Não ficou sabendo?

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Tzuyu costumava se atrasar ao sair da república. Na verdade, quase sempre era a última a sair do quarto e a última a chegar em sua sala. Ainda que tivesse que sair de sua cama quentinha para ir aquela maldita faculdade aturar a mais nova coordenadora de seu curso, vulgo Kim Taeyeon, Tzuyu ainda encontrava alguma disposição. Mas naquela manhã em específico, qualquer disposição havia ficado embaixo dos cobertores. Sua única felicidade era saber que precisaria suportar apenas mais um único dia antes do período de férias, ainda que não fosse um dia qualquer, afinal, era tradição, o último dia do semestre costumava ser o mais caótico.

Antes de seguir até seu inferno particular, Tzuyu lembrou-se de passar em uma cafeteria para pegar o latte de sempre, até porque, não se atreveria a ir até a cafeteria da faculdade e dar de cara com Sana. Não depois do climão entre elas na noite passada.

No entanto, ao chegar aos portões da faculdade, Tzuyu notou algo estranho, o suficiente para não passar despercebido. Muitos, mas muitos olhares espantados.

A Chou olhou para a própria roupa, ajeitou o cabelo, olhou para a tela do celular, garantindo que não havia nada de errado com seu rosto ou sua aparência. Mas sabia, aqueles olhares curiosos só podiam significar uma coisa. Fofoca.

Continuou caminhando, tomando seu latte, como se nada estivesse acontecendo. E talvez aquela fosse a melhor forma de agir. Porém, Tzuyu sentiu suas pernas tremerem ao ver Kim Dahyun dez passos à frente, a aguardando de braços cruzados.

Com um sorriso frouxo, Tzuyu aproximou-se.

— Feliz último dia, Dahyun. — a castanha tentou disfarçar seu desespero ao vê-la.

— Feliz último dia — a Kim respondeu sem entusiasmo. — Cadê o meu dinheiro, Chou?

— Posso pagar na próxima semana?

— Eu vou precisar penhorar seus bens ou dar uma lição sinistra em você?

— Olha, eu adoraria ceder um dos meus bens. Mas adivinha? Não tenho nenhum.

— Então é melhor ir passando o meu dinheiro. — Dahyun estendeu a mão. — Agora, Chou!

Tzuyu respirou fundo. Não poderia estar mais decepcionada. Era o dinheiro para o segundo latte do dia, e ainda pior, a metade do dinheiro para o aluguel. Mas naquele momento, era mais vantajoso ficar sem o latte e sem pagar o bendito aluguel do que se meter com Kim Dahyun e correr o risco de ter sua vida arruinada até o último dia na Terra.

Inconformada, Tzuyu virou-se, de modo que conseguisse alcançar o último bolsinho da mochila. Tirou dali um pequeno bolo de notas, logo o entregando para Dahyun, que o pegou com um grande e vitorioso sorriso.

— Agora vê se me deixa em paz.

— Oficialmente livre de mim. — Dahyun apressou-se em guardar o dinheiro, antes que Tzuyu a enrolasse mais uma vez. — Está tudo bem com você? Tem lidado bem com aquilo?

— Acho que sim. — Tzuyu deu uma generosa golada no latte, já quase frio, mas então se deu conta de algo. — Aquilo o quê?

— Você sabe.

— Eu sei?

— Claro que sabe! — Dahyun retrucou. — Nunca fiz parte daquela idiotice de fã clube criado pela Myoui. Mas sempre achei você e a Minatozaki um casal bonitinho.

— Espera, espera. Muita informação junta.

— A questão é que você está passando por um daqueles momentos da vida em que só resta aceitar a dor e se afundar nessas porcarias. — Dahyun apontou para o latte. — Quase um vício.

— É pedir demais me explicar o que está acontecendo? — Tzuyu pediu, ou melhor, implorou.

— Eu sei que não vai ser fácil no início. Levar um chifre é algo complicado. — Dahyun deixou suas mãos sobre os ombros da Chou. — Mas você parece ser forte, então vai superar essa fase.

— Chifre?

— Você sabe, Tzuyu, todo mundo já sabe.

— Santa paciência! — Tzuyu exclamou. — Eu não acredito que estou parada no meio do pátio sendo consolada por Kim Dahyun por causa de um chifre justo no último dia de aula. Deus definitivamente tem seus preferidos e eu nunca estive no meio!

— Você está em negação — Dahyun falou, logo olhando para os lados, como uma gangster experiente faria. — Mas se precisar, eu conheço umas pessoas que podem dar um susto no fulaninho que dormiu na casa da sua garota. Só preciso de uns cinco dias para organizar tudo.

Tzuyu sentiu seus braços ficarem fracos, a ponto de soltar o latte sobre o chão. Ouvir aquilo definitivamente havia sido o pior, mais desastroso e mais insuportável momento de todo o semestre.

— Ela dormiu com ele? Com o Taemin?

— Aquele fulano jantou e tudo na casa da Minatozaki, parece até que vão oficializar o namoro. Não ficou sabendo? — Dahyun perguntou, intrigada. — É literalmente o assunto do dia.

— Não, não, eu não acredito nessas fofocas.

— Mas é sério, essas informações saíram em um blog novo. Fizeram ontem uma matéria destruindo a reputação da Minatozaki com as palavras mais ofensivas que eu já vi em toda a minha vida. Eu já disse, se quiser dar um susto nele, é só me falar e eu resolvo.

Tzuyu mal acreditou no que ouviu. Já sabia onde ir, com quem falar e o que fazer se aquela desvairada não engolisse palavra por palavra do que disse sobre Sana.

— Park filha da puta Jihyo, eu vou acabar com você!

Sem qualquer expressão, Tzuyu saiu caminhando, prestes a socar o primeiro que se colocasse à sua frente. Não teria tempo para os olhares chocados de todos ao seu redor. Tinha assuntos pendentes para tratar com a Srta. Park.

Poderia procurá-la em qualquer canto daquela faculdade, afinal, Park Jihyo sempre estava ocupada demais cuidando da vida alheia ou fotografando alguém sem permissão para posteriormente soltar mentiras na internet. No entanto, Tzuyu sabia que no último dia de aula, ela não perderia a chance de soltar alguma bomba na porcaria do jornal da faculdade. Ela só poderia estar na redação, escrevendo alguma bobagem.

Tzuyu não pensou duas vezes, foi até lá, abrindo a porta de modo impaciente, adentrando a sala como um demônio. Caminhou até a Park, já agarrando a camisa da garota, puxando-a para perto.

— Agora você passou de todos os limites, Jihyo!

— Eu? — a Park se contorceu em sua cadeira, completamente confusa. — Olha aqui, ô corna mansa, me solta ou eu vou fazer um escândalo, e eu grito mais que uma gazela!

— Você publicou sobre a Sana e o Taemin. Disse que ele dormiu na casa dela, mas eu tenho certeza que isso é mentira. Ela não faria uma burrice dessas!

— Sobre o quê? — Jihyo arregalou os olhos.

— Tudo bem que a Sana é um pouco desesperada e meio idiota às vezes, mas não faria algo assim, eu tenho certeza!

— Não, não, não! — Jihyo negou. — Eu não tenho nada a ver com isso. As matérias mais lidas do meu blog e do jornal da faculdade são sobre você e Sana. Por que eu publicaria uma merda dessas sobre o casal que meus seguidores idolatram?!

Pensativa e, totalmente estressada, Tzuyu soltou Jihyo sobre a cadeira, que rapidamente ajeitou a blusa social, alinhando-a para o local correto.

— Alguém anda inventando mentiras sobre ela — Tzuyu lamentou, sem saber o que fazer para ajudar a Minatozaki. — A pessoa tinha essa informação, de que ela e o Taemin teriam um encontro ontem a noite.

— Tá, mas você deve saber quem é a tal pessoa.

— Se eu soubesse não teria vindo atrás de você! — Tzuyu esbravejou, sentando-se na primeira cadeira que viu pela pequena sala. — Dahyun disse que a matéria saiu em um blog novo. Mas se não é seu, de quem é esse lixo difamatório?

Ela tá TÃO na sua! [SaTzu]Onde histórias criam vida. Descubra agora