O PAI, A FILHA E A CAIXA

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"Ele estava na cama, muito fraco, pálido... ele sabia que ia morrer ali, naquele momento. Sabendo que talvez aquela fosse ser a última vez que nós fossemos nos falar, ele não perdeu a oportunidade de me informar. Ele já estava velho e cansado da vida dura que tinha. Eram poucos momentos de alegria e muitos momentos ruins. Até aqueles que eram para ser momentos maravilhosos, se tornavam em pesadelos.

Parecia que havia chegado o seu momento de descansar daquele sofrimento, daquela... decepção. mas não antes de me dizer algo... era o meu querido pai.

Meu pai e eu moravamos sozinhos já que a minha mãe havia sido atropelada e morta por um carro no caminho ao supermercado. Meu pai era quem sustentava a casa com o seu trabalho árduo. Agora, havia chegado o seu momento de descansar.

Eu tinha 19 anos naquela época.

Naquele momento em que meu pai estava na cama de casa, ao ponto de morrer, ele tocou em um assunto o qual fez seus olhos arregalarem.

-Minha filha... me faça um último favor.- Disse meu pai com uma voz baixa e carinhosa.

-Não diga isso papai. O senhor vai sobreviver!

-Minha linda filha... por favor, para o bem de todos... abra aquela caixa...

Essas foram suas últimas palavras antes de, finalmente, descansar. Ele respirou fundo, fechou os olhos... e se foi. Naquele mesmo instante, comecei a chorar desesperadamente. Fiquei muito abalada. Eu abracei seu corpo, já falecido, ainda não acreditando que ele havia morrido. Como podia um homem tão bom como meu pai sofrer tanto na vida? Perdeu sua mulher, e no final, de tanto sofrimento, sua vida.

Por que o universo é assim? Porque as melhores pessoas tem de sofrer mais? Porque? Enquanto aqueles que são o próprio demônio em pessoa tem de viver mais do que aqueles que são bons? Foram tantas perguntas quando meu pai morreu. Mas, mesmo assim, decidi realizar o último desejo de meu pai.

Durante um ano, ele guardava uma caixa no porão, a qual ele sempre dizia para que eu não a abrisse. Sempre que ele falava aquilo, ele falava com um tom de preocupação. Desde que ele teve aquela caixa, ele começou a agir de modo estranho. Parecia que sua cabeça não estava bem. Parecia que algo perturbava-lhe e o fazia desesperado.

As vezes, eu acordava no meio da madruga, sem conseguir dormir, e escutava meu pai chorando em algum lugar da casa. Não era um choro de alegria, mas sim, de tristeza, como se tivesse perdido algum parente próximo, como se algo não estivesse certo. Muitas vezes, eu pensei em perguntar sobre o choro dele quase todas as madrugadas, mas eu nunca perguntei por ter receio de que fosse algo de que eu não devesse saber e ele ficasse bravo comigo. Todo dia, eu criava coragem a perguntá-lo sobre isso, e quando eu estava pronta, ele se foi.

Fiquei algumas horas no meu quarto, chorando, sozinha... quando lembrei do que meu pai pediu. Logo, criei coragem para descobrir o que havia dentro daquela misteriosa caixa de madeira que estava naquele porão há um ano.

Logo, desci de minha cama, fui até o quarto de meu pai, com as pernas bambas, e peguei a chave do porão que estava em uma gaveta de madeira que encontrava-se no quarto de meu pai e, então, me dirigi até a porta do porão e a abri. Desci as sombrias escadas daquele escuro porão, acendi as luzes, olhei para a caixa, que estava ao meu lado direito, me dirigi até ela, e a destranquei com a chave.

Quando abri a caixa, fiquei muito surpresa e confusa ao mesmo tempo ao me deparar com o que havia em seu interior. Dentro da caixa havia uma garrafa de vidro com um líquido preto e, pelo visto, viscoso, dentro dela, e ao lado dessa garrafa, havia uma carta amarela. A carta parecia que já estava um pouco velha. Suspeitei que a carta fosse de meu querido pai.

O Pai, a filha e a caixaOnde histórias criam vida. Descubra agora