The Old Grain Mill

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POV Amity
"Príncipe, Herdeiro, Junior... - O irmão caçula de Luz já havia disparado dezenas de nomes para sua lesminha de estimação - King Junior! É, essa é genial".
"Caramba... - Puxo o elástico do pompom a fim de amarrar o cabelo mais firmemente - Como tudo foi acabar assim?"
"Começou errado, King. - A Noceda mais velha sorri para o jovem irmão - Steve. Isso sim é um bom nome".
"Não, é o pior nome para o meu sapo".
"Filhote de lesma". - Corrijo-o.
"Obrigado, Super Mestra Linguística". - King suspira aborrecido.
"Linguista".
"Você é insuportável!" - Luz gargalha da fala do menininho.
"Olhe para si, 'pimentinha'!" - Retruco, debochando de sua atual aparência.
"Eu continuo bonitão..."
"Espera! - Luz Noceda coloca a mão transparente sobre a boca ossuda de King, mas a mão ectoplasmática atravessa a matéria - Onde estamos?"
Olho em volta e o corpo translúcido da garota a nossa frente refletia o ambiente fantasmagórico, uma coruja assustadora empoleirada em sua árvore observava nosso caminho. Os esquilos apoiados nos galhos pareciam usar gravatas borboleta, tão estranho.
"Na mata... - Responde o moreno - Indo para casa".
"Acho que estamos perdidos. - Pontuo, observando o meio em que nos encontramos - Devíamos ter feito uma trilha".
"Eu vou fazer uma com os doces de Halloween". - King comia as balas e deixava somente o papel no chão. 
"Isto não é uma trilha! Você só está sujando o chão, papel voa". - Afirmo irritada.
"O que foi isso? - A castanha se arrepia ao ouvir galhinhos quebrando - Será que é algum maníaco com um machado no meio da floresta, esperando criancinhas para cortar?"
"Por favor, Luz. - Reviro os olhos - Você está assistindo filmes humanos demais".
Filmes... Humanos? O que há comigo?
"Eu disse isso mesmo? Credo".
"Amity, acho que você não é mais tão humana assim agora". - Luz diz pensativa, olhando desconfiada para todos os lados da floresta.
"Isso mesmo. - O pequeno se aproveita da fala da irmã - Você tem tempo de perceber que Luz é um fantasma e eu, um malandro sombrio; mas não descobriu que é uma elfa?"
Começo a tocar a base das orelhas, ainda redonda e normal, porém, ao subir pela extensão sinto-as ficando pontudas.
"Ah meu... - Suprimo o grito ao ouvir o barulho na mata se intencificar - Eu sou um elfo!"
"Bruxa. - Uma mulher de cabelos azulados segurando um cajado, emerge por entre dois arbustos - Você é uma bruxa, assim como eu".
"Senhorita Lilith! Que bom encontrá-la". - Ela era a policial que nos seguiu até cairmos no rio e também foi a responsável por minhas aulas de defesa pessoal.
"É agradável vê-la, Amity. - Sorri gentil - Onde está Edalyn? Aquela irresponsável colocou vocês nisso, não é?"
"Não fale assim da Eda!" - King defende sua professora favorita.
"É, ela só nos acompanhou até o cemitério para ficar de olho na gente. - Luz completa - Adolescentes fazem isso: besteira! A culpa foi nossa de querer contar histórias de terror no cemitério".
"Certo... - Fala baixinho - Ainda tinha esperança de talvez achá-la com vocês".
"Eda sumiu?" - O Noceda menor agita a cauda felpuda.
"Não exatamente..." - Lilith aperta um pequeno lampião junto ao peito.
"Onde estamos, Lilith?" - Indaga Luz.
"Ah, claro. - Ela começa a caminhar, gesticulando para que a sigamos - Bem-vindos ao Desconhecido".

Chegamos rapidamente a uma casa grande e velha, constituída inteiramente de madeira, interligada com um antigo moinho de grãos.
"O que é esse lugar?" - Questiono intrigada.
"Um velho moinho que eu adaptei para auxiliar no meu trabalho. Todos têm que queimar sua lenha... - Clawthorne joga algumas madeiras dentro da máquina - Para o lampião queimar, preciso do óleo das árvores tenebrosas de Edenwood".
"Não foi isso que eu quis dizer..." - Continuo.
"Não deviam caminhar pela floresta daquele modo. A fera anda por lá. - A mais velha adverte - Sempre cantando sua melodia deprimente, em busca de almas perdidas, como as suas".
"Para nos levar de volta para casa?" - Pergunta Luz, inocentemente.
"Não! Nunca para ajudar. - Recita Lilith, de forma amarga - Tenho que trabalhar no moinho agora, quando voltar, farei o possível para guiá-los, se ainda estiverem aqui".

"Não confio nela". - King reclama.
"Eu acho que também não..." - A Noceda maior concorda triste.
"Se ela quisesse nos matar, já teria feito. - Penso racionalmente - Lilith não carregava um machado, apenas aquele bastão. Se ela diz que somos bruxas, então quer dizer que ela parte aqueles troncos super grossos com magia. Talvez eu possa..."
Observo o jeito que ela usa as mãos para formar círculos azuis e brilhantes que faziam as barras de madeira arrumarem-se em fila.
Tento formar as mesmas circunferências com a ponta do dedo indicador, mas o brilho avermelhado gera uma brasa de fogo que me faz titubear e cair no chão.
"Amity!" - Luz tenta aparar minha queda, esquecendo da ausência de seu corpo.
"Ai! - Solto uma interjeição de dor e surpresa - Esquece, não vai dar certo".
"Onde é que foi o Príncipe?" - King vasculha a sala em busca da lesminha verde.

POV King
"Ah, vamos! Fala sério, Principezinho. - Procuro meu bichinho de estimação do lado de fora da cabana - Você está brincando comigo?"
Vejo uma movimentação suspeita nas moitas perto do ermo da floresta, me aproximo do som até ouvir o barulhinho que Príncipe faz quando está rastejando na madeira.
"Droga, essa lesma está brincando comigo. Ninguém faz o Rei dos Demônios de bobo!"
Pulo dentro do barril em que o Príncipe está, pego o pequeno com minhas "patinhas", é difícil se acostumar com minha nova forma.
"Achei você, seu fujão. - A melodia aterradora de um uivo nos atinge assim que caio no fundo do barril - Olá... Luz? Futura esposa da Luz? Eda?"
Uma coisa enorme se choca contra o corpo cilíndrico, sacundindo a mim e meu animal de estimação.
De repente um lobo gigantesco coloca os olhos redondos e multicor na abertura do tonel.
"Você tem olhos lindos. - Tento soar gentil - Quem é o demoniozinho do papai?"
A criatura rosna ferozmente, enfiando a cabeça imensa pelo buraco da barrica.

POV Luz
"Nunca vai funcionar, Luz!" - Amity declara.
"Mas se você tentar de novo..."
"Depois, Luz. - Responde determinada - Primeiro vamos embora daqui, Lilith está demorando muito. E aliás, cadê o King?"
"Galera, corre!" - O garoto entra intempestivamente no cômodo e foge para a janela mais alta da sala.
"Por quê?" - No instante em que Amity interroga, um lobo monstruoso e aparentemente insano passa pela porta encostada.
"Fujam! Eu vou distraí-lo". - Começo a provocar o lupino com danças e gracinhas, me aproveitando do corpo fantasma.
Amity segue King e pula a janela. Fora da casa Lilith segue a balbúrdia até o casarão ao lado do moinho.
"O que aconteceu?" - A mais velha pronuncia-se.
"Acho que ele seguiu a trilha de papéis de bala, e depois a mim. - King diz apático - Quando estava procurando meu sapo".
"Lesma!" - Discute Amity.
"Vocês querem fazer o favor de ir rápido? Acho que ele já está entediado". - Aponto para o canino.
"Tudo bem, deixa co..." - Clawthorne não completa a fala ao ser arremessada na parede pela cauda do lobo.
"Senhorita Lilith! - Blight corre para ajudar a mulher desmaiada - Ele nocauteou ela, Luz".
"Droga! - Exclama a Noceda, parando na frente da criatura - Fique longe deles!"
"Eu tive uma ideia. - King enxuga a testa suada - Vamos jogá-lo nas engrenagens do moinho".
Olho assustada para Amity que parece concordar com King; num entendimento tácito, os dois pegam seus doces de Halloween que haviam escondido e jogam nas roldanas que giravam com o fluxo do rio.
O lupino saltou atrás das guloseimas, ficando preso entre o giro das polias. A criatura pareceu engasgar e cuspiu uma minúscula tartaruga negra que saiu andando lentamente.
"Olha só! - Berrou King, abraçando o cachorro que o lobo se tornou - Agora ele é meu demônio de estimação. Quem é meu novo melhor amigo?"
"O melhor amigo do homem". - Amity debocha, acariciando o pelo do galgo.
"Ah, não! O moinho... - Lilith despertara - Está destruído! E o óleo... Ele se foi".
"Nós sentimos muito... - Me aproximo das garrafas quebradas que suportavam a substância escura que queimava no lampião - Mas pelo menos resolvemos o problema da fera".
"Aquele cachorro? Ele não é a fera! - Esbraveja a Clawthorne - A fera não pode ser controlada como um mascote! Ela espreita, como a noite. Canta, como os quatro ventos. Ela é o fim da esperança... E rouba aquilo que mais importa; ela vai destruir... Vai destruir".
É isso aí, Lilith enlouqueceu de vez. Amity parecia preocupada.
"Senhorita Clawthorne..." - Blight toca o ombro dela.
"Vão embora. Sigam para o norte, encontrem uma cidade. - Conclama com pesar - Cuidem uns dos outros".
King segura sua lesma e é o primeiro a partir, seguindo o rio. Acompanho meu irmão, para não perdê-lo de vista.
"Amity, você vem?" - Chamo-a estendendo a mão, mesmo sabendo que ela não poderia tocar.
"Quando descobrirmos como sair desse lugar, voltaremos para ajudá-la, senhorita Lilith. - Amity promete, soltando sua professora e correndo para se posicionar ao meu lado - Vamos, Luz. Vamos embora daqui".
"Atenção ao desconhecido, crianças. Cuidado com a fera... - Avisa Lilith - E saiam da mata, este é o seu fardo".
Amity observava tudo pelo canto dos olhos, gostaria de poder tocar seu ombro, passar-lhe algum conforto.
"Acho que temos um trabalho". - Brinco com o contexto e ela ri suave.

POV Amity
"Sabe, gente. Estive pensando em um novo nome para a nossa lesma. - King pensa alto - Vou chamar de Luz".
"Isso seria muito confuso". - Luz explica.
"Não, porque eu vou te chamar de Príncipe".
"O quê? Então vou começar a te chamar de 'cabeça dura'!" - Implica a Noceda maior.
"Legal. Boa ideia, Luz". - O mais novo cumprimenta.
"Obrigada".
"Eu não falei com você, eu falei com a Luz".
Não posso evitar de gargalhar com a disputa entre os irmãos, e também, de corar com o pensamento de Luz Noceda ser realmente um príncipe encantado ou um cavaleiro que sempre tenta salvar todo mundo... Que droga, Amity.

Memories - Lumity.Onde histórias criam vida. Descubra agora