O primeiro dia de aula já tinha começado com uma certa expectativa, mas Lucas chamou a atenção de todos assim que entrou na sala. Vestido todo de preto, com o cabelo igualmente escuro e bagunçado de propósito, ele se destacava facilmente entre os outros alunos. Sua postura era relaxada, mas carregava um olhar que parecia observar tudo com intensidade, sem se dar ao trabalho de interagir com ninguém. Ele parecia inatingível, e isso, de certa forma, me incomodava.
Ao sair da sala para o intervalo, fui pega de surpresa. Lucas, de repente, apareceu à minha frente no corredor, me encurralando de forma quase intimidante. Havia algo em seu jeito - confiante demais, com um toque de arrogância - que me fez parar no lugar.
- Anne, né? - Ele pronunciou meu nome com uma voz rouca, e aquele olhar penetrante me encarava sem vacilar.
- Sim... - Respondi, ainda processando sua abordagem abrupta.
- Você parece saber bastante sobre o que acontece por aqui. - Ele falou, inclinando-se um pouco mais perto, o tom desafiador, os olhos sombrios me analisando.
- Eu? O que você quer dizer com isso? - Perguntei, tentando manter a calma, mas sentindo uma pontada de nervosismo com sua aproximação repentina.
Ele ignorou minha pergunta, exibindo um meio sorriso.
- Ouvi dizer que você e seus amigos sempre se encontram no café depois das aulas. Estou certo? - Sua expressão era de pura curiosidade, mas também algo mais, algo que eu não conseguia decifrar completamente.
- Sim, às vezes nos encontramos lá. - Falei devagar, tentando medir o que ele realmente queria com aquilo.
- Quem são seus amigos? - Ele perguntou, cruzando os braços de maneira relaxada, mas mantendo a postura confiante. - E o que vocês fazem lá?
A pergunta soou casual, mas seu olhar fixo em mim me dizia que havia mais por trás do que ele estava perguntando.
- São apenas colegas da escola... A gente conversa, toma café. Relaxa. - Tentei soar tranquila, mas sua proximidade e o jeito como ele me encarava me deixavam tensa.
Mais tarde, como se estivesse cumprindo uma promessa não dita, encontrei Lucas no café. Sem pedir permissão, ele se juntou a nós, e a energia ao redor da mesa mudou de imediato. Ele trazia consigo uma aura magnética - o tipo de presença que exigia atenção, mas sem fazer esforço para isso.
As conversas fluíram naturalmente, mas Lucas mantinha aquele toque de mistério e sarcasmo em cada palavra. Mesmo enquanto discutíamos coisas banais, como filmes e livros, havia um leve desafio em suas falas, como se ele estivesse sempre testando os limites de quem conversava com ele.
- Já foi ao parque da cidade? - Sugeri, tentando puxar assunto. - É um dos meus lugares favoritos para relaxar e ler.
Lucas inclinou a cabeça, mostrando um interesse sutil, mas genuíno.
- Ainda não. - Ele respondeu, com aquele olhar intenso. - Mas adoraria conhecer.
- Podemos ir algum dia, se quiser. - Propus, sentindo uma mistura de empolgação e nervosismo.
- Talvez. - Ele sorriu de canto, deixando a proposta no ar, enquanto se levantava para sair, lançando um último olhar desafiador antes de ir embora.
Na escola, Lucas continuava a ser um mistério. Sempre sozinho, vagando pelos corredores com aquele ar de quem não pertencia a lugar nenhum, mas ao mesmo tempo parecia dominar o espaço ao seu redor. Um dia, decidi tentar outra abordagem.
- Ei, Lucas. Tudo bem? - Perguntei, me aproximando devagar.
Ele olhou para mim, seus olhos revelando por um breve momento algo mais suave antes de ele voltar à sua máscara usual de indiferença.
- Anne, certo? - Sua voz era baixa, controlada.
- Isso. E aí, tá gostando da escola até agora? - Tentei iniciar uma conversa leve.
Ele deu de ombros, sem entrar em muitos detalhes, mas sua resposta não me afastou. Na verdade, só me deixou mais determinada a conhecê-lo melhor.
- A gente pode te mostrar uns lugares legais por aqui, se quiser. - Ofereci, esperando conseguir quebrar mais uma de suas barreiras.
Ele me observou em silêncio por um momento, como se estivesse avaliando minhas intenções, antes de responder com um leve aceno.
- Quem sabe. Obrigado, Anne. - Sua resposta foi curta, mas havia um toque de sinceridade que me deixou curiosa.
Conforme os dias passavam, a imagem de Lucas se tornava cada vez mais intrigante. Ele era um quebra-cabeça complexo, mas eu estava disposta a continuar tentando montá-lo. E, aos poucos, ele parecia começar a deixar que eu visse uma ou outra peça de quem ele realmente era.
Em uma tarde depois da escola, finalmente conseguimos ir ao parque da cidade. Enquanto caminhávamos, Lucas parecia mais à vontade do que nunca, seus olhos observando calmamente as árvores ao redor.
- Esse lugar tem algo de especial. - Ele disse, sua voz soando diferente, quase relaxada.
- É por isso que eu gosto tanto daqui. - Respondi, sorrindo, sentindo que, pela primeira vez, estávamos realmente nos conectando.
Lucas assentiu, seus olhos fixos no horizonte.
- Obrigado por me trazer aqui, Anne.
Aquelas palavras, ditas de forma simples, mas com tanta sinceridade, me fizeram perceber que, por mais complicado que fosse, Lucas era mais do que apenas o garoto misterioso da escola. Ele era alguém com camadas profundas, e cada vez que eu conseguia desvendá-lo um pouco mais, sentia-me mais envolvida por sua presença.
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Esperando por você
Romance|16+| Reescrevendo Em uma trama repleta de emoção e dilemas familiares, "Esperando por você" mergulha nas vidas entrelaçadas de dois jovens lutando para encontrar seu espaço no mundo. Anne, uma artista talentosa, é atormentada pela pressão de sua f...