Car's Outside | ONESHOT | FANITA

01 | DECISÃO

FABRÍCIO AZEVEDO

Desperto com o som irritante do celular na mesinha de cabeceira, anunciando que logo mais terei que pegar outra ponte aérea e eu ainda nem desfiz a mala da última viagem, olho para o lado só para confirmar o que já sabia, ela continua encostada na parede, intacta.

Solto um suspiro. É sempre assim: chega, sai, chega, sai.

Sinto meu coração apertar ao lembrar que estou prestes a deixar Anita mais uma vez.

Me viro para encarar ela. Anita está adormecida, os cabelos espalhados por todo travesseiro, a observo por mais um tempo. Preciso acordar a mulher que deixa a minha vida mais incrível, porque eu preciso ir mais uma vez. A rotina me chama, mas tudo hoje me convida a ficar.

- Ei.. Anita - sussurro acariciando suas costas com cuidado para não assustá-la - preciso me levantar. Já, já preciso ir.

Ela se mexe, me abraça como se sua vida dependesse disso.

O calor do seu corpo ao meu se transforma em um lembrete cruel de que, mais uma vez, vou deixá-la sozinha.

- Fabrício, não vai, fica comigo - sua voz frágil me atinge como um soco.

Fecho meus olhos, buscando uma força para dizer o que é preciso. A cada despedida me sinto mais cansado de viver assim.

- Você pode desligar esse despertador? - ela murmura com a voz embargada - quero continuar dormindo.

Tudo que eu queria era ter o poder de parar o tempo e ficar com ela.

- Ei, eu preciso me arrumar para ir - digo, enquanto afasto seus cachos do rosto. Mas quando vejo sua expressão mudar de tranquila para angustiada, sinto uma pontada de dor. Anita está chorando.

Me levanto da cama, mas meus pés parecem presos ao chão. Não consigo afastar o olhar dela. Ela se senta, os olhos suplicando para que eu não vá. Há algo acontecendo e eu não estou sabendo.

- Fabrício, não vai por favor, fica comigo. Você tá indo embora sempre eu... eu...

Anita não consegue completar a frase, minha mente começa a girar. Passo a mão pelo cabelo, frustrado, tentando processar tudo.

- Sabe, eu também estou cansado em te amar de longe. - mnha voz sai mais dura que planejei - Mas ai eu penso que estamos prestes a casar, e tem a coisa toda do financeiro pegar... mas também, porra, como vamos viver uma vida de casados se eu não vivo aqui? - Sento na ponta da cama, sentindo o peso do que estou falando. A chuva lá fora bate contra a janela, mas tudo que ouço é meu coração acelerado.

Viro meu rosto em direção a minha noiva, e não há como disfarçar o quanto amo essa mulher e perderia a minha cabeça fácil por ela. Não posso continuar assim, preciso tomar uma decisão para resolver essa situação.

- Só tem uma saída... - começo, tentando encontrar as palavras, mas sou interrompido.

Anita se aproxima rapidamente, colocando a mão na minha boca. Seus olhos estão cheios de pânico, e meu coração quase para

- A gente não vai terminar, Fabrício!

Mal posso acreditar no que ela pensa. Com um sorriso finjo morder a palma de sua mão, tentando dissipar o medo que está em seus olhos.

- De onde você tirou que eu ia terminar? - rio suavemente - Anita, eu ia dizer que a solução é eu ficar onde você está. Aqui do seu ladinho, sem mais esses "até logo" eternos. - pego sua mão, entrelaçando nossos dedos, beijo no dedo que está o anel de noivado, volto minha atenção para seu olhar - Sabe, quando você me olha assim com esse brilho nos olhos, eu percebo o quão sortudo sou, porque nem Paris que você tanto ama e é conhecida como a cidade da luz, consegue ser mais brilhante que o seu olhar para mim. Eu te amo Anita.

Ela deixa escapar um suspiro trêmulo, seu rosto começa a suavizar a tensão.

- Eu te amo Fabrício! - Anita pega minhas mãos, guiando até sua barriga e continua a falar - Na verdade, nós te amamos!

Escuto tudo abafado, minha cabeça gira ao assimilar toda a informação. Anita está grávida. O carro que me espera lá fora, o compromisso, as viagens... tudo desaparece em um piscar de olhos. A única coisa que importa é a minha família.

- Anita - ela levanta os olhos, que estão cheios de esperança e medo, aperta minhas mãos, e o brilho de seus olhos, confirma o que eu já sabia, mas precisava ouvir - Eu vou ser pai?

- Sim, você vai ser pai. - sua voz saiu em um sussurro.

- Eu... eu me sinto em um sonho. Mas eu não sei se posso ser o pai que ele merece. - minha voz sai tremula me traindo e me deixando completamente frágil na frente de Anita.

- Fabricio, eu sei que você será um pai incrível a gente vai enfrentar todo esse drama de desejos às três da manhã, choros sem saber o motivo e todas essas coisas de gravidez e sobre sermos pais. Eu te amo, sei que vamos conseguir um jeito de fazer dar certo. - com as mãos ainda segurando as minhas, Anita me olha com um sorriso caloroso.

Sentindo toda a profundidade do que ela está dizendo. A certeza de que não há mais nada certo que viver as preocupações e dúvidas que ainda estão aqui. Ficar é o certo.

- Eu te amo, Anita. E prometo, vou fazer o melhor que puder para nós três.

Anita sorri, e o sorriso ilumina o quarto mais do que qualquer luz poderia. Ela encosta em mim, a abraço apertado, sentindo o calor e o amor que há entre nós.

Pego Anita nos braços, levantando-a, ela solta uma risada surpresa, a coloco delicadamente em meu colo. Seus braços envolveram meu pescoço e nossos olhares se encontram em uma troca de promessas silenciosas sobre o nosso futuro.

Envolvido em tanta alegria começou a girar lentamente. Anita ri, um som contagiante, enquanto giramos. Eu a aperto mais um pouco e percebo que nossos corações batem em sintonia.

- Não consigo acreditar que vamos ter um bebê.

Dou um beijo em Anita e falo:

- Também não consigo acreditar - sem tirar o sorriso do meu rosto - mas eu estou feliz por estarmos vivendo juntos.

Nossos lábios se juntam e ficamos ali presos em nosso mundo.

O carro lá fora, continua me esperando sob a chuva, essa é uma preocupação tão distante. Nesse momento, a única coisa que importa é estar aqui, ao lado dela, construindo o nosso futuro.