Capítulo 2

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Fui dirigindo até o lugar que o Pedro escolheu.
Ainda estava me tremendo toda mas deu tudo certo.
Chegamos na hamburgueria que parecia ser bem movimentada.

— Se esse lugar não existisse acho que eu passava fome — ele diz enquanto entramos na hamburgueria

— Suas mitinhers jamais deixariam você passar fome.

Ele ri e fomos até uma mesa. Fizemos nosso pedido. Eu escolhi um hambúrguer de frango e o Pedro escolheu um de carne com bacon.
Uma das coisas que mudaram nesses dois meses é que eu to ensaiando pra me tornar vegetariana. Tô cortando a carne vermelha e logo vou cortar o frango de vez. Isso é muita influência dos meus amigos queridos de São Paulo. Eu não me considero uma pessoa influenciável, mas essa é uma influência do bem né?

— Você tá firme e forte no vegetarianismo.

— É flextarianismo, amor. Eu ainda como frango e-

— Flextarianismo? Meu Deus esse mundo tá perdido, não tem mais o que inventar!

Eu ri e ia dizer alguma coisa mas nossos lanches chegaram.
Comemos enquanto conversávamos sobre o assunto mais falado do momento entre o casal lurochi: as férias das Lulu pré TCC.

— Eu vou ficar uns dias em São Paulo, tipo o mínimo possível pra poder voltar logo.

— Da pra você ir logo no começo das suas férias, aí você vem pra cá e fica até acabar.

— Não! Sem chance. Eu tenho que ficar um pouco em Curitiba também com a minha mãe.

— Ah...Verdade - ele diz com um tom desanimado e eu olho desconfiada — Não, eu entendo, tá? Só que depois das suas férias vai ficar bem difícil pra gente se ver.

— Eu também queria ficar mais com você... Mas você pode ir pra lá comigo.

— Não dá pra eu parar com as lives né? E mesmo se eu fosse fazer live da sua casa, é impossível levar tudo pra lá e não tem nem espaço pra fazer live também...

— Claro que tem, a gente arruma um canto. Você pode levar um pouco das suas coisas pra fazer um setupzinho provisório.

— Não tem espaço suficiente, Lu. A gente nem sabe se dá pra fazer com a sua internet...

— Dá pra você fazer suas lives no Bruno e depois você vai ficar comigo.

— Eu dificilmente consigo fazer live com você em casa, imagina com uma Camila e um Bruno, sem chance.

— Cara...Então sei lá. Dá pra você ficar num hotel...

— Lu! Você simplesmente não tá aceitando que não dá. -ele ri

— Eu só tô tentando arrumar soluções pra você.

— Mas essas soluções não são soluções!

Ele aumenta um pouco o tom de voz e chama a atenção do pessoal que estava comendo em volta.

— Eu gosto de trabalhar em casa, no meu tempo, no meu silêncio, eu e o babis e é isso, só isso.

— Então tá. Mas olha, pode se acostumar com a gente se vendo a cada dois meses então, porque não tem condições de só eu vir pra cá.

Ele ficou em silêncio enquanto terminávamos de comer. Quando terminamos ele segura minha mão e me olha.

— Vamo' indo pra casa?

— Vamos.

Me levanto e ele se levanta logo em seguida.
Ele paga e fomos andando até o carro.
Fizemos o caminho de volta em silêncio, só ouvindo umas músicas.
Chegando em casa, coloquei meu pijama e deitei na cama. Ele se deixou ao meu lado já pronto pra
dormir também.

— Cê' ficou brava?

— Não brava. Só queria te entender.

— O que você quer entender?

— Você sempre foi pra lá, ficou dias e simplesmente você não pode mais?

— Amor, não é assim - ele chega mais perto de mim e coloca suas mãos no meu rosto — eu acabei de definir um cronograma de live e ainda tem o manikomio que eu preciso estar aqui pra gravar.

— Então você não pode reclamar de eu ficar muito tempo sem ver você.

— Tudo bem, eu não vou reclamar. Só entenda que não é porque eu quero.

— Tudo bem, mas como a gente vai fazer depois das férias se você não vai ir pra lá?

— A gente aguenta — ele acaricia meu rosto — e depois a gente pode começar a fazer planos...

— Obrigada, Pedro. É esse o ponto que eu queria chegar. — me sento na cama bruscamente — Que planos? Você quer ficar aqui e você não vai sair daqui nunca.

— E você não vem pra cá de vez por quê ? Logo você já acaba a sua faculdade. A sua mãe é bem cuidada pelo seu padrasto, você pode visitar el-

— Pedro, que que cê tá falando? Você nunca nem trocou uma palavra com a minha mãe. E acho que nunca vai trocar, né? Talvez ela nem chegue a conseguir ver você...

Meu coração aperta forte pensando na minha mãe naquele momento. Pensar que talvez ela possa parar até mesmo e de me ver. De ver o céu azul nos dias de sol que ela gosta tanto. Ela pode até acabar esquecendo com o tempo. Do meu rosto, de como as coisas são. Essa possibilidade, por mais remota que seja, me desespera muito.

— Pedro, eu acho que...Eu e você temos nossos motivos pra querer ficar onde estamos. E nenhum motivo é maior que o outro. Esse não é o ponto. Só que vai ser difícil manter esse relacionamento assim. Não tô dizendo que vai ser impossível ou que eu quero desistir, mas vai ser difícil...Já tá sendo difícil, né?

Ele suspira e senta na cama do meu lado.

— A gente sabe que não dá pra resolver isso agora, então a gente pode só...

— Ir vivendo?

— Sim. A gente pensa nisso depois, pode ser?

Dou um longo suspiro e o abraço.
De certa forma o Pedro tem razão, porém uma hora a gente vai ter que lidar com as consequências. Estamos lidando agora com as consequências de ter começado uma relação sem saber como funcionaria com a distância, e isso vai voltar pro nosso colo mais pra frente.

it's not by chance • pedro orochiOnde histórias criam vida. Descubra agora