Capitulo 1 - O Convento

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Sentia o frio da minha barriga tomar conta do meu corpo quando pude ver que a carroça estava finalmente desacelerando, estaria chegando em meu destino em breve, meus pensamentos se afundavam entre minha nova vida, minha antiga vida e como estava as coisas em casa. 

Um caos, acredito.

Eu, Roseanne Park, nunca havia chorando tanto em minha vida desde que tive que me despedir de minha irmã, mãe e pai, eles eram tudo para mim, meu pai foi doce ao ouvir meu pedido de se tornar uma freira, por não querer casar, tudo o que ele havia me dito era que me compreendia, e que ele estaria apoiando e negociando com seus patrões para me colocar em um convento. 

Ele conseguiu, eu consegui.

Desde pequena nunca pude deixar de imaginar meu futuro, toda vez que tentava enxergá-lo mais de perto ele se distanciava de mim, como se fugisse de mim, como se...eu nunca pudesse vivê-lo além de minha imaginação.

Não conseguia me ver formando uma família, tudo o que eu via era solidão, eu não conseguia amar ninguém, e meu pai nunca me venderia a um simples dote para qualquer homem que vinhe-se oferecer uma fortuna, minha irmã, Alice, conseguiu encontrar o amor da sua vida com 16 anos e se casou logo em seguida, isso já era considerado até tarde para uma moça da idade dela, hoje em dia, ela havia se tornado uma mulher incrível aos 21 de idade, para infelicidade da mesma, nunca poderá ter filhos naquele meio tempo, ocasionou-lhe tantas situações tristes e embaraços, mas aquilo nunca havia tirado seu brilho interno, e o marido dela nunca deixou de amá-la.

Me perguntava, me perguntava todos os dias se eu daria a sorte de encontrar alguém tão bom assim, nunca veio para mim, agora, eu estando com 17 anos, quase beirando o décimo oitavo aniversário,  estava sozinha, nunca fui extremamente cobrada por minha família, mas o lado de fora.. 

Os desconhecidos, pessoas que se quer sabiam meu nome, começavam boatos de que eu era uma bruxa que enfeitiçava meu próprio pai para que ele não se aceita-se os generosos dotes de ouro que lhe eram oferecidos para pedir minha mão em casamento, minha mãe começou a ficar preocupada que isso se estendesse para além daquela pequena aldeia e alguém vinhe-se atrás de mim, foi quando ela me sugeriu me tornar uma freira, alguém que dedicaria a vida ao divino e seria eternamente pura até os dias de minha morte.

Era o melhor a se fazer, para fugir de tudo aquilo, fugir de mim mesma, talvez.

Sinto a carroça dar uma parada brusca com o ricocheto do cavalo, olhei para o lado direito daquela paisagem meio cinza, não havia muita natureza perto, havíamos chegado, enfim, a frente, havia uma enorme igreja com uma cruz de pedra em no topo e meio da construção, tudo feito de pedras e com detalhes em mármore, alguns bancos de madeira estavam posicionados no pátio junto a uma fonte com águas translúcidas, um lugar sem muitas cores, mas realmente grandioso de aparência. 

Coloco meus pés para fora agradecendo capataz que foi designado a me levar até aqui, minha antiga aldeia era longe do que poderíamos chamar de centro da aglomeração de comerciantes e pessoas, aqui era feito apenas para pessoas que ganhavam dinheiro ou garantiam propriedades, terras por aqui.

Puxo minha enorme mala com o braço para caminhar timidamente até a entrega do lugar, um homem que estava a frente como se já me esperasse me levou até a madre daquele lugar, que me explicou sobre horários, funções, devoções e qual seria minha função durante minha estadia.

— Bom, você ainda não pode ser titulada como freira, você será noviça até sua consagração, e aí sim, você poderá se tornar uma freira, não se preocupe, enquanto servir e ser devota ao nosso Altíssimo dará tudo certo. — Diz a senhora com uma certa rouquidão na voz, assenti com a cabeça, imaginando quantos anos aquela senhora deveria ter. — Vou te levar até o quarto, tera que dividi-lo com outra noviça, sua função será deixar a igreja limpa enquanto as outras freiras estarão cuidando das crianças, também temos o coral às duas horas da tarde e culto toda sexta-feira, aos domingos, temos reunião com o padre, mas ele está de viagem até a terra vizinha então você demorará para conhecê-lo, talvez uns bons 2 meses. — Disse a senhora enquanto me escoltava para o quarto, tinha algo em seu tom de voz que não pude captar, mas não era tão bom, senti meus braços se arrepiarem. — Fique a vontade, noviça Rosé.

A madre voltou pelo caminho que veio quando finalmente havia me deixado sozinha, lentamente, abro a porta do quarto e vejo o lugar, era simples, havia duas camas, uma mesa de cabeceira para cada uma, e uma enorme comoda de madeira escura para acomodar as roupas e bagagens, 3 gavetas grandes para cada, certo.

Abri uma por uma vendo que já havia 3 ocupadas, não pude deixar de dar uma espiadinha nos pertences da minha nova colega de quarto, mas não pude mexer ali, apena observar, havia algumas mudas de roupas coloridas e alguns petisco e acessórios.

Fechei as gavetas já ocupadas e abri minha mala que havia praticamente as mesmas coisas que tinha visto na gaveta, roupas, comidas de viagem, acessórios e sapatos, sabendo que eu ganharia algum uniforme obrigatório trouxe realmente apenas algumas das minhas roupas.

Desfiz minha mala e me sentei um pouco na cama pensando no que faria daqui para frente, se eu dormiria até o amanhã vir e começar minhas funções, ou se eu chorava por nunca mais poder fazer nada de diferente, os dois estavam em um bom caminho na minha visão.

Ouço a porta se abrir e uma sombra feminina entrar, olho na direção da mesma e vejo a garota olhando para mim brevemente assustada:

— Oi, não sabia que você já tinha chegado. — A mesma me olhava sem graça. — Se instalou bem aqui? — Perguntou receptiva.

Pisquei os olhos duas vezes, observei seu vestido preto de mangas que ia até o chão com um cordão de cruz de madeira em seu pescoço, então esse era o uniforme..

— Não tínhamos que esconder o cabelo? — Perguntei interessada.

A garota de primeiro momento pareceu confusa com a pergunta repentina, mas logo se recompõe.

— Só após viramos freiras e fizermos o voto de castidade, teremos que cortar bem curto ou raspá-los de uma vez, estarei cortando curto, claro, seu cabelo é muito bonito. — A mesma diz de forma espontânea enquanto se aproximava, toco em meu cabelo ao pensar que tenho que cortá-lo, eles sempre haviam sidos enormes, fiz um bico ao acarência-lo.

— Me chamo Lalisa Manobal, mas me chame apenas de Lisa, e você? — Perguntou a mesma estendendo a mão. 

— Me chamo Roseanne Park, me chame de Rosé. — Ofereci um sorriso sem mostrar os dentes apertando sua mão de volta, o frio na barriga havia voltado.

— Bom, eu terminei de limpar a igreja por hoje, estou desde cedo fazendo isso, estou morta, ter sua ajuda vai me deixar muito feliz. — Falou Lisa se jogando em sua cama com a mão na cabeça.

Sorri francamente, era bom ter alguém falante, me lembrava um pouco meu cunhado, ele era extrovertido e minha irmã muito quieta, eu os admirava de verdade.

— Quanto tempo já esta aqui? — Perguntei me ajeitando na cama, estava usando um vestido usual azul de camponês, já havia retirado os calçados então apenas me estiquei na cama. 

— Acho que uma semana, não tenho certeza, é tedioso, acredite, não, quer dizer, a não ser você tenha realmente vindo aqui pelo chamado de Deus. — Disse Lisa envergonhada, ela ainda não sabia que tipo de gente eu era, ri baixinho pensando se ela me achava algum tipo de fanática religiosa.

— Penso o mesmo que você, vim aqui apenas por que estava com medo de me casar. — Confessei ocultando a história de ser acusada de bruxaria. 

Lisa se levantou rapidamente da cama, de repente animada, um brilho apareceu em seus olhos.

— Eu também, vim contra a vontade do meu pai, mas minha mãe cuidou de tudo. — A mesma sussurrou como se compartilhasse um segredo. 

— Meus pais me apoiaram, já estava falando...coisas. — Disse de forma desconfortável.

Lisa assentiu em compreensão, entendendo perfeitamente a situação.

E assim passamos a tarde nos conhecendo, não pude deixar de notar o quanto era parecida com Lalisa em alguns quesitos, e quanto foi fácil começa a confiar na mesma, gostaria de ter a companhia dela para não me sentir tão solitária, e eu realmente não estava mais sozinha.

Deus, como é brutal aqui fora. - Brutal, Olivia Rodrigo.

Convento ➵ ChaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora