família fora do comum

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- bom, senhor choi e senhor yoon, os senhores foram chamados aqui porque seu filho infelizmente começou uma briga quando bateu com o caderno na cabeça de um coleguinha...

o olhar de desaprovação que ambos lançaram para o menino após a fala da diretora pareceu não atingir a criança de oito anos, que agora estava sentada no canto da sala com os braços cruzados e um bico emburrado nos lábios.

- podemos saber o motivo da briga? - seungcheol perguntou, o braço agora cruzado e uma feição nada feliz, se assemelhando a expressão de minghao.

- ele não quis falar nada desde que a professora separou a briga. - a diretora lamentou. - os senhores precisarão assinar aqui. - estendeu-lhes um papel. - o pequeno minghao pegou três dias de suspensão para repensar seus atos.

os dois homens assentiram e pediram desculpas a diretora pelas ações do filho. ambos levantaram e seungcheol segurou a mochila do mais novo enquanto jeonghan segurava a mãozinha do filho ainda emburrado, sussurrando apenas um "em casa a gente conversa" para a criança enquanto caminhavam até o carro.

ambos os adultos estavam no mínimo confusos.

minghao nunca foi uma criança agressiva, pelo contrário, o máximo de raiva que já viram do filho foi uma vez que ele ficou bravo com o papai cheol porque ele quebrou sem querer sua boneca barbie favorita, mas logo em seguida a criança pediu desculpas e sentou no chão de pernas cruzadas e olhos fechados em uma espécie de meditação.

outras vezes já viram o filho estressado por não conseguir falar ou ler alguma palavra em coreano, mas bastava um carinho do papai cheol na cabeça e um minuto respirando com calma com o pai han que a criança já estava bem para tentar novamente.

e foi isso. a raiva do filho nunca durou mais de dois minutos, mas agora a criança estava no banco de trás do carro com a cara fechada e parecendo que a qualquer momento começaria a gritar.

até ignorou as tentativas dos pais de fazê-lo falar sobre o seu dia ou o que aprendeu na escola hoje até o momento que ambos os pais desistiram e deixaram o carro cair no silêncio.

assim que chegaram em casa, seungcheol estacionou o carro e segurou a mão do filho, o guiando até o quarto do mais velho enquanto jeonghan ia até a cozinha pegar um copo de água.

quando jeonghan chegou no quarto, encontrou seu marido sentado na cama com seu filho ao colo, acariciando-lhe os cabelos enquanto falava alguma coisa baixinho.

jeonghan sorriu e sentou-se na cama também, estendendo o copo de água ao filho.

- o que você acha de beber a água, se acalmar e ai contar pro pai e pro papai o que aconteceu, hm? - a criança negou. - não quer?

- não. - pegou o copo de água com as duas mãos e bebeu um pouco. - o pai e o papai vão ficar bravos comigo. - minghao falou, a raiva agora sendo substituída por tristeza.

- oh, não vamos não, haohao. - o mais velho ali falou, colocando para trás um pouco do cabelo da criança que caia em seus olhos. - você não é agressivo, filho, a gente quer saber o que aconteceu.

os três ficaram em silêncio por um tempo, as mãozinhas da criança agora deixando o copo vazio de lado e começando a mexer na aliança do dedo do pai han.

- vocês sabem que o dia das mamães está chegando, né? - os mais velhos assentiram, já conseguindo imaginar o rumo da conversa. - um menino da minha sala começou a zombar de mim perguntando quem eu presenteava no dia das mães se eu não tenho mãe.

os pais se olharam e suspiraram, entendendo o lado do filho.

quando adotaram minghao, a três anos atrás, imaginaram que em algum momento isso poderia acontecer, mas assim que botaram os olhos em minghao tiveram tanta certeza que aquele era seu filho que estavam dispostos a mover mundos e superar qualquer coisa para fazê-lo feliz.

minghao chegou no orfanato quando tinha apenas três aninhos. filho de pais chineses imigrantes, foi deixado no orfanato porque os pais não tinham condições de dá-lo uma vida confortável.

jeonghan e seungcheol já estavam na fila de adoção a três anos. o processo de adoção - que já era difícil - se tornou ainda pior por serem um casal gay, mas apesar de tudo, nunca desistiram e, quando minghao completou cinco anos, conseguiram adotá-lo.

no começo foi difícil, além de toda a parte burocrática, minghao era uma criança muito calada e assustada, mas nada faria ambos desistirem.

tendo respectivamente a profissão de modelo e advogado, jeonghan e seungcheol tinham condições o suficiente para dar uma vida luxuosa a criança. começaram a levá-lo em terapia infantil e pagaram um professor chinês nativo para dar-lhe aulas de coreano. além disso, não querendo afastá-lo da próprio cultura, ambos começaram a ter aulas de mandariam, todo fim de semana levavam a criança em restaurantes chineses, todo ano faziam uma viagem à china e faziam questão até de aprenderem brincadeiras chinesas para brincarem junto ao pequeno.

durante alguns meses até tentaram contato com os pais biológicos de minghao caso esses quisessem ter algum contato com a criança, mas parece que ambos tinham se mudado de volta para a china e o contato ficou difícil. entretanto, deixaram claro que se quando minghao crescesse decidisse ter contato com os pais biológicos, fariam o possível e impossível para achá-los.

a adaptação foi difícil para os três no começo, mas jeonghan e seungcheol sentiam que valeria a pena. cinco meses após a adoção, choraram muito quando minghao passou a chamá-los de "pai" e "papai" em um dia de sábado após passarem o dia brincando no enorme quintal da casa.

agora, três anos depois, sentiam-se orgulhosos pela maneira que criaram minghao e felizes por minghao considerá-los seus pais assim como ambos consideravam minghao seu filho.

- e ai você bateu nele? - jeonghan perguntou, deixando a criança tirar e botar a aliança em seu dedo.

- não. - negou, soltando a mão do pai. - eu ignorei e tentei respirar que nem o pai ensinou, mas aí ele continuou e eu fiquei irritado. eu não entendi por que ele estava falando aquilo. eu já tenho dois papais, eu não preciso de uma mãe! - deitou a cabeça no peito de seungcheol. - me desculpa.

os mais velhos tentaram esconder o sorriso orgulhoso após ouvir a fala do filho. óbvio que não compactuavam com a atitude e sabiam que alguma criança dizer algo homofóbico era apenas um reflexo do que a criança devia ouvir dentro de casa. entretanto, sentiam-se felizes ao ouvir o filho dizer que não precisava de uma mãe, pois apesar de tudo, não sabiam o que passava na cabeça da criança e não sabiam como ele se sentia vendo os colegas terem uma mãe e ele não.

- você sabe que não se deve bater em ninguém, não é, meu amor? - o pai perguntou e minghao assentiu, de bico e olhinhos fechados.

- o papai e o pai não ligam pra comentários assim, meu filho. você não precisa ligar. um monte de crianças não tem mães ou não tem pais, algumas por motivos diferentes do seu, e sermos uma família fora do comum não faz de nós errados.

- eu sei! mas foi errado o que ele falou! - a criança levantou a cabeça, o sotaque ficando mais forte conforme ele ficava mais irritado. os pais riram da carinha fofa do filho.

- eu sei, príncipe. - seungcheol deitou a cabeça do filho no peito novamente, acariciando sua cabeça para acalmá-lo.

- vamos fazer assim, o pai vai marcar uma reunião com o papai e a mamãe desse colega e a diretora da escola pra gente conversar e isso não acontecer novamente. pode ser?

- pode. - murmurou, embora ainda estivesse um pouco emburrado.

- a gente te ama, filho. - jeonghan falou e ambos os pais deixaram um selar na cabeça do filho, fazendo a criança sorrir.

- eu também amo vocês, pai e papai.









nota:

eu tenho várias outras histórias, se você gostou dessa, dê uma olhada nas outras!! :D

pai e papai; jeongcheolOnde histórias criam vida. Descubra agora