeira mordida no sanduíche que eu fiz, parecia que não comia nada a séculos.

- Que me contar o que aconteceu pra eu te encontrar quase sem vida na praia!? - Tentei mais uma vez, minha voz era calma. Eu não desistiria assim tão fácil.

- Eu já disse, não é seguro pra você saber!! - Ele repetiu a fala, mas não me convenceu, eu precisava de mais.

- Apenas me diga, você matou alguém !?

- Deus, não... Claro que não!! - Ele quase se engasgou com um pedaço de pão ao ouvir minha pergunta, mas se eu iria manter aquele homem em minha casa, eu precisava de respostas. - Você vai fundo mesmo em!?

- Esta é a minha casa, minha vida, eu não posso abrigar um assassino, seria contra tudo o que acredito!! - Fui sincera mais uma vez, mas que princípios eu tinha?! Quase não vivia a vida, tudo era tão monótono, como eu poderia julgar até que ponto eu iria?!

- Ok, você esta certa.. - Ele bebeu um bom gole do suco, empurrando o resto do sanduíche em sua garganta, então continuou. - Eu não matei ninguém, mas me envolvi com pessoas muito perigosas que agora estão atrás de mim, então sim, é perigoso pra você me manter aqui, pois se eles me encontrarem, não vão ter a gentileza de te pouparem apenas porque teve a alma caridosa em me ajudar, mesmo sem me conhecer, eles apenas vão te matar, assim como a mim!!

Meu corpo travou de medo. Estávamos sentados na pequena ilha de madeira no centro da minha cozinha, um olhando pro outro, meu corpo doía com aquela informação, se ele queria me assustar, fez um ótimo trabalho. Eu estava apavorada. Eu era tão jovem, quase não havia vivido a minha vida, tinha tanto que eu queria fazer, escrever mais, viajar mais, visitar meus pais, rever os amigos, eu sei lá, eu só não queria morrer naquele momento, aos vinte e poucos anos. Por que eu tinha que salvar ele!? O que eu ganhei com isso!? Uma sentença de morte por apenas ter um bom coração.

Alguns dias se passaram, e ele ainda estava na minha casa. Eu quis o mandar embora depois do que ele me disse sobre eu praticamente ser uma pessoa morta por estar o abrigando, mas eu não pude, ele ainda estava mal, andar longas distâncias era impossível, seus machucados o limitava, e eu apenas não pude. Agora ele estava mais vivo, digamos assim, eu havia comprado alguns remédio pras suas feridas, ele estava cuidando bem, os roxos de seu corpo ganharam uma tonalidade esverdeada, mostrando o processo de cicatrização, assim como seu olho direito que já conseguia se abrir mais. Seu andar melhorou, já conseguia caminhar pela casa sem ajuda, isso era bom, significava que finalmente ele poderia ir embora. Mas eu não tinha pressa pra que isso acontecesse. Apesar de tudo, ele era gentil, inteligente, até mesmo engraçado. Ainda mantinha segredo pelas razões e motivos que o levaram até ali, mas sua companhia se tornou muito agradável, e pra mim, que sempre estava sozinha, foi muito bom o ter por perto.

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