Capítulo único

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Rhaenyra caminha entre os corredores, passos pequenos, seu peito pesado, punhos fechados, tentando avidamente se manter firme. Tinha acabado de sair de uma reunião do conselho onde recebeu a notícia que Harwin havia morrido queimado em sua própria casa.

Seu coração batia dolorosamente dentro do seu peito. Queria gritar e chorar. Mas não podia fazer nenhum dos dois e isso doía tanto.

Se arrependia de não ter escolhido ele como seu esposo, esse sentimento aparecia com tanta frequência nos últimos anos. Se tivesse sido ele tudo seria mais fácil, ninguém questionaria a paternidade de seus filhos, ela poderia amá-lo e ele amá-la com liberdade também. Não teriam que se contentar com alguns momentos ou olhares rápidos.

Era divertido às vezes, mantê-lo em segredo, era apenas dela, pequenos sorrisos em público, beijos roubados entre os corredores, jantares a luzes de velas, conversas noturnas e os momentos com as crianças, eles eram uma família, ele era um membro secreto, apenas Rhaenyra, Leanor e ele sabiam, eram um trio e tanto.

E agora tudo isso acabou.

Harwin era suave, carinhoso, cavalheiro e também podia não ser se Rhaenyra assim desejasse, dependendo da ocasião, ele seria o que ela quisesse, ele a amava, a adorava, protegia a mulher de tudo e todos. Eles se entendiam por olhares, não precisavam de tantas palavras, mas conversavam tanto. Harwin era seu segundo melhor amigo, podiam conversar sobre tudo. Era também um bom pai, que teria sido um pai ainda melhor se isso fosse permitido.

Doeu saber que Joffrey nunca conheceria Harwin, e o homem que quando soube da gravidez ficou tão feliz, acompanhou tudo de perto e também esperava ansioso pela chegada da criança, teve que ir embora sabendo que não veria o bebê crescer e agora não verá mesmo. Nunca o conhecerá, nunca saberá o que os meninos dos três será daqui a alguns anos.

Respirou fundo para conter as lágrimas. Como queria deixá-las rolarem. Mas seu pai pediu para que ela fosse vê-lo em seus aposentos.

Rhaenyra rezava aos deuses que fosse algo rápido, queria ir para o quarto e chorar, se permitir sentir a perda do seu amante.

Balançou a cabeça afugentando todos os pensamentos onde ele estava, não podia deixá-lo vê-la desmoronar, seria um caos, todos já desconfiam do seu relacionamento, sobre seus filhos com Harwin, a verdade traria consequências terríveis e quem sofreria mais seria seus queridos meninos.

Só de pensar nisso fez seu estômago embrulhar e seu coração bater um pouco mais rápido.

Os guardas abriram as portas do quarto e a deixaram entrar.

Agradeceu quando não viu Alicent ali, não queria vê-la, sempre tão inconveniente e tentando ao máximo colocar seu pai contra ela e nunca conseguindo. Quase parece que nunca foram amigas na juventude, boas amigas.

- Olá querida. - seu pai acenou da cama, ele já estava em suas vestes para dormir e muito aconchegado em sua cama.

- Olá papai - a platinada se aproximou sentando-se ao lado dele na ponta, se inclinando para beijar sua cabeça. - O que é tão importante para mandar me chamar tão tarde? - perguntou gentilmente acariciando a mão do seu pai, seu corpo cada vez pior, a doença está lhe matando, o decompondo, era doloroso olhá-lo e não poder fazer nada.

- Minha mão morreu e seu filho também, esse dia está horrível não acha? - ele perguntou, tristemente. Rhaenyra abaixou a cabeça por um segundo, implorando por compostura, para não revelar sua dor. Quando voltou a levantar, evitou o contato visual, apenas balançando a cabeça em concordância.

- Eu sinto muito pelo senhor strong ele era uma boa mão do rei. - lamentou roboticamente, torcendo para parecer sincera, mas não tão abalada.

- Ele era - concordou tocando o ombro tenso da filha. - Vá em frente minha doce menina, chore.

- O que? - piscou surpresa, seus lindos olhos violetas arregalados.

- Chore, papai está aqui. - disse suavemente apertando a mão de Rhaenyra. Claro que seu pai sabia, todos sabiam, mas ele fingia que não via, Viserys não se importava, ele ama seus netos e ama ainda mais sua filha, fecha os olhos e finge demência para qualquer coisa que Rhaenyra fizer.

Ele é pai e sempre vai proteger sua menininha. Também é rei e vai usar seu poder para garantir que ela não sofra enquanto estiver vivo. Nunca deixaria machucarem ela.

Olhos violetas se encontram. E é o suficiente para fazer a platinada desabar. Ela inspira e expira, uma respiração trêmula, seus lábios se contraem e um soluço escapa. As lágrimas se libertam, nada a impede agora.

Rhaenyra deixa sair toda a dor que está sentindo, a angústia que está em seu coração, a afundando, destroçando seu coraçãozinho. Viserys a puxa para seu peito a deixando chorar ali. Sua mão sobe e desce nas costas da sua garotinha.

- Eu o amava papai - declarou entre soluços.

- Eu sei. - beijou a cabeça dela.

Desejou poder tirar a dor da filha, tirar toda a sua tristeza e tomar para si. Mas como não podia, mesmo como o rei. Fez o que estava ao seu alcance, a manteve perto e a deixou despejar tudo, sabendo que sua menina não poderia fazer isso a não ser que fosse sozinha. Foi condenada a sofrer sozinha pelo bem das suas crianças.

Nunca deixaria Rhaenyra sozinha.

Errada ou certa.

- Eu sei querida.

I loved him dadOnde histórias criam vida. Descubra agora