A porta é bruscamente aberta e ouço alguém adentrar a delegacia aos berros, falando tão rápido que mal consigo entender nada além de algumas palavras.
Pelo visto hoje vamos começar cedo.
Me levanto no mesmo instante de minha mesa e observo a mulher olhar para todos os cantos do escritório, procurando desesperadamente por ninguém em específico. Seja lá pelo que acabou de passar, não foi pouca coisa. Balanço levemente a cabeça para Morgan sinalizando para que deixasse comigo e me aproximo dela aos poucos. Seus olhos ávidos se viram em minha direção e ela volta falar freneticamente. Agora em sua frente, noto como seu corpo inteiro treme e me sinto mal por ela no mesmo instante. O que aconteceu com você?
A mulher continua a falar tropeçando em suas próprias palavras enquanto gesticula e eu ainda não conseguia entender nada por completo, não me restando nada a fazer a não ser interrompê-la.
- Certo, certo. Perdão, mas preciso que se acalme para que possamos ajudá-la. Está ferida?
Mantenho minha voz calma conforme falo e ela concorda com a cabeça, engolindo em seco e respirando uma única vez pela boca.
Morgan aparece com um copo de água e a mesma agradece, mas ainda não bebe, como se não fosse tão importante se acalmar antes de dizer o que precisa.
Ela respira mais uma vez e volta a falar, mais devagar dessa vez.
- Não, não estou machucada mas... um homem... acabou de atirar em várias pessoas no parque central. Vim o mais rápido que pude, eu perdi meu celular e ele... Eu o vi pegar a arma mais uma vez antes de sair. Mas a essa altura já deve ter fugido e matado mais pessoas.
Sua voz embarga no final da frase mas vejo quando contrai seus lábios e pisca rapidamente, se contendo.
Morgan e eu trocamos um olhar e ele sai em disparada para avisar aos outros.
- Vou logo atrás de vocês!
Grito para que ele me ouça antes de sair com o resto da equipe mas é Ellie quem responde.
- Não, fica com a garota e descubra quem é o descon. Ela o viu, chama o cara do retrato falado e nos encontra depois!
Antes que eu possa responder qualquer coisa, eles vão para as viaturas, me deixando ali.
Me viro em direção à mulher e ela finalmente bebe a água, noto que suas mãos ainda tremem.
- Você acha que consegue responder a algumas perguntas agora?
Ela concorda com a cabeça e vira todo o copo.
- Desde que isso ajude a achar o desgraçado.
A acompanho até a sala de interrogatório com um sorriso amigável, na intenção de deixá-la confortável com minha presença. Ela não retribui, o que eu já esperava dada a situação em que se encontra. Indico com a mão a cadeira e ela se senta em silêncio, enquanto eu ligo para Joe, o responsável por fazer os retratos falados. Assim que desligo, resolvo entender melhor o que aconteceu enquanto espero Joe chegar, então me ajeito na cadeira e quebro o silêncio.
- Acha que já está pronta para contar tudo que aconteceu?
A observo remexer em seus dedos enquanto pensa em como começar, ela ainda está em choque, por isso decido deixar as coisas um pouco mais confortáveis.
- Perdão, qual o seu nome?
A garota ergue o olhar em minha direção e noto que seus olhos são de um tom acinzentado que eu nunca havia visto antes, também percebo que não estão marejados como geralmente os das vítimas estão quando chegam aqui. Já havia notado isso quando ela se recompôs ao chegar no escritório, é como se ela se recusasse a chorar apesar de estar visivelmente apavorada.
- Lauren.
- Tudo bem, Lauren. Sou o Spencer, Spencer Reid.
Ergo a mão em sua direção e a vejo intercalar o olhar entre minha mão e meu rosto por uns bons segundos, como se estivesse questionando se sou mesmo confiável. Estaria tão em choque a ponto de não confiar nem nos policiais? Começo a ficar inquieto, me perguntando se deveria ou não ter sugerido um toque como cumprimento e quando considero retirar, ela finalmente leva sua mão até a minha, a apertando de leve.
Seu toque é frio, mesmo que esteja uns trinta graus lá fora. Assim que abro a boca para lhe oferecer um casaco, Lauren solta minha mão e finalmente diz.
- Ok, chega disso. Vamos começar.
Fico surpreso com a mudança repentina, e minha mente paranoica já começa a se questionar se deveria suspeitar dela, o que logo descarto já que se Lauren tivesse algum tipo de envolvimento, teria sido mais esperta do que isso, vindo até aqui onde nossa especialidade é análise comportamental. E aliás, não identifiquei nenhum traço de psicopatia nela nesse tempo em que está aqui, aparentemente, só é alguém com aversão a demonstrar emoções extremas em frente a outras pessoas, mas as emoções existem, o que não é uma realidade para psicopatas.
- Dá pra parar de me analisar? Eu já disse, estou pronta para falar.
Pisco algumas vezes e contraio os lábios, me ajeitando na cadeira meio sem jeito por ter me distraído e por ter sido pego no flagra. Mas me recomponho e aceno com a cabeça.
- Tudo bem, pode começar.
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Marked - Spencer Reid
FanfictionComo poderia o pior dia de sua vida lhe trazer exatamente o que faltava nela? Lauren estava no lugar errado, na hora errada quando seus olhos captaram todo o horror que acabara de se instalar à sua volta. Os gritos, as pessoas, todo o caos quase a i...